*Por Rodrigo Rollemberg
Ícone da arquitetura moderna, Brasília conecta-se
com design e arte desde a inauguração, abrigando múltiplas experiências. Essa
trajetória nos anima hoje a lançar a candidatura de Brasília à Rede de Cidades
Criativas, da Unesco, na categoria design, e desejar interagir com o seleto
grupo de 116 cidades de 54 países.
Criada há 13 anos, a rede se estrutura em sete
áreas criativas: artesanato e artes folclóricas, artes de mídia, cinema,
design, gastronomia, literatura e música. Curitiba, uma das cinco cidades
brasileiras integrantes da rede, foi aceita em design. A gastronomia garantiu a
presença de Florianópolis e de Belém. Salvador foi reconhecida pela música, e
Santos, por cinema.
As 116 cidades compartilham o compromisso de
priorizar a criatividade como fator impulsionador do desenvolvimento
sustentável, da inclusão social e da cultura. Objetivos que dialogam com a
Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 e a Nova Agenda Urbana.
No caso de Brasília, integrar a Rede de Cidade
Criativas permitirá olhar para os desafios da preservação deste patrimônio
cultural da humanidade de modo a ampliar a inclusão e a sustentabilidade por
meio do incentivo ainda maior ao desenvolvimento da economia criativa do setor
design.
Brasília tem história no design. Nasceu rompendo
com os padrões arquitetônicos da época e ganhou notoriedade com as curvas, o
concreto, os grandes espaços vazios das obras do arquiteto Oscar Niemeyer. O
projeto urbanístico de Lucio Costa foi consagrado patrimônio cultural da
humanidade pela própria Unesco, 30 anos atrás, título inédito para uma cidade
tão jovem.
À arquitetura monumental e ao traçado urbanístico
agregam-se variadas criações que dão identidade a Brasília, a exemplo das
superquadras do Plano Piloto, das tesourinhas nas vias de acesso às residências
e aos comércios, das placas de sinalização urbana, dos cobogós que arejam e
iluminam os prédios residenciais enquanto produzem efeitos curiosos de luz e
sombra, dos painéis do artista plástico Athos Bulcão.
O artista até hoje instiga visitantes que,
propositalmente, querem conhecer seu trabalho popularizado em azulejos ou transeuntes que se deparam com sua obra espalhada por fachadas ou
interiores de prédios. Quem passa pelo Eixo Monumental a pé, de bicicleta ou em
um veículo, avista uma das suas principais contribuições numa lateral inteira
do Teatro Nacional. Outros tantos espaços públicos (a Igrejinha, a Câmara dos
Deputados, o Palácio do Planalto, o Itamaraty, a Universidade de Brasília) tiveram
o privilégio de contar com alguma intervenção de Athos.
Igualmente integradas à paisagem urbana, as placas
de sinalização de Brasília são criação genuinamente candanga, assinada pelo
arquiteto Danilo Barbosa, funcionário do governo de Brasília que usou linguagem
minimalista e conceitos para cores e sentido das setas, de rápida compreensão
por pedestres e motoristas. Enche-nos de orgulho ver uma réplica desse conjunto
compor o acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa).
Brasília é fruto da inspiração de grandes homens,
mas também é fonte de inspiração a designers independentes e coletivos de
criadores que se apropriam de elementos simbólicos da paisagem urbana
brasiliense para produzir novos objetos e múltiplas linguagens. Estão ganhando
mercado com móveis, joias, suvenires, moda, filmes, músicas.
Em quatro anos, a partir da chancela da Unesco, o
Governo de Brasília investirá recursos e criará políticas públicas específicas
para impulsionar ainda mais tais iniciativas promissoras e toda a cadeia de
economia criativa do design.
Os investimentos impactarão a qualidade de vida da
população, que se relaciona de forma diferenciada com a cidade e está ávida por
novas experiências. Deixou de ser algo puramente contemplativo. As pessoas
apropriam-se de espaços públicos e os transformam em destino de lazer e prática
de esportes. O Setor Comercial Sul, por exemplo, sempre foi referência,
principalmente como centro econômico da cidade. Com a revitalização em curso, o
SCS é vivenciado também como ponto de cultura.
Entretanto, a experiência mais revolucionária na
forma de o cidadão interagir com a cidade é a ocupação pública da orla do Lago
Paranoá. Demos passos decisivos, retomando áreas públicas indevidamente
ocupadas às margens do lago e instalando infraestrutura inicial, como o
recém-inaugurado Parque dos Pioneiros Claudio Sant'Anna e ciclovias no
Lago Sul. O próximo investimento será na área conhecida por piscinão
do Lago Norte e, em breve, lançaremos concurso internacional para seleção
de propostas de intervenções inovadoras, com transformações urbanas e sociais,
ao longo de 38km de orla.
De novo, recorremos a concurso público, instrumento
consagrado na escolha do projeto urbanístico do Lucio Costa e empregado também
neste governo para execução de várias políticas públicas. Essa ferramenta de
governança se aglutina às constantes consultas públicas para incorporar a voz
da população ao desenho dos projetos urbanos.
Exemplo de construção participativa de uma política
pública na cidade, o Plano de Turismo Criativo é produto de 12 oficinas, dois
seminários e sete encontros para reposicionar Brasília como polo de turismo
sustentável. Precisamos de novo do engajamento da sociedade civil e da
iniciativa privada. Desta vez, na defesa da candidatura de Brasília como cidade
criativa do design. Compartilhe essa ideia.
(*) Rodrigo
Rollemberg - Governador de Brasília
Foto: Bento Viana - Ilustração:
Blog