Lúcia Willadino Braga
Presidente
da Rede Sarah Kubitschek
Ao propor a criação do Instituto Hospital de Base,
o governo Rollemberg apresenta como parâmetro de sucesso o modelo a gestão da
rede Sarah Kubitschek. Essa comparação é pertinente?
Não me parece pertinente. São situações muitos
distintas. A Rede Sarah é nacional, conta com 9 hospitais, atende a 1 milhão e
meio de pacientes por ano, não temos pronto-socorro, os nossos hospitais são
quaternários, não podem ser comparados a um hospital geral de grande porte com
serviço de emergência como é o caso do HBDF. Consideramos sempre saudável o
debate público sobre modelos diferenciados para a gestão na saúde, visando o
melhor atendimento da população. Se tivéssemos sido consultados a respeito do
projeto, nossa sugestão seria que um novo modelo fosse implantado em uma
unidade de menor porte, em caráter piloto, e não no Hospital de Base. O HBDF é
a grande referência em urgência e emergência no DF e na região do Entorno,
contando com profissionais altamente qualificados.
Qual é a principal diferença entre a gestão do
Sarah e o modelo proposto pelo GDF para administração do Hospital de Base?
Li o projeto de lei para a criação do Instituto.
Ele contém apenas 3 artigos copiados da lei federal nº 8.246 de 1991 que criou
a Associação das Pioneiras Sociais /Rede Sarah de Hospitais, talvez porque
sejam realidades muito diferentes. No nosso contrato, temos um sistema muito
mais rígido de compras e seleção pública, ambos construídos em conjunto com o
TCU e posteriormente auditados anualmente por eles e aprovados. Nosso contrato
é de cinco anos, o do DF propõe 20 anos. Nossos profissionais são contratados
pelo regime da CLT, mas nossa lei previu assegurar a previdência privada. Não
vi menção à aposentadoria no projeto do Base. Enfim, são legislações e normas
muito diferentes, talvez em função de diferentes perspectivas. A implantação da
nossa lei consolidou algo que já funcionava com nossos princípios, recursos
humanos e estrutura física. Nossa Associação era a antiga Fundação das
Pioneiras Sociais, para melhorar a gestão e transformar em rede nacional foi
aprovada no Congresso Nacional a lei que previa o primeiro contrato de gestão
do país, mas não houve nenhuma mudança estrutural relevante. Significou a expansão
de um modelo de saúde que já vinha sendo estudado e aplicado. Foi um processo
de dentro para fora. O modelo não se reduz a uma Lei ou contrato, o modelo
Sarah foi se desenvolvendo, aprimorando e consolidando ao longo de muitos anos
e precisa continuar a se aperfeiçoar.
Qual é a sua opinião sobre esse projeto em
discussão na Câmara Legislativa que discute a gestão do Hospital de Base com
mais liberdade para contratações? É o caminho para melhorar o atendimento ao
cidadão ou há outras formas?
A liberdade de contratação de compras, por exemplo,
pode ser um mecanismo que venha a ajudar a agilizar um pouco a gestão. Esta
liberdade, no entanto, depende de normas de licitação muito claras, de muita
transparência e competência no uso dos recursos. Quando se trata de dinheiro
público, não se pode falar muito em “liberdade”, é preciso ter muita
responsabilidade e mecanismos de transparência e governança que permitam a
sociedade e aos órgãos controladores acompanharem a gestão, e nos ajudarem a
aprimorá-la. A gestão é muito maior do que a contratação, não adianta ter
agilidade para comprar medicamentos, porém não ter um excelente controle de
estoque e deixar que percam validade ou faltem no estoque. Quanto à contratação
de pessoal, nossa experiência mostra que quanto mais exigente, melhores serão
os profissionais e consequentemente o funcionamento da unidade
hospitalar.
Por que a Rede Sarah alcançou níveis de excelência
e é considerada um modelo de sucesso?
Trabalhamos com base em princípios filosóficos, que
estão afixados nas paredes de todas as nossas unidades que são ligados à
qualidade, humanismo e respeito ao patrimônio público. Todos os profissionais
são admitidos por seleção pública de alto nível, depois fazem um período de
três a seis meses de treinamento para homogenizar o conhecimento, entender os
princípios e se integrar a um modelo realmente interdisciplinar que leva a uma
melhor qualidade de atendimento. Não há terceirizações, áreas como higiene,
segurança, copa e cozinha, lavanderia são todas compostas de pessoas aprovadas
por seleção pública e treinadas, todos são respeitados como profissionais de
saúde. O fato de, por exemplo, um auxiliar de higiene fazer uma formação
entendendo o que são vírus, bactérias, etc, podendo ver no microscópio, ajuda a
manter a infecção hospitalar muito baixa. Todos trabalham em dedicação
exclusiva, o que permite maior integração, maior compartilhamento de saberes e
maior dedicação a cada pessoa atendida por nós. A valorização do trabalhador e
o cuidado com a satisfação dele também é um ponto forte, porque se a pessoa
trabalha feliz atende o paciente melhor. Outro ponto fundamental é a
informatização. Nossa Rede de Hospitais implantou o prontuário eletrônico desde
1996, e informatizamos todos os sistemas de informação hospitalar e de gestão
de materiais, estoques, compras, enfim, temos mecanismos de governança e
transparência muito fortes, o que permite maior eficácia e eficiência na
aplicação dos recursos públicos.
Por Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” – Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press- Correio Braziliense
Respeito humanitário, excelente, isso é verdade. Mas esse mesmo tratamento ocorre quando se trata dos funcionários? Tratamento humanitário para pacientes e funcionários, todos dentro da esfera do H.Sarah, isso sim seria exemplar!
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