Acusação contra Rogério Rosso foi feita pela Andrade Gutierrez - Para preparar
sua defesa, o deputado, citado nas investigações, requereu ao STF a íntegra dos
documentos que vinculam seu nome. Ele nega qualquer envolvimento em
irregularidades na obra do Mané Garrincha
*Por Ana
Viriato
Horas após a deflagração da Operação Panatenaico,
que investiga um rombo milionário nas obras do Estádio Nacional Mané Garrincha,
o deputado federal Rogério Rosso (PSD-DF) requisitou ao Supremo Tribunal
Federal (STF) acesso à íntegra dos documentos que vinculam seu nome a
irregularidades — a Corte, porém, ainda não emitiu uma decisão. Segundo delação
premiada do ex-executivo da Construtora Andrade Gutierrez Rodrigo Ferreira
Lopes, um emissário pediu à empreiteira, em nome do ex-governador — que assumiu
mandato tampão em 2010 —, propina de R$ 12 milhões. O deputado nega qualquer
envolvimento com o esquema e afirma que as citações são “caluniosas e
ofensivas”.
O STF divulgou um depoimento da empresa, no
entanto, há outras delações sob sigilo. Na petição inicial entregue à Corte,
Rogério Rosso requer “vistas dos procedimentos apuratórios em que,
eventualmente, figure como investigado ou tenha seu nome citado como suposto
envolvido em atos ilícitos”. Apesar da citação, a Procuradoria-Geral da
República ainda não pediu autorização ao STF para investigar o deputado
federal.
Em depoimento, Rodrigo Ferreira Lopes alegou que,
em 2010, houve uma reunião na casa de Rosso, então governador, para a condução
de discussões relativas ao andamento da licitação da arena esportiva. À época,
ele teria designado André Motta, que estava à frente do ramo de Parcerias
Público-Privadas (PPP) do governo, para conduzir as tratativas.
Ainda naquele ano, o delator relata que uma pessoa
“de fisionomia clara e calva” compareceu ao escritório da Andrade Gutierrez
para, em nome de Rosso, pedir os R$ 12 milhões. A proposta, no entanto, teria
sido rejeitada pela empreiteira. Posteriormente, André Motta teria requisitado,
também em nome do ex-governador, R$ 500 mil em valores indevidos.
Segundo o depoimento, a construtora quitou o valor
em 2011, após a assinatura do contrato referente ao Mané Garrincha, quando
Rosso já havia deixado o Executivo local. O responsável pelo pagamento seria
Carlos José de Souza, outro executivo da Andrade Gutierrez, cuja delação
permanece em sigilo.
Rodrigo Ferreira Lopes ainda afirmou que a Via
Engenharia, segunda integrante do consórcio responsável pelas obras, deveria
pagar o mesmo valor, mas não sabe dizer se a quitação ocorreu.
Atualmente, devido à indicação do PSD, partido de
Rosso, André Motta é presidente do Postalis, instituto de previdência
complementar vinculado aos Correios. Antes disso, porém, ele ocupou outros
cargos públicos em Brasília, graças ao apadrinhamento político. Esteve no
comando da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan); foi secretário-adjunto
da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico, da Agência de Desenvolvimento
Econômico e Comércio Exterior e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
Defesa
Em nota, Rosso negou as denúncias e disse estar
profundamente consternado e indignado com o que classifica como “mentiras,
citações caluniosas e ofensivas” envolvendo seu nome. E acrescentou: “A
licitação da obra da arena já estava em andamento, com análise e avaliação
pelos órgãos de fiscalização e controle e, apenas mediante autorização, houve
continuidade no certame pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap),
responsável pela obra e por seus desdobramentos administrativos técnicos e
administrativos”.
Em nota enviada pela assessoria do Postalis, André
Motta negou as acusações e informou que “já está tomando as medidas judiciais
cabíveis com relação ao caso”.
Memória - Rombo de R$ 900 milhões
Deflagrada em 23 de maio, a Operação Panatenaico
investiga um sobrepreço de R$ 900 milhões na construção do Estádio Nacional
Mané Garrincha. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), nas obras da arena
esportiva, há indícios de formação de cartel, fraude em licitação, corrupção
ativa e passiva, formação de organização criminosa, falsidade ideológica e
lavagem de dinheiro. A operação resultou na prisão temporária dos
ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), além do
ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB). Os três cumpriram 9 dias de
reclusão.
(*) Ana
Viriato – Foto: André Violatti/CB/D.A.Press – Correio Braziliense