A Feira do Livro de Brasília contou com 359 voluntários para ajudar em
suas atividades - Evento reuniu gêneros e estilos literários de diversas
vertentes e mostrou que a produção contemporânea se inova
*Por Isabella de Andrade
A 33ª
Feira do Livro de Brasília encerra suas atividades hoje e deixa sua marca como
um espaço de diversidade literária e encontro de gerações. A Arena Jovem
mostrou intensa movimentação, energia e encanto dos novos leitores e
escritores, enquanto o espaço infantil reuniu o encanto daqueles que estão por
descobrir as possibilidades do universo dos livros. O Café Literário reuniu
poetas, contistas, cronistas e romancistas da cidade e de diferentes regiões do
país, proporcionando diálogos e reflexões a respeito da produção cultural.
O curador
e poeta Luis Turiba destaca como um dos pontos altos da Feira o encontro dos
poetas negros Elle Semog, Cristiane Sobral e Jorge Amâncio, que se reuniram ao
som do forró de Luiz Gonzaga para falar sobre o grito dos descendentes
africanos num país racista. “Uma cena brasileiríssima. Aprendemos muito com os
diálogos, enquanto, na plateia, vários escritores trocavam livros entre o
público”, lembra o poeta.
Para ele,
o Café Tropicália foi o diferencial desta edição: “A poesia reinou no Café,
sempre com um bom público qualificado. E isso foi muito bem pensado.”
Ler não
tem idade
Além do
Café Literário, a Arena Jovem e os espaços com programação infantil tiveram
muita procura e mostraram que a literatura atinge pessoas desde a mais tenra
idade. As novas plataformas de produção, divulgação e criação literária foram
outro ponto forte de discussão. O autor Roberto Klotz participou de quatro dias
de conversa e acredita que o ponto alto do evento é ver cada criança, cada
adolescente e cada adulto deixar o espaço com um livro nas mãos e um sorriso.
Klotz vai
dialogar, hoje, sobre a produção dos livros e o bom envolvimento com as
palavras. “Para encantar leitores é preciso mostrar as histórias que estão
dentro dos livros. Eles precisam dos contadores de história, do escritor para
expôr ideias, da troca”, afirma. Em seus debates e atividades, o escritor abriu
diálogo sobre as diferentes possibilidades dos gêneros literários,
características de cada um deles, desenvolvimento de personagens, interpretação
e processo de escrita. “Gosto de conversar e interagir com a plateia, seja
adolescente, seja grisalha. Desejo mostrar que conversar sobre a escrita pode
ser prazeroso, divertido”. A possibilidade de troca de experiências possibilita
que a produção escrita local se amplie e se profissionalize constantemente.
O
presidente da Câmara do Livro do Distrito Federal, Ivan Valério da Silva,
destaca que um dos pontos altos do evento foi a colaboração da Secretaria de
Educação, que forneceu vale-livros para reforçar o acervo escolar. Enquanto
isso, a Secretaria de Cultura não contribuiu com o desenvolvimento da Feira do
Livro, que acontece desde 1982 e teve o menor orçamento de sua história nesse
ano.
“Queremos
que a Feira faça parte do orçamento anual do governo, como outros projetos”,
almeja Ivan Valério. O evento contou com a colaboração de 359 voluntários do
programa Brasília Cidadã, que participaram de atividades diversas e colaboraram
para o cotidiano do evento literário.
A
coordenadora geral da Feira do Livro, Cleide Soares, destaca que a participação
dos artistas locais foi muito importante, colaborando com o desenvolvimento da
poesia no Distrito Federal. Além disso, Cleide destaca que gostaria de ter
visto maior participação das escolas da cidade, já que essa sensibilização
literária nas instituições é importante para a formação dos estudantes.
Milton Hatoum participa do último dia da Feira em bate-papo com o
público
Mercado
Hoje ainda tem Feira do Livro. No último dia, o
evento receberá FML Pepper, autora brasileira best-seller da Amazon com a
trilogia Não Pare, Não olhe e Não fuja. Ela foi eleita em 1º lugar como autora
de ficção na Amazon Brasil em 2016 e foi a única brasileira escolhida pelo site
entre as personalidades femininas do mundo que fizeram diferença na literatura
em 2015.
A escritora vai abordar hoje o tema das novas
plataformas de divulgação e publicação e pretende trabalhar o papel da
autopublicação e livros digitais como oportunidade para novos escritores.
“Quero destacar também a importância das mídias digitais na divulgação do seu
livro. É a democratização da literatura. O acesso à produção literária se
tornou possível. Todos que tenham uma boa ideia e um sonho de que não abre mão
pode se tornar um escritor”, conta.
Para autora, eventos como a Feira do Livro criam a
possibilidade de apresentar o mundo fantástico dos livros para quem não costuma
ter tanto acesso a eles. “Com essa troca entre público e autores, podemos
mostrar que os livros não se resumem apenas aos clássicos e existe muito vigor
literário fora das salas de aula”, declara.
A feira pode ainda aproximar o escritor de seus
leitores e mostrar que todos podem estar próximos, tanto do ponto de vista
físico, quanto emocional. Pepper destaca que seria esse o momento de encontrar
outras pessoas apaixonadas por livros, como em uma roda de amigos.
Autor de obras como Dois irmãos e Sonhos do
Eldorado, Milton Hatoum também é esperado no encerramento do evento. A
partir das 16h, ele estará ao lado de Nicholas Behr e Lucília Garcez para falar
com o público sobre o processo de criação literária.
“Queremos que a Feira faça parte do orçamento
anual do governo, como outros projetos”
(Ivan Valério da Silva, O presidente da Câmara do
Livro do Distrito Federal)
33ª Feira do Livro de Brasília
Encerramento hoje, no shopping Pátio Brasil. Café
Tropicália - 14h: Debate: Da Estrutural à Samambaia: Os desafios da coleta
seletiva no DF; 16h: Conversa literária com Milton Hatoum, apresentação de
Nicolas Behr e Lucília Garcez. Papo Cabeça (3º piso) — 10h —A importância da
meta na escrita, com Roberto Klotz; Arena Jovem: 16h — Novas plataformas de
divulgação e publicação, com FML Pepper, M.S. Fayes e Day Fernandes. Palco
Sebrae: Banda 13 de maio, Clara di Lucena e Flor Ribeirinha.
(*) Isabella de Andrade - Especial para o
Correio Braziliense – Fotos: Luis Nova/CB/D.A.Press – Oswaldo
Reis/CB/D.A.Press