Por Circe Cunha
Em longa entrevista à jornalista
Eliane Brum, do jornal El País, a procuradora da República Thais Santi, em
Altamira (PA), desde 2012, faz um relato, ao mesmo tempo, revelador e tenebroso
das consequências nefastas geradas pela construção da hidrelétrica de Belo
Monte, na Bacia do Rio Xingu. A obra, derivada do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e orçada em torno de R$ 30 bilhões, foi mais uma das heranças
deixadas pela dupla Lula-Dilma e poderá, segundo a procuradora “ser julgada
pela história como uma operação em que a lei foi suspensa”, e em que houve a
mais explosiva mistura entre o público e o privado.
O Consórcio Norte Energia S.A., ao vencer o leilão
de forma polêmica, vem provocando naquele estado, além de um processo acelerado
de sérios danos ambientais, capaz de pôr em risco o futuro do planeta, um
verdadeiro etnocídio, com a destruição da cultura milenar de povos indígenas
que sempre viveram em função do Rio Xingu. Estranhamente, as repercussões da
obra têm suscitado mais debates no exterior do que internamente.
O fato é que todo o planeta acompanha com apreensão
a construção de Belo Monte e a possibilidade da repetição dessa catástrofe, com
a possível construção da hidrelétrica no Rio Tapajós. Neste “mundo em que tudo
é possível”, os brasileiros se comportam com indiferença em relação à morte
cultural dos indígenas, da mesma forma que a sociedade alemã reagiu ao
genocídio judeu.
A sustentação de Belo Monte, diz, não é no direito,
mas no fato consumado. Para conseguir seu intento, a Norte Energia tem comprado
o silêncio de muitos indígenas, alguns, inclusive, de recentes contatos, com
quinquilharias, da mesma forma como agiu Cabral em 1500, dentro de uma
estratégia assistencialista e elaborada, denominada Plano Emergencial. Dessa forma.
distribui bola de futebol, gasolina, dinheiro, bebidas alcoólicas,
refrigerantes e outros artigos do homem branco, destruindo e desestruturando
paulatinamente aqueles povos em nome de um progresso incerto e que só tem
beneficiados políticos e empreendedores de porte.
A descrição que Thais Santi faz da aldeia dos Arara
é chocante. “Era como se fosse um pós-guerra, um holocausto. Os índios não se
mexiam. Ficavam parados, esperando, querendo bolacha, pedindo comida, pedindo
para construir as casas. Não existia mais medicina tradicional. Eles ficavam
pedindo. E eles não conversavam mais entre si, não se reuniam. O único momento
em que eles se reuniam era à noite para assistir à novela numa tevê de plasma.
Então, foi brutal. E o lixo na aldeia, a quantidade de lixo era impressionante.
Era cabeça de boneca, carrinho de brinquedo jogado, pacote de bolacha, garrafa
Pet de refrigerante.”
Como consequência dessa obra gigantesca, aumentaram
os casos de doenças, como diabetes, hipertensão e alcoolismo, dando início a
conflitos de índio contra outro, de tribo contra tribo, provocando um caos na
região. Não é sem motivos que muita gente pelo mundo afora tem repetido que os
brasileiros não têm condições para cuidar do patrimônio da Amazônia. Com a
globalização e a comunicação em tempo real, não há máscara que permaneça por
muito tempo.
Cacique Giliarde Juruna, da Terra Indígena
Paquiçamba, mostra área de impacto da hidrelétrica de Belo Monte para a relatora
da ONU para direitos indígenas
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A frase que não foi pronunciada
“Trabalhar não compensa!”
(Faixa dos trabalhadores que trabalham nas obras da Papuda)
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E lágrimas
Magela transpirava poder à frente
da Codhab. Com a condenação do TRT, o suor volta para se defender dos
empregados que diziam ser obrigados a fazer campanha política para o PT nas
eleições de 2014. Um trabalhador buscou os tribunais e os outros foram pelo mesmo
caminho.
(*) Por Circe Cunha – Coluna
“Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
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