A PF e o MPF pediram nova prisão de Agnelo Queiroz, José Roberto Arruda,
Tadeu Filippelli e do ex-presidente da Novacap Nilson Martorelli. Todos são
acusados de envolvimento no suposto esquema de corrupção que envolve a
construção do Mané Garrincha
*Por Ana Viriato
Investigados
na Operação Panatenaico pelo envolvimento no suposto esquema de corrupção que
superfaturou a construção do Estádio Nacional Mané Garrincha em R$ 900 milhões,
os ex-governadores Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR), o
ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), além do ex-presidente da Companhia
Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) Nilson Martorelli, podem voltar à
carceragem — desta vez, sem prazo para deixá-la. A Polícia Federal e o
Ministério Público Federal no DF (MPF/DF) pediram à Justiça a prisão preventiva
dos quatro no início deste mês. A informação é confirmada pela corporação, que
ainda aguarda a decisão judicial. O processo tramita sob sigilo na 10ª Vara
Federal.
Em 23 de maio (leia Memória), os ex-gestores, junto a outras seis pessoas, foram presos temporariamente — quando o prazo de reclusão é de cinco dias e pode ser estendido por igual período. Eles deixaram a detenção um dia antes do previsto, amparados por habeas corpus, concedidos pelo desembargador da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) Néviton Guedes. As investigações apontam que o esquema fraudulento supostamente integrado por Agnelo, Arruda, Filippelli e Martorelli causou um rombo de R$ 1,3 bilhão aos cofres da Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap).
Ao contrário da prisão temporária, a preventiva pode durar por todo o período de instrução do processo. Nomes conhecidos no cenário político ficaram atrás das grades ao longo de meses nessta condição. O ex-senador Gim Argello é um exemplo. Preso em abril de 2016, ele permaneceu na carceragem até outubro daquele ano, quando foi condenado, na Operação Lava-Jato, a 19 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à investigação. Depois da sentença, permanece preso aguardando julgamento do recurso em segunda instância.
O ex-governador José Roberto Arruda é outro político que já enfrentou a prisão preventiva. Em 2010, no exercício do mandato, o então chefe do Palácio do Buriti ficou detido por 61 dias na Superintendência da Polícia Federal, acusado de tentativa de obstrução da Justiça na Operação Caixa de Pandora.
Após a data da decretação da prisão preventiva, o Ministério Público tem 15 dias para oferecer denúncia à Justiça. Contudo, não há prazo para que o processo seja julgado. No caso da Panatenaico, o órgão ainda não recebeu, da Polícia Federal, o relatório final com a perícia dos objetos apreendidos e dos depoimentos colhidos. Portanto, a petição inicial não está finalizada. O MPF identificou, até o momento, indícios de prática dos crimes de fraude à licitação, corrupção ativa e passiva, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Conluio
Segundo as delações da Construtora Andrade Gutierrez, homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e enviadas ao MPF, o ex-governador José Roberto Arruda organizou um “acordo de mercado” entre grandes empreiteiras que atuam na capital. Assim, as licitações eram direcionadas de modo que empresas específicas vencessem o certame das principais construções do DF. No caso do Mané Garrincha, ficou responsável pelas obras o consórcio formado por Andrade e a Odebrecht.
À época, o ex-governador assinou o Convênio nº 323/2009. O acordo previa que a Terracap ficaria responsável pelos repasses financeiros às empresas. A Novacap, por sua vez, conduziria os processos de licitação e contratação. A princípio, a renovação do Mané Garrincha seria custeada com empréstimos do BNDES.
Na sucessão do governo de Arruda, Agnelo Queiroz teria derrubado alguns obstáculos para viabilizar a execução das obras. O petista emplacou, na Câmara Legislativa, um projeto que autorizou a reversão da arena esportiva ao patrimônio da Terracap — sem a aprovação da proposta, a companhia não poderia financiar a reforma.
Em troca da distribuição igualitária das empreitadas, os ex-gestores, supostamente, receberam valores indevidos. O repasse do montante ocorria em diversos formatos: cash, via operadores; doações eleitorais; por contratos simulados ou pagamentos de eventos de parceiros políticos.
O esquema, segundo os acordos de leniência da Andrade Gutierrez e da Odebrecht, repetiu-se nas obras do Legado Urbanístico em torno do Mané Garrincha, do BRT Sul, do Centro Administrativo de Brasília (Centrad) e do Setor Habitacional Jardins Mangueiral — as delações chegaram ao MPF e estão nas mãos do grupo de trabalho que atua na Panatenaico. Na prática, isso significa que as provas levantadas serão usadas, de forma simultânea, na apuração de todas as denúncias.
Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, em 23 de maio, a Polícia Federal encontrou supostas tabelas de propina; agendas com a descrição de encontros marcados entre os investigados, o que, segundo a corporação, demonstra vínculo; cheques de altos valores; dinheiro em espécie; e diversas mídias com informações associadas ao esquema de corrupção.
Na residência do ex-presidente da Novacap Nilson Martorelli, a corporação apreendeu uma planilha com referência a valores que totalizam R$ 500 mil — equivalente ao suposto montante pedido em propina, segundo a delação do ex-executivo da Andrade Gutierrez Rodrigo Leite. Também na casa de Martorelli, a PF encontrou um cofre com R$ 268.147,54, valor que, a princípio, não condiz com a sua condição de ex-servidor público e desempregado há mais de dois anos, conforme destacaram a corporação e a Justiça Federal.
Em 23 de maio (leia Memória), os ex-gestores, junto a outras seis pessoas, foram presos temporariamente — quando o prazo de reclusão é de cinco dias e pode ser estendido por igual período. Eles deixaram a detenção um dia antes do previsto, amparados por habeas corpus, concedidos pelo desembargador da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) Néviton Guedes. As investigações apontam que o esquema fraudulento supostamente integrado por Agnelo, Arruda, Filippelli e Martorelli causou um rombo de R$ 1,3 bilhão aos cofres da Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap).
Ao contrário da prisão temporária, a preventiva pode durar por todo o período de instrução do processo. Nomes conhecidos no cenário político ficaram atrás das grades ao longo de meses nessta condição. O ex-senador Gim Argello é um exemplo. Preso em abril de 2016, ele permaneceu na carceragem até outubro daquele ano, quando foi condenado, na Operação Lava-Jato, a 19 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à investigação. Depois da sentença, permanece preso aguardando julgamento do recurso em segunda instância.
O ex-governador José Roberto Arruda é outro político que já enfrentou a prisão preventiva. Em 2010, no exercício do mandato, o então chefe do Palácio do Buriti ficou detido por 61 dias na Superintendência da Polícia Federal, acusado de tentativa de obstrução da Justiça na Operação Caixa de Pandora.
Após a data da decretação da prisão preventiva, o Ministério Público tem 15 dias para oferecer denúncia à Justiça. Contudo, não há prazo para que o processo seja julgado. No caso da Panatenaico, o órgão ainda não recebeu, da Polícia Federal, o relatório final com a perícia dos objetos apreendidos e dos depoimentos colhidos. Portanto, a petição inicial não está finalizada. O MPF identificou, até o momento, indícios de prática dos crimes de fraude à licitação, corrupção ativa e passiva, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Conluio
Segundo as delações da Construtora Andrade Gutierrez, homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e enviadas ao MPF, o ex-governador José Roberto Arruda organizou um “acordo de mercado” entre grandes empreiteiras que atuam na capital. Assim, as licitações eram direcionadas de modo que empresas específicas vencessem o certame das principais construções do DF. No caso do Mané Garrincha, ficou responsável pelas obras o consórcio formado por Andrade e a Odebrecht.
À época, o ex-governador assinou o Convênio nº 323/2009. O acordo previa que a Terracap ficaria responsável pelos repasses financeiros às empresas. A Novacap, por sua vez, conduziria os processos de licitação e contratação. A princípio, a renovação do Mané Garrincha seria custeada com empréstimos do BNDES.
Na sucessão do governo de Arruda, Agnelo Queiroz teria derrubado alguns obstáculos para viabilizar a execução das obras. O petista emplacou, na Câmara Legislativa, um projeto que autorizou a reversão da arena esportiva ao patrimônio da Terracap — sem a aprovação da proposta, a companhia não poderia financiar a reforma.
Em troca da distribuição igualitária das empreitadas, os ex-gestores, supostamente, receberam valores indevidos. O repasse do montante ocorria em diversos formatos: cash, via operadores; doações eleitorais; por contratos simulados ou pagamentos de eventos de parceiros políticos.
O esquema, segundo os acordos de leniência da Andrade Gutierrez e da Odebrecht, repetiu-se nas obras do Legado Urbanístico em torno do Mané Garrincha, do BRT Sul, do Centro Administrativo de Brasília (Centrad) e do Setor Habitacional Jardins Mangueiral — as delações chegaram ao MPF e estão nas mãos do grupo de trabalho que atua na Panatenaico. Na prática, isso significa que as provas levantadas serão usadas, de forma simultânea, na apuração de todas as denúncias.
Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, em 23 de maio, a Polícia Federal encontrou supostas tabelas de propina; agendas com a descrição de encontros marcados entre os investigados, o que, segundo a corporação, demonstra vínculo; cheques de altos valores; dinheiro em espécie; e diversas mídias com informações associadas ao esquema de corrupção.
Na residência do ex-presidente da Novacap Nilson Martorelli, a corporação apreendeu uma planilha com referência a valores que totalizam R$ 500 mil — equivalente ao suposto montante pedido em propina, segundo a delação do ex-executivo da Andrade Gutierrez Rodrigo Leite. Também na casa de Martorelli, a PF encontrou um cofre com R$ 268.147,54, valor que, a princípio, não condiz com a sua condição de ex-servidor público e desempregado há mais de dois anos, conforme destacaram a corporação e a Justiça Federal.
Memória - Bens bloqueados de 11 investigados
Com um nome que remete ao Stadium Panatenaico, sede de jogos na Grécia Antiga, remodelado da madeira ao mármore, a Operação teve início em 23 de maio, quando 80 policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão, condução coercitiva e prisão temporária. A Justiça ainda decretou o bloqueio de bens de 11 investigados, em um total de R$ 155 milhões. Além de Agnelo, Arruda, Filippelli e Martorelli, acabaram detidos a ex-presidente da Terracap, Maruska Lima; o presidente da Via Engenharia, Fernando Queiroz; o ex-secretário especial da Copa, Francisco Cláudio Monteiro; e os supostos operadores de propina Sérgio Lúcio Silva de Andrade, Afrânio Roberto de Souza Filho e Jorge Luiz Salomão.
Com um nome que remete ao Stadium Panatenaico, sede de jogos na Grécia Antiga, remodelado da madeira ao mármore, a Operação teve início em 23 de maio, quando 80 policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão, condução coercitiva e prisão temporária. A Justiça ainda decretou o bloqueio de bens de 11 investigados, em um total de R$ 155 milhões. Além de Agnelo, Arruda, Filippelli e Martorelli, acabaram detidos a ex-presidente da Terracap, Maruska Lima; o presidente da Via Engenharia, Fernando Queiroz; o ex-secretário especial da Copa, Francisco Cláudio Monteiro; e os supostos operadores de propina Sérgio Lúcio Silva de Andrade, Afrânio Roberto de Souza Filho e Jorge Luiz Salomão.
Prejuízos "O ex-governador
sempre esteve à disposição da Justiça para esclarecer todos os pontos
necessários. Desta vez, não seria diferente." (Paulo Emílio Catta
Preta, advogado de José Roberto Arruda)
R$ 600 milhões
Estimativa
inicial para a construção do estádio
R$ 1,575 Bilhão
Valor
total para a obra da arena esportiva
R$ 900 milhões
Valor
do superfaturamento, segundo os investigadores
R$ 1,3 bilhão
Rombo provocado pela obra nos cofres da
Terracap -
Sem justificativa para
pedido
Ao Correio, os
advogados dos quatro alvos do pedido de prisão preventiva, emitido pelo MPF e
pela PF no início de junho, disseram não ter conhecimento sobre o trâmite da
requisição. Ainda assim, reforçaram a inexistência de fatos novos que
justifiquem uma nova reclusão.
Advogado de José Roberto Arruda, Paulo Emílio Catta Preta afirmou que a prisão preventiva deve ser decretada apenas nos casos em que há risco de fuga ou obstrução da Justiça. “O ex-governador responde a outros processos e sempre esteve à disposição da Justiça para esclarecer todos os pontos necessários. Desta vez, não seria diferente”, argumentou.
Catta Preta acrescentou que o cliente não tem envolvimento com as irregularidades investigadas na Panatenaico. “A execução das obras começou após Arruda deixar o governo. Ele não recebeu valores ilícitos ou integrou o suposto conluio”, garantiu.
Advogado de Agnelo Queiroz, Paulo Guimarães reforçou a inviabilidade da prisão preventiva. “Não há motivo para tal medida. O ex-governador já externou ao juiz a disposição para cooperar com as investigações. Inclusive, oferecendo a entrega do passaporte e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático.”
Sob a mesma linha de defesa, Philipe Benoni, representante do ex-presidente da Novacap Nilson Martorelli, lembrou a soltura dos alvos, autorizada pelo Tribunal Regional Federal em 31 de maio. “O desembargador entendeu que não há motivos para a reclusão. Todas as provas foram colhidas e meu cliente não oferece riscos ao seguimento das investigações. A liberdade é sempre a regra”, sustentou. Procurado pelo Correio, o advogado de Tadeu Filippelli, Alexandre Queiroz, não quis se pronunciar.
Advogado de José Roberto Arruda, Paulo Emílio Catta Preta afirmou que a prisão preventiva deve ser decretada apenas nos casos em que há risco de fuga ou obstrução da Justiça. “O ex-governador responde a outros processos e sempre esteve à disposição da Justiça para esclarecer todos os pontos necessários. Desta vez, não seria diferente”, argumentou.
Catta Preta acrescentou que o cliente não tem envolvimento com as irregularidades investigadas na Panatenaico. “A execução das obras começou após Arruda deixar o governo. Ele não recebeu valores ilícitos ou integrou o suposto conluio”, garantiu.
Advogado de Agnelo Queiroz, Paulo Guimarães reforçou a inviabilidade da prisão preventiva. “Não há motivo para tal medida. O ex-governador já externou ao juiz a disposição para cooperar com as investigações. Inclusive, oferecendo a entrega do passaporte e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático.”
Sob a mesma linha de defesa, Philipe Benoni, representante do ex-presidente da Novacap Nilson Martorelli, lembrou a soltura dos alvos, autorizada pelo Tribunal Regional Federal em 31 de maio. “O desembargador entendeu que não há motivos para a reclusão. Todas as provas foram colhidas e meu cliente não oferece riscos ao seguimento das investigações. A liberdade é sempre a regra”, sustentou. Procurado pelo Correio, o advogado de Tadeu Filippelli, Alexandre Queiroz, não quis se pronunciar.
(*) Ana Viriato –
Foto: Arthur Menescal/CB/D.A.Press – Correio Braziliense