Felipe Areda é o diretor do instituto, que terá sede física a partir do
segundo semestre
*Por Adriana Izel
Duas perguntas a Felipe Areda
Qual é o principal objetivo de criar o
instituto?
Nós lutamos pelo reconhecimento e pela
afirmação dos direitos culturais como direitos humanos da comunidade LGBT, na
garantia de expressão, criação, difusão, fruição, preservação da memória de
práticas culturais e do acesso a uma educação artística que respeite e valorize
a diversidade de identidades culturais. Gosto muito de uma definição do Zé
Celso (um dos brasileiros teóricos mais importantes de nossa comunidade) de que
cultura não cria grupos, mas cria cosmos, formas de ler, sentir e interpretar o
mundo. Nós precisamos de cosmos menos opressores e violentos e que ampliem a
possibilidade de existência. Eu espero que um olhar para nosso legado, para
força de tantas vidas, que enfrentaram tanta violência, nos oriente para um
futuro mais livre. Eu aprendi com as mais velhas que “bicha não morre, vira
purpurina! ”. Acho essa uma frase radical sobre a forma da comunidade. Em
síntese: em comunidade não se morre! Em comunidade somos capazes de enfrentar o
apagamento e encontrar instrumentos de luta coletiva.
No vídeo (Abaixo) sobre o instituto se fala
muito em economia criativa. Também é um dos objetivos expor e valorizar os
trabalhos atuais LGBT?
O DF é um terreno muito fértil de
criação LGBT. Não falo isso somente por ser a terra de emergência de artistas
como o Renato Russo, Cássia Eller, Fernando Carpaneda, Ellen Oléria, mas pela
grande quantidade de artistas produzindo atualmente. Isso vai do vestuário à
escultura. Queremos que nosso centro incentive as pessoas a tirarem suas artes
do armário e fortalecer um circuito de economia criativa LGBT. Isso significa
ter LGBT adquirindo produtos produzidos por LGBT, além de outras pessoas
também conhecendo e adquirindo nossa produção.
"O primeiro instituto cultural com obras
ligadas ao grupo no DF é inaugurado e ainda contará com biblioteca e cinemateca"
Em 3 de dezembro do ano passado, o professor Felipe Areda, ao lado de
pessoas ligadas à comunidade LGBT, fundou o Instituto Cultural Arte Memória
LGBT em Brasília. O projeto nasceu inspirado no legado de Darcy Penteado,
artista plástico pioneiro na arte homoerótica no Brasil. “O sonho do instituto
nasceu de um desejo do Darcy. Era dele o sonho da criação de um museu de arte
LGBT no Brasil”, explica Areda.
No entanto, Areda quis ir além de fazer
apenas um museu, e o Instituto Cultural Arte Memória LGBT pretende ser um ponto
de cultura, de criação artística e de memória, unindo pesquisa, difusão
cultural e preservação do patrimônio. “Seu objetivo é defender, promover,
fomentar e difundir a cultura, o patrimônio cultural e artístico e a memória da
comunidade LGBT brasileira”, completa.
Para isso, o espaço abrigará uma
biblioteca, uma cinemateca e uma reserva técnica para obras de arte — todas
LGBT —, composta por um acervo reunido por Areda e com a ajuda de doações.
“Recebemos uma grande quantidade de filmes LGBT, brasileiros e internacionais,
que já nos permitem iniciar uma cinemateca. Temos uma equipe voltada para a
área de patrimônio composta por museóloga, bibliotecária e arquivista, que está
trabalhando na construção de nossa política de acervo, nosso plano museológico,
nossa política de aquisição e descarte”, afirma o diretor.
Montando o acervo
O grupo, que integra o instituto
formado por 24 pessoas, também está em processo de produção de um conteúdo
audiovisual que busca entender os espaço de relação e de criação LGBT no DF
durante o período da ditadura militar. “Esse acervo audiovisual tem histórias
incríveis e mal posso esperar para isso ser conhecido pelos jovens LGBT”,
destaca Areda, que é responsável pela matéria pensamento LGBT brasileiro ministrada
na graduação da Universidade de Brasília (UnB) desde 2012. Além disso, o
Instituto Memória Arte Cultura LGBT terá uma difusão cultural com foco na
economia criativa, com loja cultural e espaços para múltiplos usos para abrigar
coletivos de dança urbana e cursos teóricos e artísticos sobre a temática.
O instituto ainda não possui ponto
físico. O espaço foi encontrado na área central de Brasília, mas permanece em
segredo até a inauguração, no segundo semestre de 2017. Sem qualquer auxílio
governamental, o projeto capta recursos com a própria comunidade por meio de
uma campanha na internet, em que podem ser feitas doações a partir de R$ 50.
“Nós buscamos construir esse lugar com autonomia comunitária, ou seja, não
queremos que dependa do Estado para existir. Estamos recebendo doações
diretas, produtores que estão revertendo parte do lucro de festas, eventos que
estão nos abrindo espaço para comercialização de produtos ou pessoas que fazem
pequenas festinhas em casa e pedem doações à sua rede”, explica Felipe Areda.
Como ajudar?
Campanha de doação pelo site > ( Goo.gl/W6M8eA )
Valores de R$ 50, R$ 100, R$ 150 ou
mais...
(*) Adriana Izel – Foto:
Eduardo Pootz – Divulgação – Correio Braziliense