Joãozinho
da Vila era um animador cultural sempre pronto para a folia e para a poesia
*Por Rachel Sabino
“Onde havia folia, lá estava o João.” Assim define
Erbene Costa, viúva do agitador cultural e poeta João Roberto Costa Júnior, o
Joãozinho da Vila, falecido na última segunda-feira. De acordo com os
familiares, o animador cultural sofreu um acidente de moto por volta das 18h,
na altura da 402 Norte. Segundo relatos de parentes, era provável que Joãozinho
estivesse voltando para casa.
“O João era um folião desde que o conheci. Ele
adorava produzir cultura, ajudar quem estava perto, e, principalmente, ensaiar
com os Vilões”, relembra Erbene ao se referir ao bloco de carnaval de rua
criado pelo marido.
A Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc)
se pronunciou diante da morte do poeta e sambista. “A diretoria da Aruc envia o
abraço solidário da família cruzeirense aos familiares e amigos. Hoje o céu o
receberá em festa. Descanse em paz!”, disse Moacyr Oliveira Filho, presidente
da associação.
Amigos e companheiros de carreira de João da Vila
também se expressaram nas redes sociais. Renio Quintas postou uma homenagem ao
amigo. “Nos resta desejar que seja recebido pelas boas energias do universo. Vá
com Deus, João! Que te acompanhem em outra dimensão a sua alegria, irreverência
e poesia”, declarou.
Legado de alegria
Nascido em Unaí (MG), Joãozinho mudou-se para
Brasília no ano da inauguração da cidade, em 1960. Aos 16 anos, João da Vila
colocou em palco sua primeira peça O último rango de Jota Pingo, a qual teve
participação especial da banda Aborto Elétrico.
Há seis carnavais, João da Vila criou o Bloco
Vilões da Vila na cidade. Ao lado de Yuli Hostensky, os amigos decidiram
presentear Brasília com um bloco de carnaval que levasse o lema: quem sobe o
morro e não desce a ladeira, o melhor carnaval está nas ruelas da vila. O grupo
ensaiava rotineiramente às manhãs de sábado debaixo de uma mangueira na Vila
Planalto.
Além da música, João Roberto era ativo na escrita.
Começou a publicar seus livros a partir de 2005, quando se mudou para a Vila. O
livro 50 anos de obra em apenas um volume, que reúne 50 poesias do autor,
tornou o poeta uma figura constante em saraus nas escolas públicas do DF. Meu
masculino é feminino, lançado em 2014, também é uma coletânea marcante do
poeta.
Poema Feminino
Eu quero ser o feminino
que nunca fui,
eu quero ser o feminino
que sempre existiu em mim,
eu quero ser o feminino
que penetrou o meu
útero imaginário.
(assim como feminino
poeta Reynaldo Jardim),
desejar ter outro feminino.
Ficarei vulgarmente
conhecido
como
sapatão.
(JoãoZinho da Vila, do livro Meu masculino é
feminino)
(*) Rachel
Sabino* - *Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco - Fotos: Hélio Montferre/CB/D.A.Press - Oswaldo Garcia - Correio Braziliense