*Por Circe Cunha
Diante das evidências palpáveis e dos
fatos irrefutáveis que vão sendo postos à luz cristalina da verdade, tem ficado
cada vez mais difícil, senão impossível, para defesa dos diversos réus e
acusados na megaoperação Lava-Jato apresentar provas e justificativas que
contradigam a avalanche de delitos apontados pelos procuradores e que, aos
poucos, vão soterrando os contraventores famosos sob montanhas de lama. Note-se
que para acusados desse calibre, acostumados, historicamente, à impunidade e,
por isso mesmo, reincidentes em seus crimes, o time de causídicos, escolhidos a
dedo, compõem os mais famosos e caros escritórios de advocacia do país.
Conseguir que alguns desses gênios da
lâmpada de ouro se levantem de suas cadeiras de veludo e assumam alguma causa
perante os tribunais é para gente com grandes posses que podem dispor,
facilmente, de milhões de reais para se livrarem dos incômodos com as cobranças
da Justiça. Num país, onde até amor verdadeiro é comprado por dinheiro, não
causa espanto que quando se trata de gente importante, metida em finíssimos ternos
italianos, coisas como prisão, processos e outras coisas de pobre acabem por
não combinar muito com a gravata ou com o sapato de cromo ou a meia de seda.
No caso de políticos, apanhados de
calças curtas, enfiando maços de dinheiro público em cuecas, até os postes da
rua sabem que são com esses mesmos recursos desviados que eles têm custeado
seus caríssimos defensores. Para os muitos advogados, esse é apenas um detalhe
sem importância, desde que os honorários sejam depositados conforme os
contratos.
Ao longo desses anos de Lava-Jato, em
que grupos de figurões, em fila indiana e portando pulseiras exclusivas
confeccionadas com o mais puro aço inoxidável vão desfilando em frente às
câmeras, algumas lições importantes vão ficando no imaginário popular. Uma
delas é que todos aqueles que, por uma razão ou outra, têm se colocado contra
essa operação histórica, estão do lado oposto da população e buscam a
manutenção do status quo delinquente no poder.
A outra lição é de que ambos os lados
dessa contenda devem permanecer o mais longe possível dos holofotes da
imprensa, para evitar que tamanho e importante acontecimento não se transforme
em evento midiático, em que a verdade dos fatos não é o elemento que mais
interessa. De todo modo, a cada movimento desses embates, fica mais atual a
carta escrita pelo jurista Sobral Pinto, décadas atrás, que ensina como deveria
ser o modus operandi dos advogados em um mundo ideal: “O primeiro e mais
fundamental dever do advogado é ser o juiz inicial da causa que lhe levam para
patrocinar. Incumbe-lhe, antes de tudo, examinar minuciosamente a hipótese para
ver se ela é realmente defensável em face dos preceitos da Justiça. Só depois
de que eu me convenço de que a justiça está com a parte que me procura é que me
ponho à sua disposição”.
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A frase que foi pronunciada
“De tal modo amo a verdade que, para
proclamá-la, não receio enfrentar desafios.”
(Sobral Pinto)
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e
ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google