Repórteres à antiga
*Por Circe
Cunha
No próximo 11 de novembro, completará 33 anos o assassinato do
jornalista investigativo do Correio Braziliense e da Rádio Planalto Mário
Eugênio. Na época do crime, o país vivia seus últimos momentos sob o governo
militar e a abertura política, anunciada havia tempo, despontava como certeza
no horizonte. O sentimento corrente era de que havia chegado ao fim o período
em que a verdade dos fatos era apresentada de acordo com os interesses de
grupos poderosos.
Como repórter responsável pela cobertura policial, Mário Eugênio
testemunhou, bem de perto, a tênue fronteira que separa os maus policiais dos
criminosos em geral. Era justamente nesse limbo que garimpava as melhores
reportagens investigativas da época, fazendo da própria profissão um ideal de
vida, e onde angariou, além de uma legião de admiradores, um sem-número de
inimigos de morte. Era, literalmente, na corda bamba que Mário Eugênio exercia
seu trabalho, oscilando entre agentes da lei e bandidos da mais alta
periculosidade.
Quem o
conheceu de perto fala de um profissional vaidoso e muito seguro de si, mas que
apresentava interiormente uma angústia disfarçada, própria daqueles que por
conhecer a realidade cruenta de perto e os personagens que desfilam de cada
lado da história, pressentiam que também poderiam vir a se transformar em
personagem dos noticiários e crônicas policiais.
Naqueles
tempos, o trabalho de repórter policial exigia do profissional, dedicação e
disposição integrais. Correr atrás da notícia significava justamente isto: sair
da zona de conforto e ir em busca das notícias. Para um trabalho dessa
natureza, as fontes de informações seguiam os mesmos modelos empregados pelos
policiais, ouvindo testemunhas e informantes, perseguindo suspeitos, fazendo
campanas, espreitando e observando.
Seguindo os
mesmos procedimentos da polícia, os repórteres investigativos buscavam também,
entre os criminosos, indivíduos dispostos a relatar fatos vistos e ouvidos em
troca de algumas vantagens. Era do contato com esses chamados X9 que muitas
pistas relevantes eram levantadas. A diferença entre o policial e o repórter
estava apenas no tipo de arma usada. Em último caso, um gravador e a máquina
fotográfica. Mas, aconselhado por pessoas próximas, Mário Eugênio comprou uma
arma de fogo que passou a trazer sempre consigo e cujo o único tiro foi
disparado acidentalmente dentro da redação do Correio.
Era um
trabalho de risco que muitas vezes colocava o profissional diante das piores
situações. Quem se aventurava em ser repórter investigativo aprendia logo cedo
que o pior tipo de bandido, que poderia aparecer pela frente era aquele que,
usando da própria farda e do distintivo de policial, cometia todo o tipo de
crime. Para tipos dessa natureza, sabia-se: não há limites ou ilicitudes que
não possam ser praticadas para atingir determinados objetivos.
Foi
justamente nessa área de penumbra que separa a lei da ilegalidade que Mário
Eugênio topou de frente, quando estava perto de concluir uma reportagem que
mostrava a existência de um poderoso grupo de extermínio instalado dentro dos
órgãos de segurança da capital e que reunia policiais civis e militares.
Foram sete
tiros de uma arma de caça, própria para abater elefantes, que atingiram a
cabeça do repórter por trás, calando a voz do jornalista que apresentava o
programa de rádio Gogó das Sete, famoso e popular naquela ocasião. Calaram a
voz do repórter, mas não da opinião pública e de outros órgãos de imprensa, que
passaram a acompanhar o caso de perto até chegarem ao mandante do crime,
identificado como sendo o então secretário de Segurança, Lauro Rieth, e o
delegado Ary Sardella, que coordenava a Polícia especializada à época. Foi
graças às investigações paralelas efetuadas pelos profissionais do Correio
Braziliense que os autores desse crime foram revelados, o que rendeu ao jornal
o Prêmio Esso de Jornalismo em 1985.
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A frase que foi pronunciada
“Se você
deve, tome cuidado bicho. Vai virar notícia.”
(Mário
Eugênio, apoiado pelo Correio Braziliense)
Vai que cola
» Sem
cerimônia, na Vargem Bonita, em frente à padaria, um aventureiro, certo da
impunidade, começou um quiosque com jeitinho e, agora, achou melhor alvenaria.
Está lá a invasão para quem quiser ver.
Terras
» Nota da
Comunicação Social da Terracap esclarece que a Operação Sacerdote trata de um
ex-diretor e que a solicitação de investigação foi feita pela própria agência.
A Operação Sacerdote começou quando um cidadão protocolou um questionamento
sobre o Lote n.º 8 , Conjunto 6, do Setor de Mansões Dom Bosco, na região do
Lago Sul. A dúvida era se havia o direito de compra. Como o lote não existia, a
Dema foi comunicada. Forma simples de desmascarar os grileiros.
Estranho
» O que não deu para entender da nota é o aviso
de que, no próprio site da Terracap, qualquer cidadão pode consultar sobre as
ocupações irregulares ou presencialmente na área do atendimento. E essa
informação veio no mesmo parágrafo de que a empresa adota uma postura rígida de
combate ao parcelamento irregular do solo. Seria mais coerente mapear as áreas
com invasões impedidas pela Terracap.
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google