Placas na saída do Buraco do Tatu. A próxima ao solo segue o padrão
estabelecido no plano diretor. Já a de cima....
*Por Daniel Marques Vieira
Herdada da Copa, sinalização não segue Plano Diretor de Sinalização e
precisará ser adaptada. Especialistas criticam manutenção
Pelo Plano Piloto, uma situação curiosa chama a atenção dos
brasilienses: em algumas regiões da cidade, surgem placas que destoam do
Plano Diretor de Sinalização do Distrito Federal. Para piorar, concorrem lado a
lado com placas de endereço tradicionais e reconhecidas internacionalmente. Em
alguns casos, uma placa repete a informação da outra, isso a uma distância de
poucos metros.
Segundo o
diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER),
Henrique Luduvice, foram instalados 63 pórticos e semipórticos como parte do
Programa Paz no Trânsito. “Apesar de ser lembrado pelas faixas de pedestre,
esse programa também teve outras funções, entre elas, a sinalização”, afirmou o
diretor.
Posteriormente,
por meio de nota, a assessoria de imprensa do órgão afirmou que não há pórticos
instalados na área tombada de Brasília, e que os semipórticos existentes ali
são fruto do reaproveitamento das placas instaladas para a Copa do Mundo de
2014. Mas é estranho para o brasiliense ver duas placas em formatos diferentes
darem a mesma informação uma próxima da outra.
A
duplicidade chama atenção de arquitetos, preocupados com a inadequação da
sinalização com o Plano Diretor de Sinalização, instituído por decreto em 1998.
O projeto define os detalhes da sinalização do Plano Piloto, desde a tipografia
até as cores e os materiais utilizados. “Toda sinalização urbana de Brasília
segue um projeto que foi reconhecido pela ONU, premiado mundialmente”, explica
Frederico Flósculo, professor de arquitetura na UnB. “É uma coisa muito séria,
que não é simplesmente invenção de algum qualquer. O governo precisa
respeitar”, pontua, acrescentando que o modelo de sinalização garante
visibilidade e segurança ao motorista. Para ele, a adição de novas placas, com
um padrão diferente, fere o projeto de comunicação visual da cidade.
Henrique
Ludovice, do DER, defende que uma nova sinalização é necessária, devido às
mudanças recentes na configuração do trânsito da cidade. “Hoje, carros mais
altos, como os SUVs, dificultam a visualização das placas laterais”, justifica.
O diretor acrescenta que os pórticos e semipórticos permitem ao motorista
conseguir tomar decisões a certa distância sem gerar congestionamentos ou
acidentes. O professor Flósculo discorda. “Esse é um argumento tolo. Essas
placas tradicionais sempre foram visíveis. Foram pensadas para isso. São
extraordinárias. Essa quebra de continuidade é uma coisa lamentável.”
O Correio
foi conferir a opinião de quem é mais afetado pela sinalização das vias: os
motoristas. No Eixão, próximo ao Setor Comercial Sul, a duplicidade é bastante
evidente. No semáforo logo em frente, conversamos com quatro motoristas e
nenhum sequer tinha notado a presença do semipórtico. Guilherme Álvares, 38
anos, olhando pra trás para checar se a placa aérea realmente existia, afirmou:
“É um custo desnecessário manter essa placa aí se já tem a de baixo”. Cláudio
dos Reis, 50 anos, que também afirmou não ter se atentado à sinalização de
cima, acrescentou: “A placa de baixo é muito mais visível. Para quem está de
carro, olhar para a placa de cima é até mais complicado”.
Porém
Ludovice garante: o órgão possui grande consideração e respeito pela icônica sinalização
de Brasília e não vai retirá-la, mas somente fazer adaptações na disposição e
no posicionamento. “Onde houver conflito com a sinalização, será priorizada a
placa tombada, mas sempre se preocupando com a segurança do motorista.”
O Correio
conversou com Antonio Danilo Morais Barbosa, arquiteto e urbanista responsável
pela coordenação do Plano Diretor de Sinalização do Distrito Federal. Na
opinião do arquiteto, o correto é que, nas regiões centrais de Brasília, deva
permanecer, sem modificações ou adições, a sinalização original. Contudo, o
especialista assume que, nas pontas dos eixos, onde há um sistema de trânsito
mais complexo, talvez seja necessária a adaptação da sinalização. Ressaltou
ainda que o DER o tem consultado antes de fazer adaptações na sinalização. “Não
se pretende substituir. O DER vai dar continuidade ao plano de sinalização e
está preocupado com a sobreposição”, ressalta o professor. E ele garante: até a
semana que vem, será realizada uma avaliação em todo Distrito Federal, analisando
onde é necessário fazer adaptações. Barbosa defende que, em alguns casos, os
pórticos precisarão ser retirados, ou serem adaptados para o Plano Diretor.
Por meio
de nota, a assessoria do DER acrescenta que “não há data final para
conclusão dos serviços, tendo em vista a complexidade e a quantidade de placas
e semi-pórticos espalhados pela cidade. Em fase seguinte, serão substituídas ou
implantadas novas placas, totens e sinalização de pedestres em toda a área
tombada”.
Balizadores
Outro
elemento do trânsito que vem se tornando evidente aos brasilienses são os
balizadores, chamados popularmente de “palitos”, “curralizinhos” ou
“pirulitos”. Adicionados aos poucos em diferentes rodovias, a ferramenta de
sinalização direciona o trânsito em acessos e retornos. Estão presentes, por
exemplo, na entrada do Guará 1, via EPTG, nos retornos da EPIA (entre o
ParkShopping e o CasaPark), e no acesso da EPIG via EPIA.
A
ferramenta divide a opinião dos motoristas. Enquanto o brasiliense João Dias,
40 anos, alega que atrapalha o trânsito e diz que “é o cúmulo do absurdo!”,
Gabriel de Melo, morador do Gama, adota um tom mais ameno e demonstra uma
opinião mais branda. Segundo ele, a ferramenta diminui o risco de acidentes e
agiliza o trânsito. “Evita que os ‘espertinhos’ entrem na frente de todo mundo
lá no fim do retorno.”
Sobre os
balizadores, o diretor-geral do DER defende que a medida só foi tomada em
pontos críticos de congestionamento. “É uma ferramenta de disciplinarização do
tráfego”, explica.
Entenda
Pórticos e semipórticos:
sinalização aérea, com pilares, vigas metálicas e placas na parte
superior. Em meio a engarrafamento,
balizadores em retorno na EPIA, próximo ao ParkShopping
Placa de baixo é
muito mais visível. Para quem está de carro, olhar para a placa de cima é até
mais complicado Cláudio dos Reis, motorista
R$ 11.189.512,49
Valor gasto a partir de junho do ano passado na instalação de pórticos e semipórticos nas rodovias do DF
Valor gasto a partir de junho do ano passado na instalação de pórticos e semipórticos nas rodovias do DF
Placas tombadas?
Por meio de nota, a assessoria de
comunicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
respondeu que a sinalização é um elemento que integra o conjunto urbanístico de
Brasília, embora não tenha tombamento específico. Na visão do órgão, a
sinalização merece atenção e deve ser respeitada e mantida pelo governo e
sociedade local. “Sem dúvida que é um patrimônio da cidade, à semelhança da
vegetação, do Lago Paranoá e outros elementos do conjunto urbano que não têm
tombamento específico do Iphan.”
(*) Daniel
Marques Vieira* *Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira –
Fotos: Bárbara Cabral/CB/D.A.Press - Correio Braziliense