Rollemberg se une a Maria de Lourdes Abadia:
"Chegamos à conclusão que o melhor nome (para tocar projetos do governo)
pela sua competência, pela sua inserção social seria o da ex-governadora"
*Por Ana Maria Campos – Helena Mader
De olho na reeleição, governador reage à parceria
entre PT e PDT, anuncia a tucana como aliada estratégica e provoca um racha
dentro do PSDB. O presidente regional da legenda, Izalci Lucas, tenta evitar
que adesão prejudique sua candidatura ao Buriti
Reza a lenda no mundo político que não existe vácuo
no poder. Espaços vazios são rapidamente ocupados. Foi o que ocorreu nesta
semana numa jogada importante do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) para
recompor sua equipe depois do rompimento com o PDT. Saíram pedetistas, entram tucanos.
A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia, fundadora do PSDB, e o suplente de
deputado distrital Virgílio Neto, também filiado ao partido, vão tomar posse em
cargos da atual administração do DF. O anúncio ocorreu ontem, na residência
oficial de Águas Claras.
A Abadia, Rollemberg ofereceu a supersecretaria de
Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos
(Sedestmidh), que já foi comandada pelo presidente da Câmara Legislativa, Joe
Valle (PDT), e por Gutemberg Gomes, indicado pelo distrital.
Ela, no entanto, preferiu algo mais focado em áreas
carentes, trabalho que a projetou no mundo político. Ganhou, assim, o cargo de
secretária especial de Projetos Estratégicos. Vai despachar no Palácio do
Buriti, com uma equipe de 15 a 20 servidores e ficará encarregada de ações de
visibilidade, como a implantação da infraestrutura do Sol Nascente e de Vicente
Pires, a desobstrução e a ocupação ordenada da orla do Lago Paranoá, a
desativação do lixão da Estrutural e o projeto Habita Brasília. Virgílio Neto ganhou
o cargo de subscretário de Políticas Estratégicas da supersecratria.
No anúncio da chegada dos tucanos, Rollemberg
rasgou elogios a Abadia, com quem sempre manteve uma boa relação: “São projetos
muito importantes para o governo do DF e chegamos à conclusão que o melhor nome
pela sua competência, pela sua inserção social, pela sua reputação e pelo seu
espírito público seria o da ex-governadora Maria de Lourdes Abadia”.
Mais do que o currículo e a trajetória de Abadia,
Rollemberg mira as próximas eleições. As negociações com o PSDB incluem uma
possível aliança em que o partido indique o vice na chapa que vai concorrer em
2018. Abadia seria esse nome. Antes de sacramentar o convite, o governador do
DF conversou com muita gente. Telefonou para os tucanos que tomam as decisões,
como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o secretário-geral da legenda,
Sílvio Torres, e o senador Aécio Neves (MG). Na noite de terça-feira, como
revelou ontem a coluna Eixo Capital, Rollemberg fechou a entrada de Abadia no
governo com uma conversa no Senado com o presidente em exercício do partido,
senador Tasso Jereissati (CE).
O cargo de vice na chapa havia sido oferecido
também a Joe Valle, mas a decisão do PDT de caminhar sozinho fechou essa porta.
Mas a aproximação de parte do PSDB com a administração de Rollemberg não
significa uma imediata decisão por aliança. Há muito ainda a ser discutido. O
PSDB/DF está rachado e sob o comando do atual presidente, deputado Izalci
Lucas.
O tucano, que trabalha para ser candidato ao Buriti
contra Rollemberg, ficou indignado com a negociação. Ele conta que recebeu uma
ligação de Jereissati na véspera do encontro do tucano com Rollemberg, ocorrido
no cafezinho do Senado. O presidente do PSDB foi leal e contou que havia um
convite para Abadia, ressaltando que o governador do DF tinha uma boa notícia
para dar. “Notícia boa seria Rollemberg desistir da reeleição”, rebate
Izalci.
Adesão
O tucano do DF sabe que a política é feita também
de imagens. Ele tem feito uma peregrinação para convencer eleitores e aliados
em partidos que se identificam com o PSDB sobre a viabilidade de sua
candidatura. A adesão de parte da legenda ao governo Rollemberg provoca
instabilidade nessa negociação. Por isso, Izalci passou o dia ontem numa
batalha para tentar desvincular a nova parceria com as diretrizes do partido.
No início da tarde, ele gravou e distribuiu um vídeo nas redes sociais em que
Tasso Jereissati fala sobre o assunto: “O PSDB nacional tem como visão que cada
executiva regional ou estadual resolva suas questões sobre as alianças locais
desde que evidentemente, numa eleição majoritária para presidente, não
interfiram na estratégia nacional”, disse.
Em nota no fim do dia, Izalci ressaltou que a ida
de Abadia para o governo Rollemberg contraria “frontalmente” as deliberações do
partido. “Ao aceitar a nomeação, Maria de Lourdes Abadia tomou uma decisão
pessoal e não partidária”, afirma. Para Izalci, a tucana deveria “no mínimo” se
licenciar de sua filiação partidária. A questão será decidida em reunião
extraordinária nos próximos dias. “O assédio do governador a pessoas de outros
partido — nos últimos dias notadamente àquelas filiadas ao PSDB — chega
às raias da indecência”, acrescentou.
Durante o anúncio ontem, Rollemberg fez questão de
se concentrar nas questões do governo e nos benefícios que a aliança trarão
para a gestão. “Vamos falar de eleições apenas em 2018”, registrou. Ele, no
entanto, fala nos bastidores sobre a aliança entre PSB e PSDB. Abadia, ao
contrário, foi mais explícita: “É claro que todos estão pensando em 2018’.
Apoio do PSB
Ao participar do programa CB.Poder, uma parceria
entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, o presidente nacional do PSB,
Carlos Siqueira, apoiou o convite feito por Rollemberg a Maria Abadia. “Antes
de falar com qualquer pessoa, o governador Rollemberg me ligou e me consultou.
Eu aprovei”, garantiu. “Conversei com o presidente nacional do PSDB. Alianças
regionais não têm, rigorosamente, nada a ver com a aliança nacional. São duas
coisas distintas”, justificou o presidente do PSB.
De acordo com Siqueira, “as alianças estaduais para
o governo e para a eleição ao Senado deverão ser feitas de acordo com a
situação de cada um dos estados”. O PSB tem conversado com o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e com o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro
Gomes. “Vamos conversar também com Marina Silva. Não podemos decidir essa
questão nacional agora mas, no plano dos estados, essas alianças serão feitas
de acordo com a realidade estadual”.
Quem é quem - Um destino de vice que pode se repetir
Ex-governadora do DF Maria de Lourdes Abadia tem
uma longa história na política da capital do país. Foi deputada federal
constituinte, pelo extinto PFL, e depois ajudou a fundar o PSDB ao lado de
expoentes da legenda, como Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
Entrou na política pela atuação em áreas sociais, principalmente no início de
Ceilândia.
Aos 73 anos, Abadia está afastada de cargos
públicos desde que perdeu a reeleição em 2006, derrotada por José Roberto
Arruda, que venceu no primeiro turno. Durante sua campanha, esperava o apoio de
Joaquim Roriz, de quem foi vice-governadora, mas reclamou de ter sido
abandonada. Mesmo assim, ontem, ao comentar a entrada no governo de Rodrigo
Rollemberg (PSB), Abadia ressaltou que nunca fechou portas em sua trajetória
política.
Apoiou a candidatura de Cristovam Buarque em 1994 e
exerceu durante seis meses o cargo de secretária de Turismo, de onde saiu pelos
conflitos que o governo petista no DF mantinha com o então presidente FHC. Na
atual legislatura, exerceu cargo no gabinete do deputado Raimundo Ribeiro, que
se elegeu pelo PSDB e depois migrou para o PPS. Andava fora dos holofotes
políticos mas, nos últimos meses, assumiu uma postura mais determinada dentro
do PSDB. Tem sido incentivada a costurar uma negociação para que o partido
integre a chapa de Rodrigo Rollemberg, como vice.
Abadia seria esse nome. Se der certo, ela pode
chegar novamente ao comando do DF. Se Rollemberg se reeleger e decidir disputar
algum cargo público no pleito seguinte, terá de se desincompatibilizar e a
número dois na linha de sucessão será a tucana, que poderá herdar mais nove
meses como governadora. Foi o que aconteceu no governo Roriz.
Em busca do aval dos caciques nacionais
Em busca do aval dos caciques nacionais
Aos 61 anos, o deputado federal Izalci Lucas
trabalha abertamente para conseguir disputar o Palácio do Buriti. No fim do ano
passado, o tucano chegou tratar com Rodrigo Rollemberg da indicação de cargos
no governo do DF, mas a negociação não prosperou. Izalci reclama de que os
compromissos assumidos pelo governador não foram cumpridos.
Agora, a menos de um ano da eleição e com críticas
à atuação de Rollemberg, ele não acredita mais em aliança. Presidente regional
do PSDB, indicado pela direção nacional, em intervenção que impede eleições
internas, o tucano tem o controle do partido, mas uma briga interna tumultua a
trajetória do parlamentar até as urnas.
Izalci tromba com a ex-governadora Maria de Lourdes
Abadia, a tucana que chegou mais longe na política local, e com o único
deputado distrital do PSDB, Robério Negreiros. Para manter seu projeto de
candidatura ao GDF, Izalci busca apoio dos caciques tucanos. Esteve com o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com o prefeito da capital paulista,
João Doria, e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
No atual mandato, foi o presidente da comissão
especial que analisou a MP 759/2016, que trata da regularização fundiária, um
palanque e tanto, graças à boa relação com o presidente Michel Temer. Essa
lealdade ao Palácio do Planalto o levou a votar pelo não prosseguimento das
duas denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer.
Assim, vai conquistando aliados nacionais, mas precisa buscar parceiros no DF.
Sua pré-candidatura ainda não reúne apoios de outros partidos.
Com retaguarda
Apesar de manter a força da executiva regional, o
presidente do PSDB-DF, Izalci Lucas, dificilmente conseguirá apoio nacional
para sua pretensão de expulsar da legenda a ex-governadora Maria de Lourdes
Abadia. Ela tem retaguarda no partido. O ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, Eduardo Jorge Caldas Pereira e Pimenta da Veiga são aliados históricos
da tucana. Além disso, o sim de Abadia a Rollemberg foi autorizado pelo
presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). A ex-governadora do
Rio Grande do Sul Yeda Crusius também apoiou o movimento de Abadia.
Tucanos animados na residência oficial
Um casal de tucanos fez a festa ontem na residência
oficial de Águas Claras, na tarde em que o governador Rodrigo Rollemberg
(PSB) anunciou a entrada do PSDB em seu governo. Como a coluna havia mostrado,
a ave que simboliza o partido já vinha pousando nas árvores da mansão, mas
ontem um macho e uma fêmea pareciam em polvorosa. Cantavam e voavam animados.
Foi a sensação do evento. Rollemberg brincou: “Vou apelidar de Abadia e
Virgílio”.
Mensagem para Márcia nas redes sociais
O governador Rodrigo Rollemberg postou ontem nas
redes sociais uma mensagem carinhosa pelo aniversário de 37 anos de casamento
com Márcia Rollemberg, com quem tem três filhos e dois netos. “Quantas
aventuras, quantas emoções, quantos momentos difíceis, quantas vitórias,
quantas alegrias. Agradeço a Deus a companheira que tenho”, escreveu.
(*) Ana Maria Campos – Helena Mader – Fotos:
Arquivo Pessoal – Ed Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense