Sem
água, sem vida
*Por Circe Cunha
Os cientistas lembram que o cerrado abriga as nascentes de oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras e responde por um terço da biodiversidade do Brasil, com 44% de endemismo de plantas. Por seu lado, a redução desse bioma vai alterar os regimes de chuvas, impactando não só o agronegócio, mas a existência da própria capital do país. A situação é mais calamitosa no norte de Minas Gerais, que pode, em menos de duas décadas, se transformar em deserto, inviabilizando economicamente mais de um terço de todo o estado. O desmatamento, a monocultura e a pecuária intensiva, em conjunto com as condições climáticas adversas, já levaram a pobreza e a miséria a mais de 142 municípios mineiros, o que já afeta mais de 20% da população do estado.
É preciso que todos compreendam que o que garante de fato a produção agrícola e a pecuária no Brasil é o equilíbrio ambiental. Sem ele não há formação de chuvas por evapotranspiração e, por conseguinte, não há água para plantas e animais, inviabilizando tudo. A destruição do cerrado trará repercussões catastróficas para o país. Segundo cientistas que há décadas estudam o bioma, nessa região as raízes atuam como gigantescas esponjas, absorvendo as águas das chuvas e levando-as a recarregar os aquíferos, favorecendo a maioria dos grandes rios da América do Sul. Guarani, Urucuia e Bambuí alimentam desde as represas de São Paulo até o próprio Rio São Francisco.
Especialistas alertam que o incêndio que devasta agora o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, considerado o maior de todos os tempos, trará sérias consequências para o abastecimento dessas reservas subterrâneas. O caminho das águas vai das raízes esponjosas para os lençóis freáticos e desses para os aquíferos, num ciclo sem fim. Nesse caso e mais uma vez, os cientistas estão de acordo com a sentença: a destruição do cerrado significa a destruição dos rios em curto espaço de tempo, sendo que a reposição da vegetação original e diversa é tarefa impossível. A destruição da vegetação levou ao desaparecimento de abelhas e vespas nativas, fundamentais para o processo delicado de polinização das plantas, impedindo sua reprodução.
A situação alarmante teve início ainda nos anos 70, com a expansão das fronteiras da agropecuária sobre o cerrado. No caso da crise hídrica que afeta o Distrito Federal, a utilização das águas subterrâneas para a irrigação da lavoura no entorno da capital vem prejudicando a recarga dos aquíferos, o que agrava, ainda mais, a escassez de água na capital. Como na natureza tudo parece interligado em um sistema harmônico, a insuficiência na recarga de água dos aquíferos prejudica as próprias nascentes, que começam a desaparecer, uma a uma, num efeito em cadeia, o que compromete gravemente o abastecimento de córregos e rios.
A cada ano aumenta o número de municípios pelo interior que declaram situação de emergência por causa da falta de água. Este ano foram 872 nessa condição. O que os latifundiários do agronegócio não compreenderam ainda é que, com a destruição do cerrado, toda a atividade agropastoril desaparecerá junto. Nem a criação de caprinos será viável nesse cenário de destruição. Estamos todos, conscientemente, destruindo o chão sob nossos pés. Com o aumento da população e do consumo, temos a destruição do meio ambiente e a resposta seca da natureza concomitante aos efeitos do aquecimento global. A poluição crescente e o descaso das pessoas e dirigentes, tudo leva a crer que entramos num ciclo descendente que parece preparar nosso próprio fim.
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A frase que não foi pronunciada
"EnCerrado. Acabou-se o que era doce."
(Pensamento do Rio Doce enquanto vê a incompetência brasileira em gerir as águas)
Pesquisa
» Em 2016, a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD) 2016, feita pela Codeplan, mostrou que o Lago Norte se destaca pela quantidade de moradores com alta escolaridade. Do total de residentes no local, naquele ano cerca de 56% possuíam nível superior completo, incluindo especialização, mestrado e doutorado.
Participação
» Aconteceu sob a coordenação da Arquidiocese de Brasília o Seminário de Formação Política, que visa aprofundar a relação entre a fé e a política e a vocação ao serviço público. Ontem foi o III Círculo de Formação Política com o tema: "O poder político: Câmara Legislativa e suas funções". O debate girou em torno de como os católicos podem atuar para melhorar a política brasiliense. Informações pelo email imprensa@arquidiocesedebrasilia.org.br.
(*) Circe
Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog-Google