Só
você salva a política
Gravemente feridas pela Lava-Jato, as
elites políticas que se apossaram do Estado brasileiro estrebucham. Sentem-se
ameaçadas pela forte rejeição popular que tomou conta das ruas depois de vir à
tona o insaciável esquema de corrupção que se disseminou pela máquina pública e
estarrece o país a cada capítulo, dia após dia. Temem uma surra nas urnas. E
mais do que isso: sabem que, se perderem o mandato e o foro privilegiado no
STF, muitos terão de prestar contas ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, onde o
risco de ir para a cadeia é grande.
É nesse cenário que, acuados e desacreditados como nunca, direita e
esquerda — desde o PT, o PMDB, o PSDB eo DEM ao centrão — se unem para não
sofrerem em 2018 o mesmo revés que petistas, na esteira do petrolão, amargaram
nas eleições municipais de 2016. O medo é tanto que nem aceitam discutir
alternativas, como a convocação de uma constituinte exclusiva para fazer
mudanças no atual sistema eleitoral, que nada tem de democrático. A cada
eleição, não me canso de repetir, somos obrigados a ir às urnas apenas legitimar
a ação de quadrilhas — instaladas em partidos — que vão se apoderar do Estado e
encher os bolsos de dinheiro.
Mesmo sem permitir mudanças que ponham em risco ainda maior seus
mandatos, a elite política atual pressente que o povo pode lhe arrancar das
mãos a bolsa da viúva. Antes voltada sobretudo para o PT — pelo mensalão, pelo
petrolão, por trair a promessa de fazer política com ética e por atolar o país
na pior recessão da história —, a forte insatisfação popular com os políticos
pilhados em escândalos de corrupção se estendeu praticamente a todos os
partidos. Até àqueles que, aparentemente a salvo das denúncias, atuam como
satélites petistas no Congresso.
Nesta semana que se encerra, as excelências, apesar da difícil situação
do país, não hesitaram, mais uma vez, em enfiar a mão em dinheiro público —
leia-se: dinheiro de todos nós — para bancar as próprias campanhas no ano que
vem. Farão a partilha de, no mínimo, R$ 1,7 bilhão. Batizaram o escárnio de
“reforma política”. Relator da proposta na Câmara, o petista Vicente Cândido
não escondeu a decepção. Queria mais! “É muito para quem vai pagar, o povo
brasileiro, e é pouco para quem vai receber”, disse.
Enquanto isso, caro leitor, falta dinheiro para a educação, a saúde e a
segurança pública, que agonizam. Mas lembre-se: como não há saída fora da
política, em 2018 faça valer o real significado da democracia. Ponha-os para
correr no voto. Há o risco de eleger novos desonestos? Há. E é grande. E, outra
vez, será preciso combatê-los. Vai continuar assim até o povo entender que não
existe salvador da pátria, que não há almoço grátis e que política não é apenas
ir às urnas de tempos em tempos. É um exercício diário de cidadania. Se não
aprendermos isso, eles vão continuar recheando as cuecas com dólares, fazendo
“pactos” em troca de fortunas, tríplex, sítio, correndo com malas de dinheiro e
povoando apartamentos com milhões de reais. Não dá para manter isso.
(*) Plácido Fernandes Vieira – Correio Braziliense
– Foto/Ilustração: Blog - Google