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Por uma "Bienal Brasília"

Por uma Bienal Brasília

*Circe Cunha

Com o título concedido agora pela Organização das Nações Unidas para a Ciência e Cultura (Unesco) de Cidade Criativa do Design, aumentam, ainda mais, as responsabilidades de Brasília em manter o status de Patrimônio Cultural da Humanidade, atribuída à capital por essa mesma entidade há 30 anos. Com a concessão desse título pela Unesco, torna-se quase obrigação moral e uma necessidade prática a criação pelo GDF de uma escola pública de design, desde a base até os níveis mais avançados.

Infelizmente a sociedade ainda não despertou para a necessidade de criar por aqui uma bienal de design que, a exemplo do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que anda na sua 50ª edição, ajudaria, sobremaneira, a divulgar para o país e para o mundo a sofisticação e o alto profissionalismo de nossa produção artística.

Reconhecimento importa principalmente em responsabilidade de dirigentes e da população. Com o mérito de mais esse título, é oportuno que se retomem discussões sobre o estado da arte na capital, incluindo aí desde a preservação do patrimônio material até a preparação adequada das novas gerações para dar prosseguimento a estudo, preparação e prática cotidiana do fazer arte.

Para tanto, é fundamental que sejam reintroduzidas, nas escolas públicas o ensino das artes. Todas elas. Não apenas para preencher lacunas e atender as exigências mínimas da grade curricular imposta pelos burocratas da educação, mas como condição essencial para a formação do cidadão, naquilo que ele tem de mais precioso, que é a capacidade de interpretar o mundo a seu redor, extraindo dele o que ele tem de mais valioso e educativo.

A capital das artes precisa, antes de tudo, de aceitar a responsabilidade de ser também a capital do ensino das artes. Brasília, onde o ensino e prática das artes seja reconhecida como referencial para o restante do país e quiçá para o mundo. Houvesse prosseguido seu trabalho dentro do preconizado na formulação original desde Paulo Freire até Anísio Teixeira e outros educadores, o modelo da escola-parque seria facilmente reconhecido hoje como o maior celeiro de artistas do país, não devendo nada aos grandes centros de artes espalhados pelo mundo afora.

É preciso reconhecer que o título concedido vem muito do trabalho realizado pelos artistas que colaboraram lá atrás na construção de Brasília. Gente como Athos Bulcão, Burle Marx, Ceschiatti, Bruno Giorgi, Marienne Peretti, Sérgio Camargo, Alfredo Volpi, Joaquim Tenreiro, Sérgio Rodrigues, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer. O maior problema no caso da produção artística persiste ainda na atrelação antiga aos ditames do governo.

Há ainda entre nós um compadrio entre arte e governo. O que se mostra necessário, numa terra de escassos mecenas e de fundações com esse sério propósito, é também o calcanhar de Aquiles de nossa produção. Como bem ressaltaram os técnicos da Unesco, a concessão desse título é fator estratégico não só para o desenvolvimento urbano sustentável e a inclusão social, mas sobretudo para salientar a importância das artes na construção de uma cidade mais humana e fraterna. Brasília surgiu exatamente da junção entre arte e arquitetura, portanto seu destino natural parece ser prosseguir nesse modelo, aliando ao bom urbanismo o que de melhor nossos artistas produzem.

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A frase que  foi pronunciada
“Qualquer coisa que encoraje o crescimento de laços emocionais tem que servir contra as guerras.”
(Sigmund Freud)



(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google

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