O (STF) - Supremo e as mídias sociais
*Por » Joaquim
Falcão
Saíram recentemente os resultados do Índice de
Confiança na Justiça (ICJBrasil), pesquisa produzida pela Escola de Direito de
São Paulo da Fundação Getulio Vargas, sobre a confiança dos brasileiros em suas
instituições. Alguns dados chamam atenção, como a queda na avaliação da
Justiça, uma vez que houve significativa redução em comparação com pesquisas
realizadas em anos anteriores e, de forma geral, houve queda na confiança da
população brasileira em quase todas as instituições avaliadas.
O que
surpreende, contudo, é que, ao mesmo tempo que se observou uma queda geral no
índice de confiança da população nas instituições, a confiança depositada nas
redes ou mídias sociais, em um período de um ano, apresentou significativo
aumento de 61%. Saiu da décima posição no ranking no índice de confiabilidade
para atingir a terceira posição.
Nas
primeiras pesquisas, somente estavam incluídas as seguintes instituições:
Forças Armadas, Igreja Católica, Ministério Público, imprensa escrita, grandes
empresas, emissoras de TV, polícia, Poder Judiciário, governo federal,
Congresso Nacional e partidos políticos. Ou seja, eram aproximadamente 11
instituições avaliadas. Nas últimas pesquisas foram incluídos: o Supremo
Tribunal Federal, como instituição distinta do Poder Judiciário, as redes
sociais, distinta de Imprensa e televisão, por exemplo, e os sindicatos. São
agora 14 instituições.
O
brasileiro continua a confiar primeiramente nas Forças Armadas, e depois nas
igrejas. A novidade é que, logo em terceiro lugar, confia nas mídias sociais,
isto é, a internet, o Facebook e Twitter, por exemplo. Essa confiança nas
mídias sociais vem antes da confiança na imprensa escrita, em quarto lugar, e
das próprias emissoras de TV, em 5º em lugar.
Esse
resultado é surpreendente. Em geral, um dos argumentos no embate entre imprensa
e mídias sociais é que os jornais e revistas, por exemplo, tinham filtros
editoriais de credibilidade e veracidade. O leitor confia no jornal porque
confia nos critérios de seus filtros. E as mídias sociais, como representam um
território de liberdade maior, veiculariam notícias inverídicas, muita opinião
sem sentido, e até fake news.
Não
parece ser o caso. Uma das responsáveis pela pesquisa, a professora Luciana
Gross tem uma explicação consistente para esse fenômeno. As pessoas confiam
mais em quem elas conhecem melhor. E mutuamente se sintonizam. Elas conhecem as
pessoas que lhes enviam notícias e opiniões por meio do Facebook, da internet e
do Twitter.
Sem
mencionar que as mídias sociais têm maior liberdade de expressão, e comunicam
também e fortemente emoções, sentimentos, humor, crítica, por exemplo. Foi o
que se viu no debate recente do Supremo sobre o papel da raiva na decisão de um
ministro.
Mesmo
tendo a mídia tradicional tratado desse debate com cautela, assim não o fizeram
as mídias sociais, nas quais houve grande repercussão. O debate entre ministros
se transformou em trend topics, com nítida vantagem para o ministro Luís
Roberto Barroso. Como se ele simbolizasse melhor, o ideal de Justiça e de
comportamento dos internautas.
Outra
novidade a ser destacada é o fato de a confiança no Poder Judiciário e no
Supremo Tribunal Federal apresentar números iguais. Ambos têm apenas 24% de
confiança dos cidadãos. E estão em nono e décimo lugares, em um total de
quatorze instituições. Somente à frente dos Sindicatos, do Congresso Nacional,
dos Partidos Políticos e do Governo Federal.
Como não
temos ainda uma série histórica é difícil interpretar essa igualdade de confiança
entre Supremo e Poder Judiciário. Pesquisa realizada, havia uns poucos anos,
por Luci de Oliveira e por mim, evidenciava que era o Supremo Tribunal Federal
que, de alguma forma, chamava mais a atenção dos internautas, competindo apenas
com temas criminais, como, na época, o caso do goleiro Bruno, o que pode estar
se confirmando.
Na
confiança dos cidadãos, o Supremo molda o Poder Judiciário, embora essa seja
apenas a ponta do iceberg. Mas esse resultado também sugere duas outras
explicações. A crescente atenção que alguns ministros concedem às mídias
sociais, alguns com Facebook e Twitter. E a excessiva centralização da produção
de justiça no Supremo.
(*) Joaquim Falcão -
Professor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro –
Fonte: Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google