República dos suplentes
*Por Circe Cunha
Já que a reforma política não veio na medida
pretendida pelos eleitores, prosseguimos em círculos, tendo que vivenciar
sempre os mesmos e velhos problemas, num círculo fechado e infinito que vai
adiando, sine die, a entrada do Brasil no hall dos países sérios e modernos. A
permanecer nesse compasso, entraremos em 2018 com os mesmos mecanismos que nos
mantêm atados ao passado.
Considerada por muitos a mãe de todas as reformas,
os aperfeiçoamentos necessários no nosso modelo de representação, na realidade,
ficaram intocados naquilo que entendia a sociedade como fundamental. A começar
pela fidelidade e o cumprimento total do contrato estabelecido entre o
candidato e seus eleitores, principalmente naquilo que foi prometido e
explicitado no programa estratégico pelo eleito.
Nesse sentido, toda a vez que um político troca de
legenda, ele se afasta de suas funções para ocupar outro cargo ou renuncia, o
contrato original de campanha é rompido e o eleitor se sente traído e
abandonado no meio do caminho. Infelizmente essas situações têm se tornado tão
corriqueiras que já fazem parte de nossa paisagem política.
Enquanto a legislação não obrigar o eleito a
cumprir a totalidade do mandato, a dança das cadeiras no legislativo
prosseguirá, com situações inusitadas em que o cidadão vota num candidato e
quem assume é um suplente, totalmente desconhecido e sem um voto sequer. Pior.
O suplente, muitas vezes desconhecido dos eleitores, mesmo sem receber votos,
assume a vaga e passa a receber os direitos como se fosse um senador eleito.
O peso desses suplentes no parlamento não é
desprezível e varia hoje entre 20% e 30% nas duas Casas do Legislativo. São
tantos e tão diversos que poderiam formar uma bancada dos suplentes, com
propostas próprias.
O sensato para grande parte da sociedade seria, em
caso de vacância do mandato, o cargo ser ocupado pelo segundo mais votado. Mas
o que ocorre, na maioria das vezes, é que o suplente e seu grupo, muitas vezes,
contribuem financeiramente com a campanha e por esse motivo acabam assumindo o
cargo em algum momento para a conclusão dos acordos de gaveta, estabelecidos
bem longe do olhar dos eleitores. O pior nessa situação é quando o suplente que
assume traz consigo uma folha corrida que mostra uma vida pregressa repleta de
ilícitos de toda a ordem. Nesse caso, o eleitor que votou no gato e passa a ser
representado pelo pato percebe a inutilidade de seu voto e passa a descrer na
própria democracia, com riscos evidentes.
É justamente esse o caso que está para acontecer no
Distrito Federal caso o atual senador Cristovam Buarque confirme sua intenção
de se licenciar do cargo por quatro meses. Neste caso, assumirá a vaga Wilmar
Lacerda, do Partido dos Trabalhadores, um suplente sem votos e com uma lista de
explicações em aberto a ser prestada à justiça. Caso se confirme essa previsão,
quem de fato sairá mal na fotografia perante os brasilienses será o próprio
Cristovam, que abriu a porteira para a entrada de um alienígena não previsto e
tampouco desejado pela maioria dos eleitores da capital.
****
A frase que foi pronunciada
“Podemos escolher o que plantar, mas somos
obrigados a colher o que semeamos.”
(Provérbio Chinês)
Gratuito
» Na terça-feira, dia 21, das 14h às 18h30, no
auditório do Correio Braziliense, na programação do Correio Debate, o assunto é
o Caminho para exportação - Pequenas e Médias Empresas. Autoridades no assunto
descortinarão o cenário do Comércio Exterior. O evento será encerrado com a
exposição do Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.
Caos
José Rabello está certo. Na cidade, os carros
estacionam nas calçadas, gramados, e nada acontece com os motoristas. São
impunes. Isto não é ordem, nem progresso.
Nosso carinho
» Se depender de orações, Marcia Rollemberg vai
vencer tranquilamente a doença. Ativa na sociedade, a primeira-dama não cruza
os braços. Apontamos erros que devem ser apontados, denunciamos quando é
preciso, mas a verdade é que Brasília precisa da saúde de Marcia Rollemberg.
(*) Circe
Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google