Brasília, com passado e sem futuro
*Por Circe Cunha
Por razões culturais e outras características muito
próprias de nossa formação histórica, falar em planejamento no Brasil ou em
planos de longo prazo, invariavelmente, não resulta em nada. Definitivamente,
não temos vocação para o futuro. O tempo e o nosso desleixo natural cuidam de
dissolver planos ou quaisquer anseios, mesmo os mais simples. Só é definitivo
no nosso país o que for provisório.
O que ocorre hoje com a capital do país exemplifica
e explica muito esse desencontro que mantemos entre o presente e o amanhã.
Planejada dentro do espírito otimista dos anos 1960, quando se imaginava que o
país estava prestes a despertar de seu sono profundo tido em berço esplêndido,
quatro anos depois de inaugurada, Brasília se viu como sede do poder de um
novíssimo governo, que logo se mostrou avesso a todos aqueles que haviam
idealizado a nova capital. Perseguições, prisões e mudança de rumos políticos tiveram
o dom de alterar os rumos da cidade.
O exílio imposto a alguns entusiastas da nova capital fez esfriar os
ânimos desses e de outros idealizadores da cidade, e os planos originais ou
foram deixados de lado ou perderam seu sentido de ser. O que se seguiu foram
intervenções descasadas dos projetos pioneiros.
De fato, a nova realidade acabou por impor novos modelos à capital.
Seguimos em frente sem muito entusiasmo, até a chegada o governo de José
Aparecido. Mineiro com sensibilidade e com boas relações com o mundo cultural,
sua administração (1985–1988) trouxe algum alento à cidade esquecida. Mas por
pouco tempo. Com o advento, inexplicável, da emancipação política da capital,
com a criação de um gigantesco e dispendioso aparato de gestão pública, perdulário
e desonesto, o que era não mais do que displicência urbana, se converteu num
caos generalizado, com a formação súbita de bairros dormitórios ao redor da
capital, invasão de terras públicas, transformadas em moeda de troca por
políticos aventureiros, sem compromisso algum, até mesmo moral com os destinos
da capital.
O que se seguiu é o que se tem agora: uma cidade que à semelhança de
muitas outras país afora, caminha para se tornar inadministrável, não só por
seu gigantismo disforme e acelerado, mas, sobretudo, pelo acúmulo de distorções
e equívocos urbanos, feitos às pressas para atender esse ou aquele governador
em particular, nunca, porém, em favor do futuro dos brasilienses.
O Estádio mamute é um bom exemplo desse tipo de equívoco. Com o caos
urbano, vieram seus descendentes diletos na forma de violência desenfreada,
congestionamento dos serviços públicos e, agora, com a escassez do
abastecimento de água. O cercamento de prédios por grades metálicas, a invasão
indiscriminada de áreas públicas, os puxadinhos disformes e o abandono de
espaços de cultura e lazer formam apenas o outro lado dessa moeda, que tem como
lastro apenas a credibilidade vazia de nossos políticos locais.
****
A frase que não foi pronunciada
A frase que não foi pronunciada
“Socorrooooo!”
(Grita Brasília ao Executivo, Legislativo e Judiciário)
(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google
Parabéns pelo seu artigo. Uma discordância, apenas, que é histórica - eu e seu pai, com muito respeito, debatemos o tema da representação política por muitas vezes, ele contra, na sua até hoje prestigiada coluna, que você tão bem complementa, eu aqui, no agora no meu cinquentenário JORNAL SATÉLITE, a favor. Foi um luta e tanto, a partir de quando iniciei a campanha em Taguatinga, na Asociação dos Advogados, que eu fundei e presidi, depois como presidente da OAB, levando-a para a ACDF, onde me ajudou muito o Lindberg Cury, tornando-a nacional, já que não havia razão de só os moradores do DF não serem cidadãos - ou seja, não terem o direito básico de qualquer cidadão brasileiro- votar e ser votado. Por que sermos cassados? Nem nos consultaram... Lutei muito pelo Direito de Voto para o DF, a ponto de arrancar de Tancredo Neves a frase que, na Constituinte, garantiu o Direito de Voto para os moradores do Distrito Federal: Conheço cidadãos cassados, conheço grupos cassados, mas cidade cassada só conheço Brasília". Pena que a Câmara Legislativa (um frankstein - mistura de Assmebléia Legislativa, que tem em todos os Estados, e Câmara de Vereadores, como há em todo município) foi tomada pelas corporações e os deputados distritais não souberam ter atitudes próprias de legítimos representantes políticos. Mas é assim mesmo no processo democrático: estamos ainda nos primórdios, há muita água para passar debaixo da ponte - a consciência política do cidadão do DF, que não está muito diferente da dos demais cidadasos brasileiros. É o preço da democracia - todos têm direito a serem ouvidos e vistos rsrsrs Feliz 2018 - e um abraço no nosso querido Ari Cunha.
ResponderExcluir