Sem poluição visual
*Por Jane Godoy
Através dos anos e, passeando pelas páginas desta
coluna, assistimos a grandes e acirradas campanhas para a retirada de faixas
nos gramados, anunciando de tudo, de venda de imóveis a garage sales ou animais
desaparecidos, outdoors colocados em lugares impróprios ou não permitidos.
Felizmente, aqueles cartazes presos por arames que
“enfeitavam” os postes ao longo das principais vias foram banidos e, a não ser
por algum deslize, ainda são encontrados aqui e ali. Esse comportamento
transformava a cidade num amontoado de pedaços de madeira e arames que
permaneciam ali por longo tempo, até que apodreciam e enferrujavam, até cair no
gramado ou nas pistas de rolamento.
Briga daqui, briga dali, arrancavam as faixas que
se mostravam nas muretas dos viadutos e outros lugares e elas pareciam brotar
do chão ainda mais vistosas e coloridas. Houve uma trégua. Em nome da poluição
visual que deveria ser evitada e do visual das pistas que deveriam ser
preservadas houve uma trégua.
Como se tornou uma forma de publicidade difícil de
disciplinar ou banir, certa vez até sugeri aqui que, considerado
impossível fiscalizar, pelo menos o governo baixasse um decreto, exigindo, sob
pena de punição, que os fazedores e colocadores de faixas as recolhessem assim
que o prazo da publicidade expirasse. “Tipo assim”: sujou, poluiu, venha
limpar, recolhendo aqueles restos de arame enferrujado e aquelas madeirinhas
que, perigosamente, ficam balançando semi-soltas sobre a pista, lá embaixo.
É claro que não adiantou nada, mas deixamos aqui a
nossa preocupação com o fato e a sugestão dada. Fizemos da nossa parte.
Outra queixa foi a colocação daquelas banquinhas de
souvenirs ao pé dos lindos evangelistas de Ceschiatti, justamente na entrada da
Catedral Metropolitana de Brasília, maculando aquela importante obra
arquitetônica, a “menina dos olhos” de Niemeyer, segundo palavras dele próprio.
Os turistas têm que levar para o mundo — não há alternativa — as suas fotos com
aqueles tabuleiros mal-arrumados à sua frente. Uma pena! Ousados, eles aproveitam
o parapeito da descida da rampa para o interior da catedral, como bancada para
a colocação de seus produtos, onde se encontra “de um tudo”: miniaturas de
monumentos a estojos de manicure e guarda-chuvas.
De novo, sugerimos que um designer projetasse
barracas padronizadas, arrumadinhas e confortáveis que, colocadas em local
estratégico fora daquela entrada principal, pudessem receber os turistas e
vender seus souvenirs. Sem interferir na arquitetura da catedral, sem poluir de
forma desagradável as fotos dos visitantes.
Adiantou? Claro que não! Tudo “continua como antes,
no quartel de Abrantes”. Mas, mais uma vez, fizemos a nossa parte.
De uns anos para cá, outra questão poluente e
desagradável surgiu em Brasília e, contrariados, leitores e mais leitores, além
de amigos, me procuram para se queixarem dos quiosques que, de forma
desordenada avançam pela cidade, invadindo calçadas e, em certos lugares,
deixando os pedestres sem opção para se locomover com segurança. Ou a gente
passa por dentro dos quiosques ou a pista, então, é o nosso único recurso,
compartilhando com os carros, aquele cantinho onde possamos chegar ao nosso
destino.
Contaram-me que até se preocupam de colocar uma
plaquinha indicativa de “CALÇADA” para informar ao pedestre sobre aquela que
foi feita para ele, mas se transformou em piso de um verdadeiro restaurante a
céu aberto.
Sabemos que os ambulantes, vendedores de souvenirs
precisam estar onde o turista está. Sabemos que todos precisam trabalhar,
defender seu pão de cada dia. Sabemos o quanto os quiosques contribuem para que
as pessoas, que saem de casa de madrugada para enfrentar filas nos hospitais e
prontos-socorros precisam se alimentar.
Só não sabemos o porquê de tudo correr
desordenadamente, sem planejamento, sem fiscalização, sem cuidados, deixando a
cidade feia, suja, poluída visualmente, parecendo terra de ninguém, onde
qualquer um que cismar de montar um negócio na porta de um monumento importante
ou hospital, simplesmente chega e se estabelece. Pura e simplesmente,
submetendo o plano urbanístico da cidade a ser maculado sem medida, sem
autoridade disciplinadora, sem cuidados.
Isso denota uma falta de amor pela cidade criada e
erguida por JK, sonhada por todos os brasileiros que gostariam tanto que ela
ficasse “bem na foto” onde quer que fosse. Uma pena.
(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus - Foto:
Iano Andrade/CB/D.A.Press – Correio Braziliense