Treinamento para operar os aparelhos foi oferecido pela Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac). Equipamento será usado para apoiar o monitoramento do
fluxo nas ruas
*Por Luiz Calcagno
Agentes do Detran passam a usar drones nas vias da capital para flagrar,
entre outras imprudências, motoristas que utilizam o celular enquanto dirigem.
Por enquanto, as filmagens feitas pelos equipamentos não vão gerar multas
Dirigir usando o celular é considerado infração
gravíssima. O artigo 252 do Código de Trânsito Brasileiro prevê multa de R$
293,47 e sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação para o condutor
flagrado atendendo, falando ao celular ou respondendo a mensagens ao volante.
Para coibir o mau hábito, agentes do Departamento de Trânsito do Distrito
Federal (Detran) usarão drones nas vias da capital. Desde segunda-feira,
equipes do órgão estão nas ruas com dois equipamentos doados pela Receita
Federal para flagrar os infratores.
Além de fiscalizar a irregularidade, os agentes
farão uso do aparelho para flagrar manobras arriscadas e veículos estacionados
em locais proibidos. De acordo com o diretor-geral do Detran, Silvain Fonseca,
ao menos por enquanto, as filmagens feitas pelo equipamento não vão gerar
multas. “A intenção é tornar nossas ações mais eficazes”, explica. “Vamos usar
as ferramentas como apoio na engenharia de trânsito, no monitoramento de fluxo
de vias, em grandes eventos e nas campanhas educativas. Em um experimento em
frente ao Buriti (Palácio), conseguimos melhorar a fluidez em 40% com o auxílio
dos novos equipamentos”, acrescenta Silvain.
Com o auxílio dos aparelhos, o diretor-geral também
espera diminuir o número de acidentes. Uma pesquisa da Associação Brasileira de
Medicina do Tráfego (Abramet) revela que o costume de usar o celular ao volante
é a terceira maior causa de acidentes de trânsito no país, com 54 mil vítimas
por ano. Para piorar, o número de brasilienses flagrados com smartphones
enquanto dirigem saltou de 50,5 mil, entre janeiro e novembro de 2016, para
64,8 mil, no mesmo período de 2017, um crescimento de 22%. “Esperamos mudar o
comportamento dos motoristas. Este ano, diminuímos em 126 o número de mortes e
queremos que chegue a zero”, diz.
Os horários de pico concentram o maior número de
acidentes e a maioria dos flagrantes de uso do celular ao telefone. “O condutor
acredita que não acontecerá com ele, mas enquanto está no celular, não consegue
parar em uma faixa de pedestres, ou acaba derrubando um motociclista ou batendo
na traseira de outro veículo. Às vezes, o condutor parece estar sob influência
de álcool, mas quando o abordamos, descobrimos que ele estava usando o celular.
Por isso, a multa passou a ser gravíssima. As pessoas estão dependentes do
aparelho telefônico e não conseguem esperar 15 minutos para retornar uma
ligação. Acredito que, por isso, o número de flagrantes cresceu tanto. A dica é
desligar o aparelho ao entrar no carro, ou deixá-lo o mais longe possível”,
recomenda Silvain.
Presença nas ruas
As ações com drones serão coordenadas pelas equipes
da Unidade de Operação Aérea (Uopa). Os agentes receberam treinamento e
certificado da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar os
aparelhos. Especialista em trânsito e professor da Universidade de Brasília
(UnB), Paulo César Marques elogia a medida, mas destaca que a presença física
do agente “é muito importante”. “Não só para fiscalizar, mas para observar e
fazer intervenções”, destaca.
Para o estudioso, o uso dos drones também supre a
carência de agentes de trânsito no DF. “Se comparado com a população e a frota,
temos um número reduzido de agentes. Isso deixa a presença deles na rua mais
restrita. O agente na rua é um fator inibidor ao cometimento de infrações. Mas
ter a capacidade de ver além, com mais agilidade, remotamente, traz eficiência
e pesa a favor dos fiscais. Eles acabam conseguindo ver a irregularidade ou a
necessidade de intervenção antes de estarem fisicamente em uma região. Uma
pequena parcela da população reclama. Acha que qualquer fiscalização é um abuso
de autoridade. Mas a maioria se sente mais segura”, afirma o professor.
(*) Luiz
Calcagno – Foto: Luis Nova/CB/D.A.Press – Correio Braziliense