Ganância
gera repúdio
*Por
Circe Cunha
Ganância,
já dizia o filósofo de Mondubim, leva ao egoísmo, e o egoísmo, à solidão. Está
sendo muito festejada pelos proprietários dos shoppings e principalmente pelos
arrendatários de estacionamentos dos centros de compras, a decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) em acolher ação direta de inconstitucionalidade (Adin),
impetrada pela Associação Nacional de Estacionamentos Urbanos (Abrapark),
declarando ilegal a Lei 4.067/2007, que estabelecia gratuidade no pagamento de
estacionamentos dos shoppings no Distrito Federal aos veículos de pessoas
idosas e com deficiência. O que, à primeira vista, poderia ser compreendido
como conquista da livre iniciativa contra o poder regulador do Estado é, na
verdade, uma vitória vazia de humanidade e de grandeza que expõe, como nenhum
outro exemplo, a ganância desmedida dos falsos empresários que veem na vitória
dessa pequena batalha um modo de aumentar seus altos lucros.
Cegos com
o brilho falso das poucas moedas, nossos empresários insistem em caminhar na
contramão de seus pares dos países do primeiro mundo, que perceberam que, por
trás de uma marca, de um produto ou de uma empresa estão as contrapartidas
éticas, humanas e sociais disponibilizadas por elas.
Questões
como fidelização dos clientes e respeito aos consumidores, fundamentais hoje
para a sobrevivência de uma empresa a longo prazo, estão intimamente ligadas ao
comportamento ético dessas companhias e compõem o perfil do moderno
empreendedor. Portanto, soa anacrônico e primitivo, principalmente numa
sociedade em que o número de idosos aumenta a cada dia, que se comemore uma
decisão, instigada unicamente pelo desejo pela riqueza e pelo acúmulo dela.
Os
altíssimos preços cobrados nos estacionamentos desses centros de comércio, há
muito tempo, vêm sendo alvos constantes de reclamações dos consumidores, pois,
diante de um sinistro, muitos se eximem de responsabilidade, mesmo cobrando uma
exorbitância.
Se, de um
lado, trazem gordos lucros aos empresários, de outro, espanta uma multidão de
clientes que resistem a ser espoliados de forma abusiva. Para os poucos idosos
que dispõem de ânimo para frequentar esses estabelecimentos, a gratuidade era
vista como forma generosa de atraí-los com segurança para esses locais,
onde, não raro, gastavam alguns bons trocados.
Soa ainda
mais dissimulada a decisão dos controladores dos shoppings em esperar o
movimento frenético de compras de fim de ano para pôr em prática uma medida que
havia sido anunciada em novembro último, numa demonstração de oportunismo e que
ofende não só a turma de cabelos brancos, bem como os milhares de deficientes
que vivem na cidade. O que pode acontecer, daqui para frente, é que algum
shopping se insurja contra essa corrente de ganância e estabeleça gratuidade
para esses clientes, chamando para si boa parte dos consumidores
desprestigiados por outros comerciantes. É um mínimo de esperança.
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A
frase que foi pronunciada
“O pior
é que, no Brasil, quando se trata de consumidor, um dia é da caça, e o
outro da pesca. Quem consome é sempre o alvo de ataque.”
(Dona Dita, sobre a cobrança para idosos nos shoppings)
Saneamento
»Mais uma notícia bem
lembrada pelo nosso leitor Álvaro Costa. Acreditem ou não, IDH mais alto do
Brasil, Lago Sul, bairro nobre de Brasília, não recebe o item mais básico de
saneamento público. Não há rede de esgotos. Apesar disso, a cobrança está lá.
Bem descrita na conta.
Passividade
»O resultado é o uso
obrigatório de fossas, contribuindo sobremaneira para a contaminação do lençol
freático e disseminação de doenças infectocontagiosas prevalentes em áreas
contaminadas. Pior que negligência, imprudência e imperícia do governo é a
absoluta falta de mobilização da comunidade prejudicada no sentido de
pressionar as autoridades públicas para a solução definitiva desse absurdo
social.
Sem barulho
»No Rio, é um
orgulho ver o bloco passar em frente à própria casa. Em Brasília, de tantas
reclamações, os blocos de carnaval vão se reunir no Estádio Mané Garrincha,
Setor Bancário Norte, ou Sul, Ginásio Nilson Nelson e por aí vão. Bem longe das
janelas.
(*) Circe Cunha – Coluna - “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha
– Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog Google