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O único salvador da pátria

O único salvador da pátria

*Por Circe Cunha

Respeito pelos adversários é, talvez, uma das mais antigas e sábias lições, legadas por muitas civilizações do passado. Nesse sentido, mais sensato do que festejar a desgraça alheia é tirar dela lições práticas para que, amanhã, esses mesmos infortúnios não se voltem contra você também. Das inúmeras lições que podem ser aprendidas com a condenação, em segunda instância, do ex-presidente Lula, muitas poderiam, facilmente compor longo e precioso manual de comportamento e ação quando os bons ventos da sorte ainda sopram sobre sua cabeça.

Para os políticos, de modo geral, principalmente para aqueles que ainda seguem a velha cartilha, fica a lição de que o Brasil está mudando rápido. Se nenhuma reviravolta vier pela frente, como o Supremo Tribunal Federal rever a questão da prisão em segunda instância, é bem provável que o país caminhe no sentido de fazer valer o que diz o artigo 5º da Constituição: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”

Num futuro próximo, historiadores poderão chegar à conclusão de que a Operação Lava-Jato e congêneres, antecedida pela criação, fortalecimento e independência do Ministério Público, representaram a maior revolução ocorrida no Brasil ao longo de toda a sua história. Nenhum outro acontecimento do nosso passado supera, em extensão e consequências, aquelas propiciadas pelas investigações e condenações da elite política, acostumada, desde sempre, a se servir do povo e do voto para cometer crimes.

Fica a lição: o Judiciário, ou parte significativa dele, está fazendo a revolução necessária que baionetas e outras revoltas populares não conseguiram. Obviamente, as gigantescas manifestações de rua deram o sinal verde para começar a mudança clamada por séculos. Que aprendam os dirigentes partidários que ninguém é insubstituível nem deve se comportar como dono de uma sigla. Grave-se que problemas de ordem pessoal devem ser resolvidos pessoalmente, não devendo arrastar toda a legenda e correligionários para os tribunais.

Regras para os próximos políticos que virão: estratégias de dividir a nação para governar funcionam enquanto a população consente. De uma hora para outra, os ventos mudam de direção e a cizânia se volta contra quem a insuflou. Anotem: em qualquer situação, as instituições devem ser respeitadas, sobretudo a Justiça. Fica a lição de que cargo público não é lugar para enriquecer, fazer favores nem comprar opiniões. Quem quer enriquecer deve se tornar empreendedor e ficar longe das coisas do Estado.

Para quem não teve pais presentes que se preocupassem com a educação e caráter dos filhos, segue uma regrinha básica: a coisa pública, uma simples folha de papel ou um toco de lápis, não pertence a quem, momentaneamente, está ocupando determinado cargo. Gravem o tema: bom governo é aquele formado por bons homens, e não por amigos, cupinchas e patotas.

Para um futuro próximo, presidentes da República, por sua importância e concentração de poderes em nosso atual modelo de Estado, deveriam ser escolhidos apenas entre aqueles postulantes que, anteriormente, ocuparam cargos de prefeito e governador, com experiência no Executivo e, sobretudo, com a aprovação positiva da população em ambas as funções e sem ficha criminal. É o mínimo.

Provou-se que ideologias funcionam apenas dentro do âmbito dos partidos, não devendo ser transplantadas para dentro do governo e muito menos para dentro do Estado. Fica entre outras incontáveis lições a que a quantidade de partidos deve ser repensada, urgentemente, para pôr fim ao modelo perverso e corrupto da república de coalizão. Conclusão: só existe um salvador da pátria, que é o próprio povo, consciente de seus direitos e deveres.

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A frase que  foi pronunciada 
“O governante que se rodeia de assessores competentes é mais competente do que eles.”
(Millôr Fernandes)

Sorte
»Nem tudo está perdido para Lula. Em setembro, quando assumir a Presidência do STF, Dias Toffoli poderá ser de grande valia para os petistas com problemas no Judiciário. Toffoli tem uma relação histórica com o partido do ex-presidente. Em várias ocasiões,  ele tem defendido e votado a favor dos antigos companheiros, mesmo naquelas situações em que o bom senso recomendava se abster.

Dança das cadeiras
»Com a mudança no comando do STF, mesmo as votações que estavam na reta final para ser concluídas, como é o caso do foro privilegiado, sob o comando de Toffoli pode ir dormitar, tranquilamente no fundo da gaveta.

2ª Instância
»Observadores próximos ao STF apostam ainda que sob a presidência de Dias Toffoli, a prisão em 2ª Instância, que tinha sido considerada um avanço contra a impunidade eterna, poderá também ser deixada de lado, voltando o entendimento anterior, ou seja, para as Calêndulas.


(*) Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google

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