A Universidade que se faz para todos
*Por Márcia Abrahão Moura
Em 2018, celebramos os 70 anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, um marco para o enfrentamento de todas as
formas de preconceito, violência e discriminação. Publicado nos anos seguintes
ao fim da Segunda Guerra Mundial, o documento é, ainda hoje, a mais forte
afirmação dos povos pela igualdade, independentemente de cor, raça, gênero ou
orientação sexual, política e religiosa dos indivíduos. A Declaração é uma
ferramenta importante a ser difundida e fortalecida frente aos inúmeros
desafios que se interpõem à efetiva concretização dos direitos humanos na
atualidade.
Ciente disso e de sua missão como uma instituição
educadora, a Universidade de Brasília (UnB) está lançando a campanha
institucional #UnBMaisHumana, por meio da qual iniciativas e projetos com a
temática dos direitos humanos serão sistematizados, aprimorados e/ou ampliados.
O Conselho de Direitos Humanos da UnB, criado em 2017, é uma iniciativa recente
da Universidade, que assinala o nosso compromisso permanente com a promoção de
uma cultura de paz e de respeito à dignidade humana. Caberá ao Conselho de
Direitos Humanos realizar estudos sobre essa temática e propor políticas
integradas para o combate à violência e à discriminação e para a melhoria do
acolhimento à diversidade na UnB.
Ao longo dos últimos anos, a composição de nossa
comunidade acadêmica se modificou. Se, antes, a UnB era frequentada,
prioritariamente, por estudantes provenientes de colégios particulares, a
reserva de vagas para negros e jovens oriundos de escolas públicas e a expansão
para além do Plano Piloto transformaram de forma definitiva o perfil discente.
No segundo semestre de 2017, mais da metade dos alunos se declarou negra
(50,6%); há cinco anos, esse percentual era de 42,3%. Em 2018, teremos 46% de
discentes que concluíram o ensino médio na rede pública de ensino e uma nova
turma de ingressantes pelo vestibular indígena – paralisado havia quatro anos.
Essa mudança no perfil dos alunos ingressantes demonstra a importância e o
potencial do ensino superior público, acessível a todos – afinal, um direito
conquistado pela sociedade brasileira.
Com uma população mais diversa na universidade,
cresceram, também, os desafios para a permanência e para o sucesso acadêmico
desses estudantes. Em muitos casos, são pessoas que vivem em situação de
vulnerabilidade econômica e que precisam de apoio para alcançarem um bom
desempenho. Nessa linha, estamos trabalhando para que possam usufruir
plenamente de todas as oportunidades de aprendizado, pesquisa e extensão que a
Universidade pode oferecer.
Um exemplo de como isso vem sendo feito está no
acesso ao Restaurante Universitário (RU). Desde o semestre passado, os
estudantes com renda per capita familiar inferior a um salário mínimo e meio
podem fazer refeições com subsídio integral no RU desde o primeiro dia de aula
— antes, eles precisavam passar por um estudo socioeconômico, que podia levar
meses para ser concluído. A Universidade também realizou modificações no
programa de tutoria, com especial atenção aos alunos indígenas e estrangeiros.
Os tutores recebem treinamento e elaboram, em parceria com os colegas
tutorados, um plano de atividades que proporciona melhor integração à vida
universitária.
Outro foco de atenção da administração diz respeito
ao combate ao racismo, ao sexismo, à homofobia, ao assédio moral e a outros
tipos de violência, física ou psicológica, nos campi. Como parte desse esforço,
aprovamos, no fim do semestre passado, a resolução que regulamenta o uso do
nome social na instituição. E, no início deste ano, regulamentamos o programa
auxílio-creche, voltado para estudantes em situação de vulnerabilidade com
filhos de até 5 anos. Além disso, estamos realizando, periodicamente,
treinamento junto ao pessoal de segurança, para uma abordagem mais adequada aos
diferentes públicos que compõem a Universidade.
Dedicamos especial atenção ao combate à violência
de gênero, que atinge especialmente as mulheres e as pessoas trans na
sociedade. Um dos principais desafios para uma #UnBMaisHumana é justamente
levar essa e outras questões relacionadas aos direitos humanos a todos os
membros da comunidade — não apenas a grupos restritos –, para que se sintam,
como parte da comunidade universitária, corresponsáveis pelo bem-estar e pela
segurança de todos.
Esperamos
que nossos esforços fortaleçam o respeito à liberdade de expressão e opinião —
direito emblemático de um Estado democrático. Nesse sentido, internamente,
buscamos valorizar os órgãos colegiados, que, hoje, têm uma participação
bastante ativa nas decisões da instituição. Assim, a Universidade de Brasília
reafirma seu compromisso com a defesa dessas premissas e com sua missão de
formar cidadãos conscientes e responsáveis, prontos para realizar as
transformações de que o país tanto precisa.
(*) Márcia Abrahão Moura - Reitora da Universidade de Brasília (UnB) – Fotos: Bento Viana - (Wilson Dias - Agência Brasil) - Ilustração: Blog – Google