Vila Cidadão
É
tudo uma questão de educação!
*Por Jane
Godoy
Começou neste fim de semana em Brasília, o tão
esperado 8º Fórum Mundial da Água, uma conquista que acompanhei desde 2014,
quando lutamos para que o Brasil e, principalmente, Brasília conquistassem esse
grande encontro, antes acontecido, em suas sete vezes anteriores, nos
continentes europeu, africano, americano e asiático. Faltava a América do Sul.
Viagens e mais viagens, incontáveis reuniões nos quatro continentes que já
haviam sediado o fórum e, finalmente, Brasília.
Agora, eis que o Hemisfério Sul recebe,
honrosamente, tão importante evento, cuja finalidade primordial é a luta pela
conscientização dos povos quanto à preservação e respeito às nascentes e
mananciais.
Quem passa pelo Eixo Monumental observa, há
semanas, toda a movimentação perto do Ginásio de Esportes Nilson Nelson, onde
dezenas de grandes e confortáveis tendas recebem o público para visitas,
palestras e aulas sobre o tema. Tudo muito estudado e trabalhado para que os
representantes dos mais de 150 países levem de Brasília a melhor das impressões.
Muito bem. Mas, e depois? E quando os holofotes se
apagarem? E quando os estrangeiros se forem com suas bagagens e teorias sobre a
preservação, a sustentabilidade, os cuidados e o respeito aos rios e à
natureza? E quando as tendas forem arriadas e tudo voltar a ser como antes
depois do encerramento do fórum?
Aí é que vem a pergunta que, aos 15 anos de
existência desta coluna, não consegue se calar: palestras, exposições, filmes,
vídeos de alerta, workshops, instalações, performances, livros, dedos em riste
clamando aos quatro ventos pelas praças e ruas da Vila Cidadã para que cuidem
da água, o extraordinário Green Nation mostrando como e o que fazer para
salvarmos o planeta vão adiantar alguma coisa?
Não. Não vão se, depois do apagar das luz, as
crianças, os jovens e até mesmo os adultos, não tiverem sido contaminados pela
mosca da preservação, comandados pelo exemplo dado durante o fórum e acometidos
da mais nobre e saudável doença: a educação!
De nada adiantam fóruns, internacionais ou não,
cursos e palestras que o vento leva se, nas escolas, desde a mais tenra idade,
as crianças não perceberem a exigência do Ministério da Educação, o empenho dos
professores, o exemplo deles, e a vontade de passar para cada um as noções de
educação e civismo, de respeito aos seres humanos que os cercam e à natureza.
Certa vez, lendo o que o fantástico pediatra Pedro
Bloch escrevia, gravei muito bem uma passagem que conservo até hoje entre os
meus alfarrábios. Ele relata que, durante uma consulta, uma cliente, prestes a
dar à luz, barrigão enorme, lhe perguntou: “Doutor quando devo começar a educar
meu filho?” Sério e com uma certa energia, ele tomou as mãos da paciente e
arrematou: “A senhora já está nove meses atrasada!”
É isso! Educação! Sem ela e sem o esforço e a
exigência, com força de lei, para praticá-la, tanto no seio da família quanto
nas escolas e faculdades, os fóruns, palestras e tudo o mais não passarão de
perfumaria e cosmética para fingir que estamos preocupados com a natureza, com
o meio ambiente, com a sustentabilidade, com os cuidados com os mananciais e
nascentes, com a qualidade de vida e o futuro do país e de nossa gente se,
depois da festa, continuarmos a ver a tristeza dos rios e córregos em que, no
lugar de água existem espuma de materiais não biodegradáveis, cadáveres de
animais, sofás, geladeiras, fogões, milhões de garrafas pet, canudinhos de
plástico que, entram em contato com peixes e tartarugas, golfinhos e baleias,
todos mortos pelo lixo que as pessoas, mal-educadas e cruas em matéria de
educação, acham que os mares, rios e pequenos cursos d’água são o lixo de suas
casas.
Portanto, governo brasileiro, ministérios da
Educação e da Saúde, aqui vai, sem querer ser dramática, mas extremamente
preocupada, um apelo sentido de uma cidadã que, no tempo de criança, usava
receber a educação necessária, as noções de civilidade e patriotismo nos bancos
escolares, deixando um legado precioso e o preparo necessário para ser um
exemplo na educação dos filhos.
Façam valer esse trabalho todo e a luta e o
dinheiro gasto para trazer para Brasília e para o Brasil o 8º Fórum Mundial da
Água. Não permitam que seja considerado uma festa que veio, fez barulho e
passou.
SAqui também deve entrar a educação e a forma
apropriada de enfrentar a questão. Não com a vulgaridade e a inconsequência
como têm sido propostas e abordadas em redes sociais, por exemplo.
Portanto, esperamos que o 8º Fórum Mundial da Água
sirva, não só para alertar sobre os cuidados com a água do planeta mas, também,
para incutir na cabeça do governo que, sem a exigência e obrigatoriedade da
obediência às normas da educação, em todos os sentidos, nada disso e muito mais
que fizerem, surtirá efeito.
É só observar o que o romano Enec Domitius Ulpianus
escreveu há dois mil anos: 1 - “Honeste vivere” (viver honestamente); 2 -
“Alterum non laedere” (não lesar a outrem); 3 - “Suum cuique tribuere” (dar a
cada um o que é seu)!
Portanto, até a corrupção e o crime são frutos da
má formação e má educação dos indivíduos.
Dá para entender?
(*) Jane
Godoy – Coluna 360 Graus – Correio Braziliense