Soluções verdes
O governador Rodrigo Rollemberg marcou a data do
mês de maio para anunciar o fim do racionamento. A crise hídrica no DF teve um
efeito positivo e essencial: o de despertar a consciência coletiva para a teia
de questões que envolvem o tema. Não quero ser apocalíptico, mas, infelizmente,
a consciência sobre as questões ambientais só tem sido possível por meio de
pequenas e grandes catástrofes.
Falta água por causa do crescimento caótico das
cidades, da especulação imobiliária, do desmatamento, da agricultura
predatória, da ausência de proteção aos mananciais e da impunidade para os que
destroem o meio ambiente. Os sinais do desequilíbrio estão escancarados. Nos
últimos anos, vivemos algumas situações de ficção científica de catástrofe.
Certo dia de sol a pino e abafamento insuportável,
comprei uma dúzia de bananas pela manhã e, quando voltei para casa, à noite,
elas estavam apodrecidas, manchadas de preto, imprestáveis para o consumo. A
temperatura da cidade tem se elevado de maneira preocupante.
Como se não tivesse acontecido nenhuma alteração
alarmante, decreto distrital da Câmara Legislativa aprovou a construção da
quadra 500, do Sudoeste, sem considerar o impacto ambiental em toda a região. O
Ministério Público do Distrito Federal moveu ação de inconstitucionalidade
sobre o projeto, que foi julgada no Tribunal de Justiça do DF.
Mas, voltando à questão da água, o importante é que
existem muitas experiências ricas e muitas propostas viáveis. Durante o Fórum
Mundial da Água, que ocupa Brasília, a Unesco publicou relatório em que defende
as soluções verdes, as soluções baseadas na própria natureza. Elas podem ser
mais eficientes do que as infraestruturas cinzas, construídas pelo homem,
adotadas como método principal de gestão da água no mundo.
Com as estruturas da natureza é possível melhorar a
qualidade da água, aumentar a produtividade dos alimentos e reduzir o impacto
dos desastres naturais, diz o relatório. A produção agrícola pode ser aumentada
em cerca de 20% em todo o mundo.
As ações têm como alvos tanto o campo quanto os
centros urbanos. A cidade de Nova York tem protegido suas três maiores bacias
hidrográficas desde o final dos anos 1990. Com isso, conseguiu economizar mais
de US$ 300 milhões anualmente em tratamento de água e custos de manutenção.
Apesar dos benefícios e da eficácia das soluções
verdes, elas representam menos de 1% do investimento total em infraestrutura
para a gestão dos recursos hídricos. Seria importante educar a classe política.
É melhor que a consciência venha pela educação do que pela catástrofe.
Por
Severino Francisco – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google