"Seria muito ruim para a cidade que as forças vinculadas à
corrupção, que as forças que colocaram Brasília nas páginas policiais
retornassem ao comando do governo justamente depois de o Estado, com um
sacrifício muito grande, ter sido saneado"
· Por » Ana Dubeux – Ana Maria Campos – Ana
Viriato
Rollemberg acredita que ex-presidente do STF será a grande novidade na
eleição de outubro e trabalha por aliança com PDT, Rede e PCdoB
A menos de seis meses das eleições, o governador
Rodrigo Rollemberg (PSB) já deixa claras e públicas suas preferências
políticas. Defende uma ampla aliança com partidos de centro-esquerda, como PSB,
PDT, Rede e PCdoB, já no primeiro turno, tanto local, quanto nacional. Sem o
PT, legenda que prefere manter distância. “Hoje, grande parte da crise que o
país está vivendo é de responsabilidade do PT. Então, neste momento, não
considero que seja positiva essa aliança”, diz o governador. Rollemberg
acredita que os petistas erraram ao se unir a partidos como MDB, PP, PR e PTB.
Filiado ao PSB no prazo final para quem pretende
concorrer, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa
entra no radar de Rollemberg como um palanque estratégico, um candidato à
Presidência da República com potencial de crescimento na campanha. “O nome de
Joaquim Barbosa é a grande novidade deste processo eleitoral”, acredita. Para o
governador do DF, se o ministro aposentado se dispuser a concorrer, terá o
apoio do PSB.
Sobre os aliados que se afastaram, Rollemberg
também expõe opiniões fortes. Classifica o vice-governador Renato Santana (PSD)
como alguém sem maturidade para o cargo e aposta num nome mais próximo e de sua
confiança, ainda a ser escolhido, para ocupar o segundo posto em sua chapa à
reeleição. Em relação ao senador Cristovam Buarque (PPS/DF), as críticas são
contundentes. Segundo o governador, o político não contribuiu com soluções para
as crises do DF e do país.
Rollemberg mira ainda sindicatos adversários e
opositores de campanha. Afirma que o servidor vai entender quem realmente
trabalhou pelos seus direitos. Ele acredita numa derrota nas urnas de
candidatos da base sindical que usaram a estrutura das entidades para um
esforço eleitoral. Com um discurso pronto contra a corrupção, afirma que o
eleitor saberá avaliar quem tem aliados envolvidos em operações como a
Lava-Jato e a Panatenaico.
Apesar do tom mais crítico, o governador garante
que vai fazer uma campanha propositiva. Pretende exibir à população o ajuste
fiscal, os resultados na saúde e as estatísticas de redução de criminalidade,
além de benefícios como regularização fundiária e investimentos em áreas
sociais que foram possíveis graças, segundo ele, a uma arrumação das contas
públicas. Quanto à rejeição a seu governo, registrada em pesquisas, Rollemberg atribui
a medidas amargas que precisou adotar e também a uma visão geral que a
população tem de todos os políticos, especialmente em Brasília.
"O nome de Joaquim Barbosa é a grande novidade desse processo
eleitoral"
Do
que depende a definição da candidatura do ministro aposentado Joaquim Barbosa à
presidência da República?
Depende
de duas coisas. A primeira: dele, se, efetivamente, está disposto a ser
candidato. Ele sabe que tem potencial. Sabe que, se for candidato, a
possibilidade de crescimento da candidatura é grande. Mas ele sabe também que
isso vai implicar numa mudança radical na sua vida e ele vai perder toda essa
reserva que ele tem, principalmente, ao longo da campanha. Ele está avaliando
isso. Segundo, a família também tem resistência ao fato de ele ser candidato.
Então, o primeiro ponto é esse. Se o ministro Joaquim Barbosa decidir ser
candidato, tenho a impressão de que ele será acolhido muito bem pelo PSB. O
nome de Joaquim Barbosa é a grande novidade deste processo eleitoral. Já há
muitos partidos procurando o PSB, querendo mais informações e até já sugerindo
possíveis alianças, exatamente porque percebem o potencial eleitoral de Joaquim
Barbosa.
Por
que a candidatura deve crescer muito?
Com base
num sentimento coletivo. Hoje, Joaquim Barbosa comunica valores que a sociedade
brasileira quer ver na política. Especialmente, seriedade e honestidade.
Depois, ele é uma pessoa que tem uma identidade muito grande com o povo
brasileiro. É um negro, que nasceu no interior de Minas Gerais, estudou em
Brasília, foi ministro do Supremo… Enfim, a trajetória dele identifica uma
parte muito grande da população.
Na
sua opinião, a candidatura dele pode contribuir com a sua?
O nome e
a companhia do Joaquim Barbosa são positivos em qualquer cenário. Claro que, no
arranjo político, há outros fatores. Mas, certamente, a companhia dele ajuda
qualquer candidato.
E em
relação ao aspecto de coligações pelo GDF, uma candidatura própria à
Presidência contribuiria ou atrapalharia as negociações?
Talvez
dificultasse. Vejo duas alternativas mais prováveis. Apesar de a gente ter uma
ótima relação com a Marina Silva e com Geraldo Alckmin, há o amadurecimento de
duas possibilidades: ou Ciro Gomes, aliança que talvez facilitasse uma
coligação mais ampla no DF, ou a candidatura do Joaquim Barbosa. De qualquer
forma, tenho defendido que a gente trabalhe até o último momento para fazer uma
aliança para a disputa pela Presidência no campo progressista, ainda no
primeiro turno, com PSB, PDT, Rede, PCdoB, sem o PT.
Por
que sem o PT?
O
afastamento do PT é positivo para o país, neste momento. O PT teve sua
oportunidade e hegemonizou parte do período político da história do país. Tem
uma contribuição. Não podemos deixar de reconhecer os avanços sociais
produzidos no governo Lula. Mas, hoje, grande parte da crise que o país
está vivendo é de responsabilidade do PT. Então, neste momento, não considero
que seja positiva essa aliança.
A
prisão do Lula foi justa?
Acho que
temos de respeitar as instituições brasileiras. Temos uma legislação, um
conjunto de ministros — parte deles indicada pelo próprio ex- presidente da
República -- e um processo que correu em várias instâncias. Temos de respeitar
as instituições.
Onde
Lula e o PT erraram?
O grande
erro do PT foi o momento em que preferiu fazer aliança com o campo fisiológico
da política, que, historicamente, nunca apoiou o PT — MDB, PP, PR e PTB —, em
vez de ter fortalecido os aliados históricos e tradicionais do campo da
esquerda: PSB, PDT e PCdoB. Teria sido mais difícil para o Lula governar, mas,
certamente, o Brasil não estaria na situação em que está hoje.
E no
DF? O erro do PT está relacionado à administração do orçamento?
Numa
certa escala, se repetiu no DF o que aconteceu no Brasil. O próprio vice
escolhido pelo Agnelo demonstra essa aliança preferencial com o MDB, em vez de
fortalecer o campo da esquerda, progressista. Isso tudo veio acompanhado de um
grande aparelhamento da máquina, uma visão distorcida do Estado e uma
irresponsabilidade fiscal muito grande, que acabou levando, tanto no plano
federal, como no local, a uma situação de insolvência econômica.
Hoje,
podemos dizer que o problema está resolvido? O senhor vai fechar o ano com o
ajuste fiscal e as contas em dia?
Diria que
esse problema está muito bem encaminhado e que estamos, hoje, com uma situação
econômica muito superior à que recebemos, do ponto de vista de equilíbrio das
contas, da capacidade do Estado de planejar seu desenvolvimento e de implementar
políticas públicas vitoriosas.
A
população tem noção disso?
De certa
forma. Se você perguntar a um morador do Sol Nascente como era a vida dele há
quatro anos e como é agora, certamente, vai colher depoimentos de melhorias. Se
fizer isso no Porto Rico, no Buritizinho, onde os investimentos do Estado
chegaram, certamente. Se perguntar a uma mãe, que tinha uma criança de quatro
anos fora da escola, e, hoje, pode dizer que sua criança está na escola, ela
vai dar um depoimento de melhoria. Se perguntar para uma pessoa que há 20 ou 30
anos esperava pela escritura da sua casa e não teve a oportunidade, ela vai
reconhecer que houve avanço, porque, hoje, tem segurança jurídica e a
valorização do seu patrimônio. Mas, os problemas ainda são muitos. As crises
econômica e fiscal acabaram atrapalhando muito a capacidade do Estado de
resolver os problemas da população, condição que se aliou a uma revolta
coletiva e justa contra os desvios da política, contra a corrupção, que
acabaram contribuindo para levar o país a uma situação de dificuldade. De certa
forma, a população culpa indistintamente os políticos por isso.
Seu
governo enfrentou algumas situações atípicas, como crise hídrica, queda de
viaduto e crise orçamentária. Carregando a bagagem, fica difícil mostrar que o
governo foi melhor que os outros?
Não será
fácil para ninguém. Não tenho ilusões. Há uma desconfiança muito grande da
população com a política e os políticos. Caberá a nós dialogar e procurar
esclarecer. A contextualização das coisas pode ajudar muito nesse processo. Eu
conversava, há duas semanas, com o Arthur Trindade, que foi secretário de
Segurança, e, hoje, é uma das pessoas mais conceituadas do país. Ele dizia uma
coisa interessante: ‘Você não pode e não deve comparar o seu governo com
os anteriores, porque os anteriores governaram Brasília numa situação econômica
e financeira completamente diferente”. Aqui, havia abundância de recursos.
Ninguém governou com a crise política, econômica e hídrica. E é verdade. Você
tem de comparar o seu governo com os laterais; com os governos que estão neste
momento. Ele disse: “Ao comparar o seu governo com os demais, você vai ver que,
talvez, hoje, Brasília tenha o maior sucesso de todo o país, em várias áreas”.
Outro dia, alguém falou numa solenidade que oito unidades da Federação haviam
ultrapassado os limites de gastos com pessoal da Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF). O único que saiu foi Brasília. Ou seja, demos um exemplo de arrumação da
casa nesse quesito.
Houve
avanços?
Neste
ambiente de dificuldade, universalizamos a educação infantil para crianças de 4
e 5 anos. Estamos com a menor taxa de homicídios dos últimos 30 anos. Segundo
Arthur Trindade, estamos com a maior redução de homicídios, no período de um
governo, da história do Brasil. Então, temos indicadores. Vamos resolver a
crise hídrica. Antes do fim do governo, teremos segurança de que não viveremos
mais problemas de crise por 20 ou 30 anos. Isso não é pouca coisa — palavras
dele — no ambiente de dificuldade econômica em que vivemos nesses quatro anos.
Se formos comparar com outros estados brasileiros, veremos que, neles, a
violência explodiu. Nossos indicadores de equilíbrio econômico são positivos.
Os de educação, também.
O
discurso desta gestão foi de equilíbrio fiscal. Com as contas em mãos, o que é
possível prometer à população para um eventual segundo mandato?
Poderemos
melhorar muito as políticas públicas nas áreas prioritárias, porque a arrumação
da casa era uma condição essencial para isso. Quando falamos, por exemplo, no
avanço da cobertura da atenção primária, por meio da estratégia da Saúde da
Família, era 29% da população atendida, hoje, 69%. Inauguramos o novo modelo do
Hospital de Base. Estamos vencendo desafios de parte pequena do Ministério Público,
que tem posições ideológicas contrárias ao modelo mais moderno de gestão.
Sofremos isso com IHBDF, estamos sofrendo com o Hospital da Criança. Mas a
superação desses desafios e o teste desses modelos vão mostrar de forma clara
que o Estado, com capacidade econômica de ampliar a cobertura da atenção
primária e as formas de gestão, que vai oferecer uma saúde de melhor qualidade
para a população. Essa semana, tivemos fatos relevantes na Saúde. Inaugurei a
reforma da área de hemodiálise do hospital de Sobradinho. Acabo de vir do
Hospital de Taguatinga, onde inauguramos o centro de quimioterapia, que vai
permitir o atendimento de 140 pacientes por dia. Ou seja, isso só está sendo
possível porque arrumamos a casa e temos recursos para investimentos. Se tivermos
muito mais recursos, poderemos fazer muito mais nas diversas áreas.
"Grande parte da crise que o país está vivendo é de
responsabilidade do PT"
O
afastamento do Icipe da gestão do HCB é fruto de uma perseguição política?
É uma
perseguição. Temos duas promotoras no DF, a dra. Cláudia, do Tribunal de Contas
do DF, e a dra. Marisa Isar, do MPDFT, que apresentam posições ideológicas
contrárias a qualquer modelo diferente do tradicional. Em função disso,
promovem uma verdadeira perseguição aos gestores. Na semana passada, houve o
desabafo de um promotor que disse que as ações feitas estão impedindo o gestor
do SUS no DF, que é o secretário de Saúde, de desenvolver suas atividades e
prestar um bom serviço público.
Mas houve
a decisão judicial. Existe uma perseguição na Justiça também?
Acho que
a Justiça é induzida a uma decisão em função da ação do MP. Estou muito
confiante que, na audiência pública convocada pelo desembargador Alfeu Machado,
que terá a participação do Ministério Público em segundo grau e do secretário
de Saúde, todos os esclarecimentos serão prestados, para que a gente possa
encontrar uma solução definitiva e, com os ajustes que forem necessários, o
Icipe não apenas continue administrando o Hospital da Criança, mas possa gerir
a expansão.
O
que é alegado na representação contrária à promotora Marisa Isar, protocolada
pelo senhor no CNMP?
A
representação denuncia uma perseguição política, que tem impedido os gestores
de trabalharem adequadamente. São ameaças permanentes. Mostramos abuso de autoridade,
perseguição política e ideológica sem fundamento, para acuar o gestor.
Quais
são seus planos para outros hospitais, no quesito gestão?
Nossa
prioridade, hoje, é ampliar a cobertura da atenção primária, toda ela na
estratégia da Saúde da Família. Portanto, é importante a melhoria da condição
financeira do DF, para que possamos contratar mais médicos, enfermeiros,
agentes comunitários de saúde… É muito importante consolidar o modelo de gestão
do Hospital de Base, mostrando que é mais moderno. Temos a intenção de realizar
neste ano pelo menos a licitação do Hospital do Câncer. E, ao completá-lo, não
tenho dúvidas de que o modelo a ser adotado deve ser o do Hospital de Base, o
serviço social autônomo. Com toda a resistência que tivemos, do Ministério
Público e de sindicatos quanto à implementação de Organizações Sociais, hoje, a
nossa perspectiva é manter o Hospital da Criança, no qual queremos inaugurar os
202 novos leitos até julho, sob a gestão do Icipe. As novas unidades básicas de
saúde devem seguir o modelo do IHBDF, que é 100% público, mas com mais
agilidade e versatilidade.
Quais
serão os critérios para a escolha do novo vice na sua chapa?
(O vice)
tem que ser uma pessoa de confiança, que eu conheça e possa ajudar na gestão.
Quero ter a segurança de que, se eu precisar me ausentar por algum motivo, a
cidade continuará sendo administrada com responsabilidade.
Qual
foi o momento em que sua relação com seu vice azedou de vez?
Ficou
muito claro que o Renato Santana (PSD) não tinha maturidade ou experiência para
ser vice. Acho que o cargo acabou subindo à cabeça. Diria que o momento que,
para mim, foi bastante simbólico, foi quando me ausentei e passei o governo
para ele. Havia uma visita marcada com o ministro da Saúde na cidade de
Brazlândia, no momento em que Brasília estava sendo vítima de casos de dengue.
Um proprietário de uma loja de pneus me ligou e contou, chorando, que se sentiu
ofendido e enganado, porque o vice passou lá, pediu que ele colocasse os pneus
na frente da loja, porque passaria um caminhão para recolhê-los, e, depois,
passou na frente, com toda a mídia, acompanhado do ministro, e deu uma bronca
no cara, porque ele colocou os pneus ali. Fiz questão de fazer uma visita à
pessoa para pedir desculpa. Naquele momento, ficou claro que Renato não tinha
maturidade. Qual a confiança de sair e passar o governo para uma pessoa que tem
capacidade de fazer isso?
Por
que, nesse momento, realocar os cargos dele?
São
cargos sem função. Se ele assumir a vice-governadoria, fica inelegível e não
poderá disputar o cargo de deputado federal ou distrital. Renato não exerce uma
função como vice. E estávamos precisando dos cargos. Então, os cargos foram
remanejados para áreas que têm maior necessidade.
A que o
senhor atribui sua rejeição nas pesquisas?
Parte
dela, às medidas difíceis que tivemos de adotar. Difíceis, mas necessárias,
enfrentando as corporações, diversos interesses. E também atribuo parte à
rejeição da população aos políticos de forma geral. E isso em Brasília é mais
forte, porque o vínculo da política com a cidade acaba afetando a imagem da
cidade e isso incomoda muito as pessoas de uma forma geral.
Houve
casos de corrupção no seu governo, como as fraudes da bilhetagem. Como
lidar com isso?
É
importante que a polícia apure e revele todo o resultado dessa apuração, porque
há indícios de que as fraudes do DFTrans vêm de muito tempo. É importante
registrar que, neste caso específico, quem identificou e quem acionou a polícia
para agir foi o governo, através da Controladoria-Geral e através da Secretaria
de Mobilidade. Temos todo o interesse de levar essa investigação a fundo e
identificar os responsáveis pela fraude e punir exemplarmente os responsáveis
pela fraude.
Provoca
algum tipo de mácula ao secretário de Mobilidade?
Não há
nenhum indício de qualquer tipo de responsabilidade do secretário de
Mobilidade.
No
seu governo, existe menos corrupção?
Sugiro
que você faça essa pergunta às pessoas que lidam com o governo. Aos
empresários, a todos os que se relacionam com o governo. Isso escuto até da
oposição: “Nós temos de reconhecer uma coisa no governo do Rollemberg: não há
corrupção, é um governo sério e que age quando identifica qualquer ação que
possa ser indicativa de fraude”.
No
núcleo do governo, não há denúncias de corrupção. Isso é forte para a campanha?
Eu
entendo que esse é um valor que a população cada vez mais quer ver na política.
Embora essa seja uma característica da minha trajetória, nunca usei isso. Essa
é uma obrigação dos políticos. O debate que vou fazer é de propostas de
política de governo. Agora, é muito importante refletir sobre o que a má gestão
dos recursos públicos provoca para a população. Quando há, por exemplo, uma
obra bilionária como o estádio, que, por si só, ainda que fosse feita, seria um
absurdo. Mas, quando você tem a Polícia Federal e o Ministério Público
apontando que ali houve desvios de dezenas e, talvez, centenas de milhões de
reais, é claro que isso indigna o cidadão. Esse dinheiro poderia ser usado na
construção de hospitais e escolas. Então, esse é o debate: o mal que a
corrupção produz para a cidade. Agora, a honestidade, na minha opinião, é
obrigação de qualquer gestor público.
Seus
adversários apontam que a Via Engenharia, empresa investigada no caso do
estádio Mané Garrincha, contribuiu com a sua campanha em R$ 1 milhão...
Todas as
contribuições estão declaradas e todas as ações com essas empresas obedecem
rigorosamente à legalidade. E, se qualquer uma dessas empresas fizer qualquer
coisa errada, será punida.
Mas
a Via Engenharia ganhou duas licitações no seu governo...
Ganhou a
licitação porque não tenho elementos legais que possam impedi-la de participar
da licitação. Ela ganhou uma licitação que é acompanhada pelo Tribunal de
Contas e pelo Ministério Público.
"As crises econômica e fiscal acabaram atrapalhando muito a
capacidade do Estado de resolver os problemas da população"
O fato de a candidatura do Frejat ser articulada
por Arruda e Filippelli, alvos de denúncias da Lava-Jato, será usada na
campanha?
Sempre fiz minhas campanhas de forma propositiva.
Quero discutir propostas para a cidade, políticas públicas. O contexto, de como
as pessoas governaram Brasília, qual foi a herança que deixaram para a cidade,
inclusive para a imagem da cidade e o que oferecem de soluções será julgado
pela população. A população está vendo as construções e os aliados de cada
candidato.
O Arruda teria força numa nova investida pelo
governo?
É difícil dizer. O Arruda já não disputa eleições
há muito tempo. Ele tem um recall forte e uma presença forte na cidade. Mas, se
ele tem força eleitoral, só uma eleição pode dizer.
Os sindicatos são seus maiores adversários hoje?
Percebo isolamento e enfraquecimento cada vez maior
dos sindicatos em relação aos servidores. Você tem ali uma indignação enorme em
relação à presidente de um sindicato. Todos tiveram um desconto enorme em seus
salários para favorecer um sindicato. Está claro que esses sindicatos defendem
os benefícios e privilégios da direção e, não, os interesses da categoria, Isso
os enfraquece. Cada vez, vejo esses sindicatos mais longe de suas bases e, cada
vez, percebo que há um conjunto maior de servidores públicos que reconhecem o
valor do governo, e o fato de receberem seus salários em dia.
Dirigentes usam os sindicatos para alavancar suas
candidaturas?
Faço ressalvas porque respeito os sindicatos. Mas
alguns dirigentes vêm usando a estrutura sindical em benefício próprio há
muitos anos e tenho convicção de que terão uma decepção nas urnas, porque
grande parte da base desses sindicatos percebeu que os líderes melhoraram muito
de vida nos últimos anos e isso não se refletiu em melhorias para a categoria.
A política mudou ou mudou o senador Cristovam
Buarque?
Acho que a eleição será um grande teste para o
senador Cristovam. O Brasil viveu a maior crise política e econômica de sua
história. Cristovam era senador. Qual foi a contribuição efetiva que o
Cristovam deu na solução dessa crise, no apontamento de caminhos? Brasília
sofreu os impactos das crises ao longo dos quatro anos. Cristovam é uma pessoa
experiente, já foi governador. Qual foi a colaboração, a contribuição que ele
deu a Brasília nesses quatro anos? Acho que ele será cobrado pela população de
Brasília em relação a isso. Tenho respeito pelo Cristovam e apreço, mas a
população vai querer saber qual foi a contribuição efetiva de um senador da
República num momento tão delicado.
E Reguffe?
É um senador de primeiro mandato. Ele está nos
quatro primeiros anos. Acho que tem posturas que são reconhecidas pela
população como corretas ao homem público. Tem ainda uma grande contribuição
política pela frente.
O senhor consegue enxergar o Joe Valle na sua
chapa?
Considero que o movimento coerente na política da
cidade é que as forças progressistas possam superar as suas diferenças para
estarem juntas, evitando um retrocesso político no DF. Seria muito ruim para a
cidade que as forças vinculadas à corrupção, que as forças que colocaram
Brasília nas páginas policiais retornassem ao comando do governo justamente
depois de o Estado, com um sacrifício muito grande, ter sido saneado. Portanto,
entendo que as nossas afinidades são maiores que nossas divergências, embora reconheça
que elas existam. Trabalho com a perspectiva de que PSB, PDT, PV, Rede, PCdoB,
Solidariedade, Podemos e PHS possamos estar juntos para criar um novo capítulo
na história de Brasília.
As conversas começam a acontecer? Mesmo as menos
prováveis?
As conversas estão de vento em popa.
Sua vice será uma mulher?
Ficaria muito satisfeito de ter uma mulher como
vice. Meu posicionamento é de que devemos empoderar as mulheres e criar mais
espaços de poder. Fiquei muito feliz quando vi a fotografia com dezenas de
mulheres no ato de filiação do PSB, que garantiram boas chapas para deputados
federais e distritais. Percebi como o PSB se afeminou.
Joe como vice é provável?
Ninguém está discutindo nomes, porque, antes dos
nomes, precisamos dos programas em comum. Em torno de que os campos políticos
estariam unificados?
Marina pode ser vice do Joaquim Barbosa?
Eu defendo, já no primeiro turno, uma grande
aliança do campo progressista. Sei que isso não é fácil. Mas todos os nomes
colocados teriam condições de compor a chapa. Seria positivo para o Brasil se
tivéssemos capacidade de cumprir esse campo.
Com a janela partidária, sua base na Câmara
Legislativa ficou enfraquecida. Será difícil trabalhar?
No início da gestão, não havia deputados do PSB.
Nossa base era considerada uma base frágil. No entanto, aprovamos projetos
muito importantes para Brasília. Aprovamos através do convencimento. Não foi
fácil; foi difícil. Muitas vezes, com concessões aos deputados, temos de
assumir isso sem hipocrisia alguma.
(*) » Ana Dubeux – Ana Maria Campos – Ana
Viriato - Fotos: Marcelo Ferreira /CB/D.A.Press - Correio Braziliense