Um
pensamento conciliador
Por
Jane Godoy
A
população de Brasília tem presenciado, nas últimas semanas, um grande problema,
que acabou por sensibilizar toda a cidade e o Entorno. Famílias de crianças com
câncer e hemopatias e a sociedade civil — que há anos ajuda de todas as formas
a construção e a consolidação do sonho brasiliense de ter o seu hospital
inteiramente dedicado aos cuidados de crianças — não conseguem entender o que
está se passando. Discórdia onde deveria existir cumplicidade e união, diante
de uma vontade unânime e tão nobre.
Como
cidadã, tenho buscado entender e digerir o que está acontecendo, que nos impede
de podermos usufruir, em paz, daquilo que construímos ao longo dos anos, com
doações e eventos beneficentes.
Encontrei
no dicionário a real definição da palavra tão pesada que usam como
justificativa ou argumento: “Improbidade”. Palavra que dói no coração e na
mente daqueles tantos que, por causa da doença dos próprios filhos, há mais de
30 anos, criaram a entidade que viria, com o tempo, construir o tão sonhado
Hospital da Criança de Brasília José Alencar.
No
dicionário encontramos: “Improbidade: Falta de probidade ou honradez,
desonestidade. Ex: foi cassado por improbidade administrativa.”
Que
palavra feia, pesada e injusta! Será que nos códigos não podem encontrar outra
palavra que não permita chamar pais de família, cujos filhos se foram abatidos
pela doença ou se salvaram através de tratamento adequado, de médicos com
mestrado e doutorado no exterior, diretores idealistas, experientes,
capacitados e habilitados para gerir um hospital de tamanha complexidade?
Essa
palavra não cabe nesse contexto. Definir um trabalho hercúleo e voluntário de
“improbo” é desconhecer totalmente o verdadeiro significado da palavra justiça.
É desconhecer um instituto formado por homens e mulheres idealistas, que nem de
longe pretendem tirar proveito da situação, como a população está acostumada a
ver, num país onde furtam até a verba da merenda escolar, privando crianças que
vão à escola, muitas delas, apenas para ter uma única alimentação naquele dia.
Não, senhores! Ali não! Aquele lugar foi construído
palmo a palmo e já atendeu quase três milhões de crianças em 6 anos de
existência. Uma instituição que foi motivo de elogios entusiasmados do
diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhamon
Ghebreyesus, afirmando: “Sem qualquer exagero, este hospital poderia facilmente
servir de modelo para outros países!”
Reforçamos, com veemência e conhecimento de causa,
o nosso pensamento de que a palavra “improbidade” foi enviada para o endereço
errado. Ainda mais agora que vemos, todos os dias, os “improbos” apontados na
mídia, desfilando com suas reluzentes tornozeleiras eletrônicas, depois de
terem falido tantas instituições e estados da Federação brasileira.
Ali não! Ali se trabalha duro, pensando somente em
salvar vidas, em aprimorar e agilizar o atendimento, em fazer felizes crianças
e familiares desesperados. E de graça! Um hospital limpo, montado com a ajuda
da comunidade, colorido, alegre e feliz, onde um piano de cauda recebe, com boa
música, os pobrezinhos para um dia sofrido de exames e quimioterapia.
Arranjem outro qualificativo para justificar as
suas ações. Mas “improbidade administrativa” para um instituto que DEVOLVE ao
governo a sobra de verba não aproveitada é fácil perceber que os “improbos” não
andam por lá. Estão cometendo uma tremenda injustiça.
Depois da audiência de conciliação realizada na
terça-feira (24) pela 6ª Turma Cível da Justiça do DF, que chegou a bom termo,
gostaria aqui de citar um fato muito importante, na tentativa de harmonizar
essa situação e resolver de uma vez por todas esse problema que se transformou
num pesadelo para as famílias das crianças com câncer.
Por que não trabalhar juntos? Por que não unir
esforços, o Ministério Público e o ICIPE (Instituto do Câncer Infantil e
Pediatria Especializada) esse mesmo que taxaram de “improbo”
administrativamente - e designar, para os conselhos Administrativo e Fiscal, a
presença de representantes do GDF e do Ministério Público do Distrito Federal, entre
seus abnegados e voluntários integrantes?
Os conselheiros do ICIPE nada temem e nada têm a
esconder. Peço como cidadã, que levem em consideração o fato de estarem diante
de pessoas íntegras, probas e generosas, cujo único objetivo é ajudar a salvar
vidas e criar situações para que isso seja possível, no mais curto espaço de
tempo.
Por isso eles têm pressa. Precisam inaugurar o
Bloco 2, para que os 202 leitos tão esperados sejam ocupados; para que centenas
de milhares de vidas sejam salvas a tempo; para que a capital da República
tenha, de forma completa, o seu tão sonhado e esperado hospital dedicado às
crianças.
A união faz a força, não faz? Por que não se juntam
em prol de uma causa tão justa e nobre?
(*) Jane
Godoy – Coluna 360 Graus – Fotos: Minervino Junior/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense