Audiência pública marcada para amanhã discutirá o futuro do Autódromo
Internacional Nelson Piquet. Projeto elaborado por empresa interessada no local
conta com mudança no traçado e espaço para empreendimentos imobiliários
*Por » Helena Mader
Situação atual
»680 mil metros quadrados de área - » Cerca de um terço do traçado
inacabado - » Boxes e paddocks demolidos - » Defensas e áreas de
escape inadequadas ou inexistentes - » Arquibancadas, tribunas e outras
instalações em situação precária - » Ocupações com permissões
vendidas -
O que prevê o projeto
»Redução do traçado da pista de 5,4 mil metros para 4,7 mil metros
- » Liberação de área para empreendimentos imobiliários - »
Preparação de área para paddock
Novo desenho
Estudo da empresa Dubois & Co. mexe no traçado do Autódromo
Internacional Nelson Piquet para liberar espaço a novos negócios
Fechado desde dezembro de 2014, o Autódromo
Internacional Nelson Piquet virou cenário de abandono em uma das áreas mais nobres
do Plano Piloto. Depois de idas e vindas sobre o futuro do local, o governo
abrirá licitação para concessão do espaço à iniciativa privada em 6 de julho.
Amanhã, será realizada uma audiência pública para debater o projeto, que prevê
mudanças no trajeto da pista a fim de abrigar empreendimentos imobiliários. A
proposta, desenvolvida por uma empresa interessada no negócio, prevê a
realização de eventos automobilísticos nacionais e internacionais, além de
shows e a abertura de comércio, como restaurantes e concessionárias.
Encravado na Asa Norte, o autódromo tem área total
de 680 mil metros quadrados. Por causa de uma reforma interrompida no início da
atual gestão (leia Memória), um terço do traçado está inacabado. As
arquibancadas têm estrutura comprometida, boxes e paddocks foram demolidos e
faltam defensas e áreas de escape. O projeto para a concorrência pública prevê
a redução da pista, de 5,4 mil metros para 4,7 mil metros de extensão, com
consequente liberação para empreendimentos imobiliários (veja Para saber mais).
O espaço destinado a novos negócios terá 110 mil metros quadrados, com
potencial de construção de até 60 mil metros quadrados.
O plano de ocupação do Setor de Recreação Pública
Norte engloba, além do autódromo, o Estádio Nacional Mané Garrincha, o Ginásio
Nilson Nelson e o Complexo Aquático Cláudio Coutinho. O documento foi aprovado
pelo Conselho de Planejamento Territorial e Urbano (Conplan) do DF no mês
passado e segue para a Câmara Legislativa. O plano prevê novos usos para área, com
parâmetros como altura máxima de 9 metros, à exceção do ginásio e do estádio, e
taxa de ocupação limite de 12% do terreno.
A empresa Dubois & Co., que recebeu autorização
da Agência de Desenvolvimento de Brasília (Terracap) para a realização de
estudos sobre o autódromo, elaborou o projeto, que será debatido na audiência
pública de quinta-feira. O evento ocorrerá no auditório da Terracap a partir
das 14h30. A proposta prevê investimentos de R$ 32,6 milhões — R$ 26,3 milhões
em pista e defensas e R$ 6,3 milhões em arquibancada e área de apoio.
Segundo os autores do levantamento, existe a
possibilidade de homologação na categoria FIA 1, que permite corridas de
Fórmula 1, com investimentos adicionais. “A Fórmula 1 demonstrou interesse, e
Brasília poderia ser a primeira opção a partir de 2021”, garante Richard
Dubois, empresário responsável pelos estudos do autódromo.
Para se adequar às exigências da competição
internacional, o local teria de investir mais em boxes, em áreas de
hospitalidade para convidados vip e para jornalistas, além de realizar
adequações relativas à segurança. “São investimentos mais na estrutura geral.
Seriam necessárias poucas intervenções na pista”, acrescenta Richard. Segundo
ele, além de eventos automobilísticos, o novo autódromo teria potencial para
atrair grandes shows. “Poderíamos trazer uma edição do Lollapalooza ou do Rock
in Rio”, adianta.
Espetáculos
O projeto contempla três aspectos: técnicos,
jurídicos e de negócios. Envolve o diagnóstico das estruturas existentes, o
relatório de engenharia das atuais construções, a atualização do traçado e a
realização de uma análise de mercado. Na área de negócios, haverá um estudo de
demanda, a apresentação de um plano de marketing, estudos de receitas, custos e
despesas e o mapeamento dos investimentos necessários, além da modelagem
econômico-financeira. Na definição das normas jurídicas, será feita a matriz de
riscos, o modelo de concessão, os critérios de remuneração e a elaboração das
minutas de edital e de contrato.
Com as reformas previstas, Brasília poderá sediar
eventos de categorias nacionais, como Stock Car, Fórmula Truck, Porsche GT3 Cup
e Superbike. Também se prevê a realização de cinco eventos nacionais a partir
de 2019 e 12 campeonatos regionais, além de sete celebrações corporativas por
ano, principalmente de concessionárias. Eventos de direção defensiva,
espetáculos de arrancadas e de drifting (técnica em que os carros deslizam nas
curvas) e a abertura de escolas de pilotagem estão entre os potenciais novos
negócios.
História
Inaugurado em 1974, o autódromo de Brasília recebeu
um grande prêmio de Fórmula 1, no ano de abertura. Entre 1995 e 2004, a estrutura
ficou sob a tutela da empresa NZ, do ex-piloto e empresário Nelson Piquet. Sob
a gestão do GDF, em 2005, o local sediou corridas de Stock Car e de
motovelocidade, até o fechamento em definitivo, em 2014.
Para saber mais - Arrecadação bilionária
O modelo proposto para a licitação é uma parceria
público-privada, com prazo de concessão de 35 anos, e taxa de retorno estimada
de 12% ao ano para o investidor. O ganhador da concorrência terá de investir R$
74 milhões no autódromo, além de R$ 98 milhões no novo empreendimento
imobiliário. O governo teria de garantir uma contrapartida de pelo menos R$ 11
milhões. A modelagem prevê 10% do lucro imobiliário para a Terracap e, ao fim
do prazo de concessão, todas as benfeitorias ficam com o governo. O estudo indica
a possibilidade de arrecadação de R$ 1,6 bilhão em tributos.
Memória - Sobrepreço e abandono
O autódromo está fechado desde dezembro de 2014 - (Governo Agnelo/ Filippelli),
quando começou uma reforma do local com o objetivo de receber uma prova da
Fórmula Indy. Um mês depois do início dos trabalhos, a obra foi suspensa pelo
Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) por suspeitas de sobrepreço e
falhas no projeto de engenharia. O valor estimado da recuperação da área era de
R$ 252 milhões. Pouco depois de assumir o Buriti, em janeiro de 2015, o
governador Rodrigo Rollemberg anunciou a suspensão da etapa Brasília da Fórmula
Indy e, desde então, o autódromo está abandonado
O diferencial de Brasília
Piloto de
motovelocidade, bicampeã brasiliense e campeã de competições nacionais Indy
Munoz, 27 anos, é entusiasta da reabertura do autódromo. Para treinar, ela
precisa ir a outras cidades, como Curvelo (MG) e Goiânia. “Fico em desvantagem
com relação aos meus adversários por causa da falta de local adequado para
treinar”, diz Indy. Ela tem uma escola de pilotos, também prejudicada pela
ausência de espaço. “Esse esporte é uma paixão, mas está cada dia mais difícil
praticá-lo”, diz. Outra consequência, lembra Indy, é a prática perigosa de
motociclistas que cruzam as BRs a velocidades altíssimas — alguns, acima de
250km/h.
Promotor da Copa Truck, o empresário Carlos Col diz
que, caso o autódromo reabra as portas, haverá interesse dos profissionais do
ramo. “O Brasil tem uma grande ausência de autódromos, e o de Brasília tem
diferenciais”, comenta Col. Ao contrário de outros autódromos brasileiros
distantes dos grandes centros urbanos, Brasília tem o diferencial de ter uma
pista ao lado da rede hoteleira. Sobre a mudança de traçado, o empresário
acredita que a alteração não compromete a realização de eventos.
O piloto Jean-Louis Lacerda foi um dos primeiros a
se aventurar no esporte em Brasília. Nos anos 1960, ele ganhou o Grande Prêmio
Juscelino Kubitschek — corrida que marcou as celebrações da inauguração da
capital. Ele defende a reabertura do autódromo, mas tem receio com mudanças de
traçado. “A pista pode abrigar até corridas de Fórmula 1 e de Fórmula Indy.
Alterar o circuito para abrigar empreendimentos imobiliários é um risco”,
ressalta.
(*)
Helena Mader – Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
Que se resolva logo esse imbróglio e que possamos ter nosso autódromo de volta e quem não é da cidade que vá dar pitaco na sua; Ah, esqueci que lá não tem mais autódromo.
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