A poesia
*Por
Mariana Niederauer 
Os últimos dias de junho anunciam o
início de um novo ciclo. O semestre que começa esta semana será decisivo. Até o
fim do ano, decidiremos quem governará cada unidade da Federação e o país. Tudo
o que fizermos poderá ser usado contra nós, já ensina a velha regra do direito.
Julho é tempo também de volta às aulas.
Momento essencial para que a população se prepare com a arma principal nessa
batalha: a educação. Também não se trata de um percurso simples, mas
necessário. Compartilho aqui um pouco do que aprendi (e senti) ao longo dele.
Para mim, os dias que antecediam o
retorno à escola eram repletos de ansiedade. Livros encapados com papel contact
e devidamente identificados com etiquetas. Uniforme estrategicamente
posicionado ao lado da cama, para vestir com velocidade de piloto de corrida e
evitar o frio das primeiras horas da manhã.
A faculdade não exigia o mesmo grau de
organização prévia. Caderno e caneta solucionavam as necessidades da caloura
perdida em um universo paralelo. A transição de uma rotina controlada no ensino
médio para a liberdade total assusta. É como mirar um foguete na Lua e chegar a
Marte.
Durante o lançamento, você já começa a
perceber as diferenças. O brilho do satélite da Terra dá lugar ao terreno
arenoso de um planeta inteiro. E cada análise do solo, em vez de trazer
respostas a todas as hipóteses levantadas inicialmente, suscita ainda mais
dúvidas.
Mas é também aí que descobrimos
detalhes inesperados e vivenciamos experiências inimagináveis. Percebemos que
podemos errar. E tudo bem. A ciência é assim. E que precisamos encontrar um
tempo para apenas ser. Observar o mundo ao redor. Sentir. Respirar.
Foi durante o meu primeiro ciclo
escolar que aprendi a gostar de poesia. Arriscava até algumas estrofes e,
quando obrigada pelas tarefas das aulas de literatura, sonetos de improviso.
As obras de grandes autores chamavam a
atenção pela riqueza de vocabulário e criatividade. Hoje, dois ciclos de
formação mais tarde e após viagens intergaláticas com os pés grudados no chão,
o que mais fascina é o quanto elas conseguem transparecer sentimentos entalados
na garganta, que não saem em palavras ditas ou escritas no papel.
“Quem faz um poema abre uma janela”,
escreveu Mario Quintana. “Respira, tu que estás numa cela/ abafada,/ esse ar
que entra por ela./ Por isso é que os poemas têm ritmo — / para que possas
profundamente respirar. / Quem faz um poema salva um afogado.”
A sensação de estar atrás das grades é
real. De mãos atadas, entramos no xadrez do jogo político como peões, em uma
batalha sem anjos que nos protejam. Meu consolo vem das palavras do mestre,
mais uma vez: “Eles passarão. Eu passarinho”.
(*)Mariana
Niederauer  - Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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