"O PSB não pode
se omitir" - Governador afirma que,
"no momento delicado da história do país", Ciro é quem reúne
condições para unificar forças progressistas
Por » Bernardo Bittar -
Leonardo Cavalcanti
O governador do Distrito Federal,
Rodrigo Rollemberg (PSB), defendeu em entrevista exclusiva a necessidade da
tomada de posição do partido. Disse que a sigla não pode ficar inerte às
movimentações presidenciais, especialmente por não ter candidato próprio.
Rollemberg quer que o partido apoie Ciro Gomes (PDT) nacionalmente. Na visão
dele, é preciso encontrar o candidato ideal para o momento político e econômico
do país. A seguir os principais trechos da entrevista:
O movimento do tucano Alckmin em
relação ao palanque único em São Paulo não facilita o acordo entre PDT e PSB?
O (governador de São Paulo) Márcio
França (PSB) foi um vice extremamente leal ao Alckmin e sempre manifestou
publicamente a posição do PSB de apoio a ele. É claro, pela importância de São
Paulo, se o PSDB de lá manifestasse o apoio formal à candidatura do Márcio (o
que não houve), ia colocar o PSB em posição de quase obrigatoriedade de apoiar
o Alckmin. Uma posição de neutralidade neste momento para Márcio França não vai
ajudar em nada a candidatura dele. Com a tradição do PSB, a neutralidade de não
ter um candidato para presidente em um momento muito delicado do país seria
muito ruim. Por isso defendo o apoio ao Ciro.
Por que a demora do PSB em se definir?
Está demorando em função da diversidade
que temos no país, do ponto de vista das questões regionais, mas que precisam
ser superadas em função do interesse nacional. No Nordeste, principalmente em
Pernambuco, é muito grande a força do ex-presidente Lula. Nesse caso, o
governador Paulo (Câmara) ainda sonha com o apoio do PT. Por outro lado, Márcio
gostaria que o partido apoiasse o Alckmin. Ficou muito claro, tanto para um
quanto para outro, que o PSB se dividiria, com prejuízo enorme para o partido,
em apoio à candidatura do PT e do Alckmin. Hoje, o partido teria dois caminhos:
ou apoia Ciro, ou opta pela neutralidade na disputa presidencial. É
inaceitável, para o PSB, nesse momento do país, não ter uma posição definida.
Por isso defendo que o candidato que reúne as melhores condições para unificar
o campo progressista é Ciro Gomes. Ele consegue unificar o partido. Porque,
neste caso específico, ainda que não seja preferência do Márcio e do Paulo, ele
não criaria dificuldades nem constrangimento para nenhum dos dois, nem no plano
nacional, nem no ideológico, nem no plano local.
Com qual prazo o senhor trabalha para o
acordo com o PDT?
O prazo é o legal, 5 de agosto. Não
estou falando que o PSB está sendo omisso, que fique claro. Espero que, até lá,
tenhamos uma posição que não seja de neutralidade. O tempo político é
importante para o partido. Tem uma ansiedade nos diretórios nacionais de que
essa decisão ocorra antes do prazo jurídico, porque depende até para a
candidatura nacional. Se o PSB apoiar a candidatura do Ciro, terá mais
possibilidade de atrair outros apoios e se fortalecer.
Essa indecisão imediata atrapalha as
alianças regionais. É o caso do DF?
É importante o apoio do PDT em
Brasília, e, portanto, a candidatura do Ciro facilita o entendimento aqui. Mas,
independentemente disso, a questão central é pensar no Brasil. Conhecendo o PSB
e todas as adversidades que há nos estados, o melhor caminho é apoiar Ciro. Ele
tem a capacidade de unificar partidos do campo progressista, como o PCdoB
e o Solidariedade, por exemplo. Entendo que o PSB pode e deve compor a chapa do
Ciro. Defendo o nome do Márcio Lacerda para ser vice do Ciro. O que o PSB não pode
é não ter posicionamento, porque é como se o partido não estivesse à altura das
aspirações atuais que a população tem no momento.
Esse movimento do centro-direita que
tenta minar a candidatura do Ciro e essa indefinição do PSB dão mais fôlego aos
ataques a Ciro?
É muito provável que o Bolsonaro vá
para o segundo turno. E isso dificulta o crescimento do Alckmin. O Álvaro Dias
(SD) também atrapalha o Alckmin. Se não fortalecermos a candidatura do Ciro,
muito possivelmente haverá um segundo turno entre Bolsonaro e um candidato do
PT. E isso não é bom pro Brasil. Acho que o PT terá um papel importante no
segundo turno, mas entendo que não será bom para o país. A única forma de isso
não ocorrer é se fortalecermos a candidatura do Ciro.
Mas sem os apoios dos governadores de
São Paulo e Pernambuco isso fica muito difícil.
A posição do partido é conjunta. A
gente tem discutido isso de forma muito fraterna, com todas as lideranças do
PSB. Tenho muita confiança de que vamos construir essa aliança por um consenso,
por um grande entendimento partidário. O importante é que não demore tanto.
Quanto mais rápido fizermos isso, mais rápido teremos possibilidades de
fortalecer uma candidatura nacional, que possa dar um rumo ao Brasil e, ao
mesmo tempo, fortalecer também os arranjos estaduais.
(*) Bernardo Bittar - Leonardo Cavalcanti -
Fotos: Luis Nova/CB/D.A.Press - Correio Braziliense