Do total de emissão local de poluentes, 70% provêm de
veículos particulares - Três anos depois da assinatura do Acordo de Paris, cidades do
mundo inteiro encaram o desafio de diminuir a emissão de gases de efeito
estufa. O setor de transportes é um dos principais vilões - só no DF, é
responsável por 49,05% de todas as emissões. Série de reportagens que o Correio
começa a publicar hoje mostra algumas das alternativas para o problema
*Por » Pedro Grigori - Walder Galvão
Durante 4,5 bilhões de anos, a Terra passou por mudanças climáticas que
alteraram o modo de vida dos seres humanos. Ao mesmo tempo em que a civilização
se desenvolve, reflexos desse crescimento deixam marcas pelo mundo. Estiagens
prolongadas, furacões e aumento do nível dos oceanos estão entre os fenômenos
que levaram representantes de 195 países a Paris, na França, em 2015, para
fechar um acordo que pudesse resolver o problema.
O desafio é reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e, assim, impedir que a temperatura do planeta continue a subir. Um dos principais culpados pelo desequilíbrio climático é o setor de transportes, responsável por quase um quarto dos poluentes espalhados pela atmosfera. O Correio publica, a partir de hoje, a série de reportagens O caminho até 2030: os desafios dos transportes para o Acordo de Paris, e mostra alternativas para garantir o cumprimento das metas de redução de poluentes.
Especialistas em engenharia mecânica e meio ambiente elencam soluções para o setor que passam pela utilização de combustíveis renováveis e investimento em transporte público para reduzir o uso de veículos particulares. As consequências de postergar as mudanças vão desde o aumento de doenças respiratórias até o aumento do nível dos oceanos, o que pode deixar cidades como Rio de Janeiro, Recife e Salvador debaixo d’água antes do fim deste século.
Com menos de 60 anos de idade, Brasília cresceu e ganhou status de cidade grande. A frota de automóveis do Distrito Federal é uma das que mais aumentam no país. Junto disso, sobe também a quantidade de poluentes lançados na atmosfera. O setor de transportes é responsável por 49,05% de todas as emissões locais. Desses, 70% são emitidos por veículos particulares. Os dados são do Inventário de Emissões por Fontes e Remoções por Sumidouros de Gases de Efeito Estufa, estudo do Governo do Distrito Federal que analisou o ar da capital federal entre 2005 e 2012. Essa é a única análise governamental feita sobre os causadores da poluição no DF.
Dispersão de poluentes
Diferentemente do resto do país, Brasília não tem uma forte indústria, nem sofre queimadas de grandes proporções, o que deveria resultar num céu sem poluição. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) monitora, desde 2005, o ar da capital federal, com quatro estações. A mais antiga, instalada na Rodoviária do Plano Piloto, apresentou, em junho deste ano, Índice de Qualidade do Ar (IQAR) de 124,04 microgramas de partículas presentes a cada metro cúbico de ar.
O nível é considerado inadequado, podendo causar em toda a população sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta. Pessoas de grupos sensíveis, como crianças, idosos e aqueles com doenças respiratórias e cardíacas correm o risco de apresentar efeitos mais sérios na saúde.
“No período seco, o ar pode se tornar nocivo a grupos sensíveis, pois a umidade fica baixa e temos uma má dispersão dos poluentes, que ficam acumulados”, afirma Lourdes Martins, analista de atividades do Meio Ambiente do Ibram. “Reduzir os poluentes é uma questão de saúde pública, pois se trata de algo que afeta diretamente a qualidade de vida da população”, completa.
Problema nacional
A nível nacional, o desmatamento é o maior responsável pelas emissões de GEE, mas, segundo a organização não governamental Green Peace, é o setor de transportes o que apresenta maior crescimento, podendo se tornar o principal emissor de poluentes a partir de 2028. “Na grande São Paulo, um estudo nosso mostrou que os cerca de 15 mil ônibus que circulam pela cidade diariamente representam, hoje, cerca de 4 mil mortes por ano devido a emissões de material particulado. Caso o quadro não mude, esse número anual será de 7,5 mil em 2050”, contou Davi Martins, especialista do Green Peace em Mobilidade Urbana.
O cenário de poluição na capital paulista levou à sanção da Lei Municipal nº 16.802/2018, que prevê a substituição de toda a frota de transporte coletivo urbano no município em até 20 anos após a regulamentação. Os veículos usados hoje serão trocados por modelos com fontes de energia menos poluentes. “As cidades e os poderes executivos de cada estado têm um papel fundamental no combate à redução de gases de efeito estufa, criando um cenário que desencoraje o uso de veículos particulares”, constata o especialista do Green Peace.
A partir do Acordo de Paris, os países apresentaram Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). A do Brasil, aprovada no Congresso Nacional em setembro de 2016, traça a meta de reduzir emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030, tendo como referência os níveis de 2005.
A Organização das Nações Unidas (ONU) Meio Ambiente e o Ministério do Meio Ambiente criaram um projeto com sugestões de como reduzir as emissões em setores-chave. Entre eles, o de transportes, que necessitará de investimento de US$ 2,4 bilhões para eficientização de caminhões e ônibus movidos a diesel e mudança modal no transporte de passageiros de automóveis para ônibus e metrô.
O desafio é reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e, assim, impedir que a temperatura do planeta continue a subir. Um dos principais culpados pelo desequilíbrio climático é o setor de transportes, responsável por quase um quarto dos poluentes espalhados pela atmosfera. O Correio publica, a partir de hoje, a série de reportagens O caminho até 2030: os desafios dos transportes para o Acordo de Paris, e mostra alternativas para garantir o cumprimento das metas de redução de poluentes.
Especialistas em engenharia mecânica e meio ambiente elencam soluções para o setor que passam pela utilização de combustíveis renováveis e investimento em transporte público para reduzir o uso de veículos particulares. As consequências de postergar as mudanças vão desde o aumento de doenças respiratórias até o aumento do nível dos oceanos, o que pode deixar cidades como Rio de Janeiro, Recife e Salvador debaixo d’água antes do fim deste século.
Com menos de 60 anos de idade, Brasília cresceu e ganhou status de cidade grande. A frota de automóveis do Distrito Federal é uma das que mais aumentam no país. Junto disso, sobe também a quantidade de poluentes lançados na atmosfera. O setor de transportes é responsável por 49,05% de todas as emissões locais. Desses, 70% são emitidos por veículos particulares. Os dados são do Inventário de Emissões por Fontes e Remoções por Sumidouros de Gases de Efeito Estufa, estudo do Governo do Distrito Federal que analisou o ar da capital federal entre 2005 e 2012. Essa é a única análise governamental feita sobre os causadores da poluição no DF.
Dispersão de poluentes
Diferentemente do resto do país, Brasília não tem uma forte indústria, nem sofre queimadas de grandes proporções, o que deveria resultar num céu sem poluição. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) monitora, desde 2005, o ar da capital federal, com quatro estações. A mais antiga, instalada na Rodoviária do Plano Piloto, apresentou, em junho deste ano, Índice de Qualidade do Ar (IQAR) de 124,04 microgramas de partículas presentes a cada metro cúbico de ar.
O nível é considerado inadequado, podendo causar em toda a população sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta. Pessoas de grupos sensíveis, como crianças, idosos e aqueles com doenças respiratórias e cardíacas correm o risco de apresentar efeitos mais sérios na saúde.
“No período seco, o ar pode se tornar nocivo a grupos sensíveis, pois a umidade fica baixa e temos uma má dispersão dos poluentes, que ficam acumulados”, afirma Lourdes Martins, analista de atividades do Meio Ambiente do Ibram. “Reduzir os poluentes é uma questão de saúde pública, pois se trata de algo que afeta diretamente a qualidade de vida da população”, completa.
Problema nacional
A nível nacional, o desmatamento é o maior responsável pelas emissões de GEE, mas, segundo a organização não governamental Green Peace, é o setor de transportes o que apresenta maior crescimento, podendo se tornar o principal emissor de poluentes a partir de 2028. “Na grande São Paulo, um estudo nosso mostrou que os cerca de 15 mil ônibus que circulam pela cidade diariamente representam, hoje, cerca de 4 mil mortes por ano devido a emissões de material particulado. Caso o quadro não mude, esse número anual será de 7,5 mil em 2050”, contou Davi Martins, especialista do Green Peace em Mobilidade Urbana.
O cenário de poluição na capital paulista levou à sanção da Lei Municipal nº 16.802/2018, que prevê a substituição de toda a frota de transporte coletivo urbano no município em até 20 anos após a regulamentação. Os veículos usados hoje serão trocados por modelos com fontes de energia menos poluentes. “As cidades e os poderes executivos de cada estado têm um papel fundamental no combate à redução de gases de efeito estufa, criando um cenário que desencoraje o uso de veículos particulares”, constata o especialista do Green Peace.
A partir do Acordo de Paris, os países apresentaram Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). A do Brasil, aprovada no Congresso Nacional em setembro de 2016, traça a meta de reduzir emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030, tendo como referência os níveis de 2005.
A Organização das Nações Unidas (ONU) Meio Ambiente e o Ministério do Meio Ambiente criaram um projeto com sugestões de como reduzir as emissões em setores-chave. Entre eles, o de transportes, que necessitará de investimento de US$ 2,4 bilhões para eficientização de caminhões e ônibus movidos a diesel e mudança modal no transporte de passageiros de automóveis para ônibus e metrô.
Veículos do DF· 71%
Automóvel· 11,5%
Motocicletas· 6,4%
Caminhonetes· 0,7% Ônibus
Ciclovias como alternativa
Bruno Meireles Leite pedala para o trabalho há oito anos - Uma saída para a poluição dos transportes é substituir o carro pela
bicicleta. O governo local prevê ampliar as ciclovias na capital. De acordo com
o secretário de Mobilidade, Fábio Damasceno, a previsão é de que, até 2026, o
Distrito Federal se torne a cidade da América Latina com maior sistema de
ciclovias. Hoje, Brasília conta com 465 quilômetros desse tipo de via.
“Se você usar R$ 2,5 milhões para construir uma rodovia de mão dupla,
para construir uma ciclovia da mesma extensão, são necessários apenas R$ 200
mil”, constata. Segundo Damasceno, a extensão das ciclovias do DF deve ser
ampliada para 600 quilômetros até o fim de 2018. “Temos espaço, público e
configuração para isso”, garante.
A paixão por bicicletas do servidor Bruno Meireles Leite, 36 anos,
começou na infância. Natural de Minas Gerais, ele começou a usar o meio de
transporte há oito anos. “Morava na 116 Norte e ia pedalando para a Esplanada
dos Ministérios, onde trabalho duas vezes por semana. Com o tempo, passei a
fazer isso todos os dias”, conta. Bruno ressalta que teve um aumento na
qualidade de vida, já que não precisa mais se preocupar com engarrafamento ou
na procura por vagas para estacionar.
Hoje, o servidor mora na 403 Norte e ainda realiza o trajeto de bicicleta
para o trabalho. Porém, no ano passado, Bruno virou pai e precisou mudar a
rotina. “Ainda vou de bike para o serviço, mas, no fim do dia, pedalo até o
serviço da minha esposa, pego o nosso carro, busco minha menina na creche e vou
para casa”, comenta. Mesmo assim, o ciclista garante que, quando a filha
estiver mais velha, deixará o automóvel de lado. “Eu chego para trabalhar mais
animado, com a adrenalina correndo ainda. Quando vou embora, a cabeça dá uma
esvaziada e fico mais leve.” (PG e WG)
Frota cresce mais que a população
Mais investimentos em transporte público eficiente
são necessários para reduzir impactos ambientais - Na última década, a frota de veículos do DF dobrou
e cresceu acima da taxa de aumento populacional. São 1,7 milhão de veículos nas
ruas. Se o ritmo continuar, até 2030, serão mais de 2,3 milhões. O número
elevado de automóveis está diretamente ligado à expansão da emissão de gases de
efeito estufa, por isso, tanto em nível nacional quanto internacional, governos
projetam programas de desincentivo ao uso do carro.
Mas não há expectativa de melhora rápida. Estudo da
empresa British Petroleum (BP) mostra que o número de veículos em circulação no
mundo deve mais do que duplicar até 2035, atingindo a marca de mais de dois
bilhões de unidades, sobretudo em função do rápido crescimento das frotas nos
países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia.
Cidades como Paris, Madrid e Copenhague
implementaram legislações e políticas públicas para reduzir o uso de
automóveis, mas se trata de uma realidade ainda distante da capital brasileira.
Na avaliação de especialistas, para Brasília acompanhar o modelo das cidades
europeias, deve seguir os mesmos passos traçados por lá: investir em um
transporte público tão bom que o uso de veículos particulares seja dispensável.
“Criar linhas e corredores exclusivos, como é feito
em Brasília, ajuda a mostrar para a população que usar o transporte público
pode ser mais eficiente do que o privado”, explica David Tsai, estudioso do
Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).
Há ainda políticas impopulares que podem reverter o
aumento da frota, como a cobrança por estacionamentos em áreas públicas e
dificultar o financiamento de veículos, mas são ações vistas como secundárias,
a serem tomadas após um fortalecimento do transporte público. Tsai completa que
a metodologia de redução de poluentes trabalha a partir de três pilares:
evitar, mudar e melhorar. “O primeiro ponto é, a todo custo, evitar viagens e,
com isso, reduzir a queima de combustíveis.”
Doutor em transportes e professor do UniCeub, Edson
Benicio afirma que o transporte público no DF é eficaz, mas não eficiente. “Ele
cumpre o papel de levar a população pela cidade, para o trabalho, escola, etc.,
mas não é atraente o suficiente para convencer alguém a abandonar o conforto,
conveniência, praticidade e segurança de um transporte privado.”
Controle de emissões
Para diminuir os impactos ambientais que uma frota
tão grande causa, o Ibram, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal
(Detran-DF) e as secretarias de Meio Ambiente e Mobilidade Urbana do DF se
reuniram, no mesmo ano em que o Acordo de Paris foi fechado, para lançar um
Plano de Controle de Poluentes Veiculares (PCPV). A proposta acabou não
efetivada à época. Após um ano e seis meses parados, os órgãos voltam a se
reunir nesta semana para reformular o plano e colocá-lo em vigor.
O objetivo é reduzir em 40% a emissão de gases do
setor de transporte no DF. Entre as principais ações previstas está uma
fiscalização ambiental feita pelo Detran-DF, que incluiria vistoria da
quantidade de gases emitidos pelos veículos para garantir que as manutenções
estejam em dia.
A Secretaria de Meio Ambiente será a responsável
pelas políticas públicas do PCPV. A expectativa da pasta é de que o programa
esteja em execução até o fim de 2019.
O secretário de Mobilidade, Fábio Damasceno, afirma
que os planos do GDF não são travar uma luta contra o carro particular, mas,
sim, criar um sistema integrado de mobilidade.
“Vamos
investir em estacionamentos e terminais remotos fora do Plano Piloto, pois você
pode deixar o filho na escola, estacionar o carro próximo ao BRT do Gama e ir
de transporte público até o trabalho. Isso reduz as emissões e impede que o
veículo fique 10 horas parado na área central de Brasília A integração é o que
há de mais moderno em mobilidade”, afirma.
Para Fábio, consolidar a integração trará uma mudança
gradual em relação ao uso do carro. “Vamos mostrar as melhorias no transporte
público e as pessoas vão fazer essa migração de forma natural”, garante.
"Vamos investir em
estacionamentos e terminais remotos fora do Plano Piloto, pois você pode deixar
o filho na escola, estacionar o carro próximo ao BRT do Gama e ir de transporte
público até o trabalho”
(Fábio Damasceno, secretário de
Mobilidade)
As cidades mais congestionadas
1º - Cidade do México (México)
59%
2º - Bancoc (Tailândia) 57%
3º - Istambul (Turquia) 50%
4º - Rio de Janeiro (Brasil) 47%
5º - Moscou (Rússia) 44%
* Percentual de tempo a mais que o
motorista fica no trânsito devido a engarrafamentos - Fonte: Tomtom, empresa de Sistema de Posicionamento Global (GPS)
(*) Pedro Grigori - Walder
Galvão - Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press - Breno Fortes/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
Tags
POLÍTICA

