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Uma visita e várias descobertas


Uma visita e várias descobertas

*Por Jane Godoy

Em 28 de maio de 2017, a população de Brasília e, principalmente do Lago Sul, teve a satisfação de ver a orla do Lago Paranoá, às margens da Ponte das Garças, inaugurada e festejada, pela beleza do lugar e o tão necessário aproveitamento daquele espaço privilegiado. 

Antes um matagal, onde faltavam cuidados de toda ordem, o espaço entristecia moradores e visitantes que, diante do que poderia ser um chamariz para o turismo e a prática de esportes era, sim, uma ameaça aos pescadores que, com suas famílias, se atreviam a desfrutar de um lugar perigoso, sujo e “lar” de cobras e de demais animais que vivem em locais como aquele. 

Nem é preciso dizer que o referido matagal e barranco abandonados foram motivo de nossos artigos domingueiros, na ânsia de termos atendidas as nossas reivindicações junto aos órgãos competentes, tal a nossa tristeza ao ver aquele desperdício à beira de nosso lago, hoje 99% despoluído, graças a Deus. 

E o que tinha que ser feito, felizmente, foi feito. Lá estivemos, numa manhã ensolarada de domingo, compartilhando, com muita festa e alegria, da inauguração daquele que foi batizado de Deck Sul. Nem é preciso dizer que todos se encantaram com a qualidade das benfeitorias ali colocadas, a limpeza, o longo e bem feito deck para que todos pudessem, sem medo, aproveitar a beleza do pôr do sol ou fazer caminhadas à beira do lago. Ciclovia sinalizada, pista para caminhada, pista de skate, quadra poliesportiva, caramanchões e quioques para piqueniques e encontros da família, ao lado de parquinhos para lazer das crianças e equipamento de exercícios físicos para os adultos. Perfeito!

Turistas, a paisagem e a canoa
Perfeito? Mera ilusão! Em pouco tempo, logo depois da inauguração, entusiasmada que sou com tudo o que transforma a nossa Brasília em uma capital de primeira grandeza, organizei um piquenique familiar com meu netinho, então com 2 anos. Com cestinha cheia de lanches, sucos, toalha xadrez, lá fomos nós para a nossa “aventura” ao ar livre, como ele gosta de chamar. 

Naquela época, um ano se passou, já encontramos tudo detonado: portão da quadra de esportes arrancado e jogado para um lado, lixeiras atiradas ao chão, lixo idem, brinquedos quebrados e, ao longo do pier, maculando aquela paisagem linda ao nosso dispor, sujeira. Muita sujeira. “De um tudo” como dizem popularmente. 

Demos adeus àquela que deveria ser e se conservar uma das maravilhas de Brasília. Ao entrar no carro, olhando para trás, o pensamento triste do “até nunca mais”. 

Lixeiras quebradas: a "prova do crime"
Mas, teimosa, voltei. Dessa vez com turistas vindos de São Paulo. A necessidade de mostrar aquela maravilha, nem que fosse só no meu pensamento otimista, foi mais forte. 

Vergonha e mais decepção. Diante do lamento dos visitantes, tive que “engolir” o que eu já sabia que iria encontrar. Lixeiras detonadas, sujeira ainda boiando sob o pier, quadra desfalcada e portão estragado. 

O que foi pior foi a conversa que tive com duas laboriosas funcionárias do SLU que, tentando deixar o lugar o mais limpo que podiam, revelaram que o local se transformou em ponto de drogas “e otras cositas más”. 

“Eles descem, em bandos, da L2 e, aqui, tocam o terror, minha senhora”, disseram as duas. “Fumam, cheiram, fazem arruaça, destroem, quebram. É assim que eles usam o parque”, acrescentaram, em tom de lamento. “Até ‘roubar carro’ aqui já ‘roubaram’ há poucos dias!" 

Como tudo nesta vida, não deve ser passível somente de críticas, soluções devem ser apresentadas. O que mais gostamos de fazer. Pensamos nisso desde aquele piquenique familiar. 

Um lugar como aquele precisa ter uma administração séria (vide Pontão do Lago Sul e o Parque da Cidade, embora a vigilância seja ainda precária) com sala e administrador nomeado em sua sede, telefone de emergência disponível e divulgado ao longo do parque, além de motoqueiros ou ciclistas uniformizados, com crachá e logomarca do governo, circulando todo o tempo por todos os lugares: ciclovia e pista de caminhada, além do pier. Uma viatura da polícia circulando por lá todos os dias seria o ideal e necessário também. 

Infelizmente e me envergonho de dizer, muitas pessoas só se comportam sob pressão ou intimidação. Instinto de preservação e conservação passam longe. Se deixam os logradouros públicos “sem dono”, é fatal: terra de ninguém é assim mesmo. Só se sentem alegres e se divertindo, se estiverem quebrando e destruindo alguma coisa. Então temos que encarar isso e agir conforme a situação exige.

Soube também, pelos pescadores “barranqueiros”, sobre a pesca predatória. Barqueiros circulam por baixo da ponte, meio escondidos, atirando redes. O que é ilegal e proibido. “Mas, ninguém policia, né?”     

Estão construindo um banheiro na extremidade perto da ponte. É pouco. Deveria ser feito um segundo, na outra extremidade e, quem sabe, outro no meio do parque.  É só passar por lá aos sábados e domingos para constatar o quanto ele é frequentado. O estacionamento fica lotado.  

Um lembrete: Não adianta construir banheiros e deixá-los “ao deus-dará!” Eles precisam ter pessoas na manutenção, todo o tempo, para homens e mulheres. Sugiro contratar senhoras e senhores aposentados para, uniformizados e treinados, aumentarem a sua renda, trabalhando na limpeza e manutenção dos banheiros, depois de passarem por um treinamento adequado. 

Ou preferem vê-los sem pias, vasos, torneiras, luminárias, portas e janelas em pouco tempo? 

Uma questão de escolha...   
(*) Jane Godoy – Coluna “360 Graus” – Fotos: Gabriel Jabur - Jane Godoy/C.B/Press – Renato Araújo -  Correio Braziliense




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