Em 2014, as vagas de deputado na Câmara Legislativa já eram as mais
cobiçadas do Brasil: salário acima de R$ 25 mil e muitos benefícios
Todo mundo quer ser distrital - De novo, o mandato
de deputado na Câmara Legislativa é o mais disputado das eleições no Brasil,
com uma média de 40 candidatos por vaga. Fragilidade do governo, benefícios e
baixa representatividade podem ser explicações para o número
*Por Deborah Fortuna - Murilo Fagundes*
O cargo de deputado distrital é o mais concorrido das eleições de 2018.
Com 960 postulantes para 24 cadeiras, a concorrência chega a 40 pessoas por
vaga. Os dados são das estatísticas de pedido de registro de candidatura do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, o Distrito Federal também se
destaca como uma das unidades da Federação com menor relação entre eleitores e
candidatos: cada postulante representa 1,7 mil votantes.
A capital federal também é a sexta unidade federativa com maior número
de candidatos, perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Rio Grande do Sul e Paraná. E tem mais postulantes do que unidades da federação
com população muito maior, como Goiás, Santa Catarina, Maranhão e Espírito
Santo. Ao todo, 1,2 mil pessoas pediram registro na Corte Eleitoral. O órgão
tem até 17 de setembro para avaliar todas as solicitações.
Apesar de ser o cargo mais concorrido de 2018, o número de candidatos a
distrital diminuiu em relação a 2014. Há quatro anos, o registro mostrava mil
postulantes — 42,7 candidatos por vaga — também a maior concorrência da época.
Especialistas ouvidos pelo Correio divergiram em análises para explicar o
porquê do alto número da concorrência na capital federal.
Para o cientista político Wladimir Gramacho, há duas hipóteses. A
primeira é de que a fragilidade do governo distrital pode ter estimulado um
número maior de candidaturas. Por outro lado, também existe a questão dos
benefícios na Casa: o salário que passa dos R$ 25 mil mensais e os benefícios
mensais incluem um polpudo auxílio-alimentação de R$ 1.072, 75 dias de férias
por ano, mais de R$ 180 mil de verba de gabinete e mais de R$ 25 mil
disponíveis para indenizar todo tipo de gasto.
“Sempre vemos candidatos com pouquíssimos votos no fim das eleições. É
um excelente assunto para retomar no fim do processo: ver quem trabalhou na
campanha e quem nem se moveu. O que o eleitor no DF não pode reclamar é de
marasmo”, observa. Para ele, a possibilidade de licença do serviço público pode
até ser uma tentativa de explicação. “Mas não cabe lançar suspeita sobre os
candidatos”, pondera.
A Lei nº 8.112/90, do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da
União, garante que servidores públicos que entrarem na política podem tirar uma
licença do trabalho para se dedicar à candidatura. Nos dados do TSE, os números
revelam que servidores públicos aposentados, estaduais e federais somam 205
postulantes — o que corresponde a 16,7% do total de candidatos do DF. É a ocupação
mais comum entre os postulantes, seguida de empresários, com 124 (10,1%) e
advogados, com 88 (7,1%).
Baixa representatividade
De acordo com Paulo Calmon, professor e cientista político da
Universidade de Brasília (UnB), também há duas possibilidades para a
explicação. Em primeiro lugar, existe uma baixa representatividade na Câmara
Legislativa. Ou seja, são poucas cadeiras, se comparado ao número de outros
estados, por exemplo, em São Paulo. No estado paulista, a Assembleia
Legislativa é composta por 94 deputados estaduais. “Outras câmaras são mais
equipadas, como Rio de Janeiro e São Paulo. Eles têm 70 a 80 políticos”,
avaliou. “Aqui, nós temos a sobreposição do trabalho que, em outros estados, é
dividido em dois: a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Vereadores. Ou seja,
ficamos com o trabalho desses dois em um só lugar, e isso desperta uma
demanda”, disse.
A outra hipótese é que, por ser a capital do país, há um grande
envolvimento da população na política e nos órgãos públicos. O cientista
político José Matias-Pereira concorda com a tese. “Temos uma eleição atípica.
As pessoas estão desencantadas com a política. Aí surgem candidaturas para
tentar mudar. E temos 35 partidos que também querem se consolidar”, completou o
especialista.
A proporção de cidadão por postulante : Unidade -
Eleitores - Candidatos - Eleitor por candidato
*RR 331.489 658
504
*AP 512.110 655
782
*AC 547.680 570
961
*DF 2.084.357 1.225
1.702
*RO
1.175.733 592 1.986
*AM 2.428.100 829
2.929
*TO
1.039.439 344 3.022
*SE 1.577.060 500
3.154
*ES
2.754.727 816 3.376
*RJ 12.406.391 3.565
3.480
*MS
1.877.982 524 3.584
*GO 4.454.496 1.134
3.928
*MT
2.330.280 527 4.422
*PB 2.867.658 606
4.732
*RN
2.373.620 489 4.854
*AL 2.187.966 417
5.247
*PI
2.370.894 419 5.658
*MA 4.537.237 741
6.123
*PE
6.570.070 1.062 6.187
*PA 5.499.282 875
6.285
*RS
8.354.732 1.314 6.358
*PR 7.971.083 1.244
6.408
*SC
5.070.212 765 6.628
*MG 15.700.963 2.277
6.895
*CE
6.344.482 900 7.049
*BA 10.393.168 1.209
8.596
*SP
33.040.405 3.842 8.600
“É um excelente assunto para retomar no fim do processo: ver quem
trabalhou na campanha e quem nem se moveu. O que o eleitor no DF não pode
reclamar é de marasmo”
(Wladimir Gramacho, cientista político)
Houve aumento de candidatos
O TSE
contabilizou 28,1 mil pedidos de registro de candidatura em todo o país. O
número representa um aumento de cerca de 2 mil em relação às eleições gerais de
2014 — quando foram registrados 26,1 mil postulantes. O número se refere aos
candidatos que disputam as vagas de presidente, vice-presidente, governador,
vice- governador, senador (e 1º e 2º suplentes), deputado federal, deputado
estadual e deputado distrital.
O PSL foi a sigla que mais registrou candidatos ao pleito, com 1,4 mil — 5,29% do total. Em segundo lugar, está o PSol, com 1,3 mil representantes (4,71%). Em terceiro, vem o PT, com 1,2 mil (4,56%). O PSDB, um dos maiores partidos do país, aparece em 12º lugar. O perfil médio do candidato mostra que a maioria é do gênero masculino, acima de 40 anos e autodeclarado branco.
Segundo o TSE, 19,4 mil postulantes são homens (69,2%), e 8,6 mil, mulheres (30,7%). Em números absolutos, a participação feminina aumentou em relação a 2014, quando foram registradas 8,1 mil, mas a porcentagem em 2018 é menor. Nas últimas eleições, elas representavam 31,1% do total. A maior parte dos candidatos têm idade entre 45 e 49 anos, com 16,12% do total. Em seguida, estão os de 50 e 54 anos, com 15,92%. Os dados do TSE também mostram que a maioria dos concorrentes se declarou branca, com 52,66% do total. Em segundo lugar, estão os que se declararam pardos (35,46%), negros (10,82%); 0,47% disseram ser indígenas.
28,1 mil: Número de pedidos de registro de candidaturas em todo o país, segundo o TSE
(*) Deborah Fortuna - Maurilio Fagundes* -
(* Estagiário sob a supervisão de Leonardo
Meireles) - Foto: Breno Fortes/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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ELEIÇÕES 2018