Ibaneis durante caminhada na Rodoviária do Plano: o novato tomou gosto
pelo contato com o povo nas ruas
Apresentando-se como um não político, o ex-presidente da OAB-DF Ibaneis
Rocha (MDB) saiu dos 2% nas primeiras pesquisas de intenção de votos para
governador do Distrito Federal e alcançou, com folga, a liderança no primeiro
turno
No início da campanha, nem o analista mais ousado
seria capaz de prever a trajetória de Ibaneis Rocha (MDB), 47 anos, no primeiro
turno, que terminou com ele como o mais votado, escolhido por 634.008
brasilienses. Desconhecido da maior parte da população, o ex-presidente da
OAB-DF,, lançou a candidatura perto do prazo final. Os números das primeiras
pesquisas não eram animadores para o estreante na política: 2%. O percentual
era muito distante dos 41,97% alcançados nas urnas ontem.
O grupo de Ibaneis, no entanto, acreditava desde o
início no crescimento. Em 27 de agosto, em caminhada pela Rodoviária do Plano
Piloto, o candidato a vice, Paco Britto (Avante), afirmou que chegariam logo
aos 7%, depois, começariam a crescer mais e estariam garantidos no primeiro
turno. No momento, Ibaneis ainda marcava os 2% e o otimismo soava utópico. O
concorrente ideal, ainda disse Paco, seria o governador Rodrigo Rollemberg
(PSB) — o segundo mais votado ontem.
Impulsionado por um dos maiores tempos de televisão
entre todos os candidatos e pela volumosa campanha nas ruas, o emedebista
começou a subir e a incomodar adversários. Deixado de lado nos primeiros
ataques, passou a receber acusações e denúncias dos concorrentes. Respondeu à
maioria deles de maneira enérgica, seja em debates e entrevistas, seja na
própria Justiça, em que protocolou diversas representações contra adversários.
Ao longo do primeiro turno, Ibaneis tomou gosto
pelo contato com o povo nas ruas. Peregrinou por várias regiões do Distrito
Federal. Nelas, se apresentava, abraçava a população, conversava, comia de
tudo, de pastel a comidas típicas do nordeste nas inúmeras feiras que visitou.
O candidato, que passou por uma cirurgia bariátrica para perder peso, deixou a
dieta de lado. Nas ruas, costumava falar da trajetória de vida, dos pais
piauienses.
Nordestinos
O pai e a mãe de Ibaneis deixaram Corrente (PI) e
vieram morar no Distrito Federal em 1959. Aqui tiveram três filhos, mas
voltaram à terra natal. O advogado, que nasceu no Hospital de Base em 1971, passou
boa parte da infância e da adolescência na cidade nordestina, onde trabalhou
como vendedor de feira no comércio do pai. Voltou para Brasília para estudar.
Morou em Sobradinho e se formou em direito no UniCeub.
Ibaneis é também mestrando em gestão pública pela
Universidade de Lisboa. Teve dois filhos, Caio e João Pedro, no primeiro
casamento, com Luzineide Getro, e espera mais um, Mateus, com a atual mulher,
Mayara Noronha. Apaixonado por culinária, é especialista, segundo amigos, em
pratos nordestinos. Faz, uma vez por ano, uma feijoada para dezenas de
convidados.
Uma característica física chamou a atenção de
eleitores durante programas de televisão e aparições públicas de Ibaneis. O
olho esquerdo do advogado está sempre mais fechado do que o outro. O problema
se deve à Paralisia de Bell, causada por uma inflamação no nervo facial que
deixa um dos lados do rosto com fraqueza súbita. O mal também acometeu famosos
como o piloto Ayrton Senna e a atriz Angelina Jolie.
Fortuna
Candidato mais rico na disputa ao GDF, Ibaneis foi
acusado inúmeras vezes pelos adversários de abusar do poder econômico. Declarou
ao TSE um patrimônio de R$ 94 milhões. O dinheiro, porém, nunca foi vergonha
para o advogado. Ele se orgulha do que obteve e disse isso abertamente algumas
vezes. Abriu o próprio escritório de advocacia em 1994 e trabalhou em muitas
causas ligadas a sindicatos e a servidores públicos.
Desde o início da candidatura, Ibaneis afirmou que
usaria recursos próprios para bancar a campanha e usaria até o limite permitido
pela Justiça Eleitoral, de R$ 5,6 milhões. Argumentou que não havia nada de
errado nisso e que fazia parte do jogo. Não consta, nas receitas declaradas ao
TSE, qualquer doação do partido.
Articulador
Ibaneis presidiu a OAB-DF de 2013 a 2015. Depois de
sair do cargo, manteve influência na política da Ordem. Neste ano, mesmo
ensaiando entrar na disputa eleitoral, comandou a articulação para que as
candidaturas de Jacques Veloso e Cleber Lopes se unissem e sugeriu uma votação
para a escolha do candidato à presidência entre eles. Ganhou Jacques Veloso,
apadrinhado do atual presidente Juliano Costa Couto. As eleições ocorrem em
novembro. Em 2012, quando foi eleito, Ibaneis derrotou o então presidente da
Ordem, Francisco Caputo. Teve 7.225 votos. Cerca de 15 mil advogados
participaram da eleição.
Como presidente da OAB-DF, Ibaneis foi responsável,
em 2014, por tentar negar o pedido de registro do ex-ministro Joaquim Barbosa
na Ordem. Ibaneis justificou que Barbosa havia desrespeitado advogados repetidamente
durante o processo do Mensalão. A solicitação de Barbosa, a despeito da posição
de Ibaneis, foi aceita pelo conselho da OAB.
Antes de entrar para a política local, o advogado
tinha domicílio eleitoral no Piauí. No estado, contava com o apoio de Ciro
Nogueira (PP) para tentar uma cadeira no Senado, mas preferiu transferir o
título para o DF.
Quando decidiu tentar a candidatura ao Palácio do
Buriti, negociou com alguns partidos, entre eles o PDT, mas a conversa não foi
para frente. Acabou fechando com o MDB, comandado em Brasília pelo
ex-vice-governador Tadeu Filippelli, envolvido no escândalo da Operação
Panatenaico, que investiga desvios na construção do Mané Garrincha. A aliança
foi usada por adversários para atacar o advogado. O tempo de tevê, disse
Ibaneis em algumas ocasiões, foi preponderante para a decisão. Ele repetiu
durante a campanha que corruptos são pessoas e não partidos, para justificar a
filiação ao MDB.
Depois de entrar para o MDB, Ibaneis recuou da
candidatura para compor com Jofran Frejat (PR). Foi tido, por muito tempo, como
um dos nomes mais fortes para ser vice do médico. Frejat, porém, desistiu da
disputa, quando liderava com folga as pesquisas. Naquele momento, Ibaneis
estava na Rússia. Foi ao país para assistir à Copa do Mundo em meio ao
turbilhão das negociações.
O grupo formado ao redor de Frejat se desmantelou e
deu chance a novas candidaturas. A de Ibaneis foi uma das que se concretizou.
Sem Frejat, buscou apoio de partidos como o PP, comandado regionalmente pelo
deputado federal Rôney Nemer. A sigla foi disputada até o fim também por Fraga
(candidato do DEM), mas Ibaneis ganhou a queda de braço. A proximidade com Ciro
Nogueira facilitou a negociação. A coligação — formada também por Avante, PSL e
PPL — deu estofo para o fortalecimento da candidatura de Ibaneis, que alcançou
ontem sucesso no primeiro turno.
Cinco perguntas para Ibaneis Rocha (MDB), candidato ao GDF
A campanha foi muito acirrada no primeiro turno. A
que atribui o resultado nas urnas?
A insatisfação do eleitor com os políticos
profissionais ficou evidente. Não sou político e apresentei uma proposta
diferente, voltada para a sociedade. Mostrei ser possível fazer o DF funcionar
em todas as áreas que estão abandonadas pelo atual governo.
Quais alianças são viáveis para o segundo turno?
Com quem vai dialogar em busca de apoio?
Eu fui talhado no diálogo. Foi assim que eu
administrei a OAB. Mas não admito as velhas práticas políticas, como do toma
lá, da cá, indicações meramente partidárias e vícios de gestão. A partir desses
termos, eu converso com todos.
Quais serão as estratégias de campanha para o
segundo turno?
Vou continuar conversando com a sociedade,
abraçando as pessoas, ouvindo o povo. As pessoas querem soluções e é o que vou
apresentar, propostas que atendam às demandas da população e que façam com que
os serviços públicos funcionem.
Qual será a principal bandeira nesta segunda etapa?
A minha bandeira é a recuperação do DF. É possível
ter serviços públicos de qualidade na saúde, segurança, transportes, educação e
com oportunidades para todos, na forma de geração de mais empregos e renda.
Como será o diálogo com a nova Câmara Legislativa?
Os distritais terão influências na escolha de cargos do eventual governo?
Repito: estou pronto para o diálogo, mas sem as
velhas práticas políticas. Quero que a Câmara Legislativa participe e contribua
com o governo, mas de forma aberta e sempre em benefício da população.
Propostas: Confira alguns dos projetos mais
citados pelo candidato durante a campanha:
SAÚDE
Ampliação da cobertura de saúde da família e
aumento do horário de atendimento nas unidades básicas. Parcerias com
iniciativa privada para atender à demanda reprimida.
SEGURANÇA
Delegacias abertas 24h, novos concursos para
contratação de efetivo e estruturação dos planos de carreira para os servidores
públicos da área de segurança pública.
MOBILIDADE URBANA
Aumento da frota de ônibus e criação de mais
itinerários. Criação de túnel no centro de Taguatinga e conclusão de obras na
EPTG.
REGULARIZAÇÃO
Reforçar o processo de regularização de imóveis
urbanos e rurais e facilitar o acesso a políticas públicas.
EDUCAÇÃO
Reforma de todas as escolas e ampliação de vagas em
creches para atender à população de baixa renda. Integração de ações de
esporte, cultura e lazer às agendas escolares.
Ana
Viriato - Pedro Grigori - Alexandre de Paula - Fotos: Arthur Menescal /CB/D.A.Press
-Marcelo Ferreiara /CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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