O glamour nas águas do lago - O Paranoá
abriga mais de 52 mil embarcações e coloca o DF em 4º lugar nacional em número
de barcos. Opções mais acessíveis, que permitem, por exemplo, a aquisição de
cotas, atraem cada vez mais brasilienses para o espelho d’água
*Por Erika Manhatys
Yuri Resende reúne amigos para passeios na
embarcação que compartilha com outros cotistas
Brasília está a cerca de mil
quilômetros do mar. Porém, em meio às árvores retorcidas e ao chão de terra
seca, a capital federal tem um tesouro de 48 quilômetros quadrados de área e
uma população inteira que depende de suas águas, o Lago Paranoá, homônimo do
rio represado que lhe deu origem. O nome vem do latim e significa “enseada do
mar”. O espelho d’água abriga mais de 52 mil embarcações, o que coloca o
Distrito Federal na quarta posição nacional em tamanho de frota náutica.
Segundo a Marinha do Brasil, estão à frente de Brasília apenas São Paulo,
Paraná e Rio de Janeiro.
O entusiasmo do brasiliense com as
atividades náuticas tem movimentado um mercado de itens de luxo, que ganha
novos ares e adeptos com perfis diferentes. O sistema de compra por cota, que é
nada mais é que uma aquisição em sociedade, deu ao público de classe média uma
opção acessível de investimento. Os contratos conjuntos, assim como o bem
adquirido, são geridos pela empresa que vendeu a embarcação e o cotista não
precisa se preocupar com as negociações entre os sócios, que, na maior parte
das vezes, não se conhecem.
Assim, muitos apaixonados pela
navegação puderam realizar o sonho de ter uma embarcação. Nascido em Salvador,
Thiago Brandão, 38 anos, encontrou nas cotas e na lancha uma forma de
aproximação com a terra natal. Há três anos em Brasília, ele trouxe ao
quadradinho a mulher e o filho. Antes companheiro de surfe do pai, o menino
hoje acompanha o casal em passeios motorizados no lago e em atividades mais
radicais: eles praticam wakeboard, modalidade na qual a prancha é puxada por um
barco. “Eu não vivo fora d’água. Surfava todos os dias em Salvador. Não perdi
essa conexão aqui na capital, estou todos os fins de semana no lago”, conta.
A democratização desses bens
oportunizou o lazer no lago, antes exclusivo da população com poder aquisitivo
mais alto. O bancário Yuri Resende, 29, acredita que, além dos bons momentos de
diversão, ter um barco é mais do que sinônimo de status. “É a relação
poder-sucesso, assim como ter uma mansão, um carro importado, frequentar
camarotes, é estar onde nem todos podem ir. Mas isso não é tudo. Para mim, vir
ao lago e passar o dia por aqui é o melhor programa a se fazer, perde só para
viajar”, ressalta. Ele também relata que os gastos são reduzidos quando
comparados a outras opções de entretenimento em Brasília. “Eu gosto sempre de
estar com muita gente. Normalmente, levo cerca de 10 amigos e rachamos todos os
gastos com bebida e alimentação.”
Rodrigo Melchior investiu, com o sócio, em um bar
flutuante
Thiago e Yuri são clientes de Rogério
Fayad, 29, proprietário da Premier Jet, empresa de aluguel e compra de
lanchas e de motoaquática. Segundo ele, os gastos mensais incluem todas as
despesas de manutenção, segurança e guarda da embarcação. “O cotista terá um
custo único mensal a partir de R$ 270 por mês para o jet-ski e a partir de R$
500 por mês para a lancha”, afirma. O empresário sustenta que o lago propicia
um sentimento especial para quem nele navega. “A paisagem e o pôr do sol de
Brasília vistos do lago são únicos e inesquecíveis. Só dando uma volta de
lancha para saber. As poucas alternativas de lazer ao ar livre e o clima seco
fazem do lago uma das melhores opções”, resume.
Mercado aquecido
Há quem prefira a exclusividade de ter
um barco só para si. Entre os muitos modelos, pode-se encontrar um motoaquática
zero-quilômetro a partir de R$ 29 mil e até modelos de mais de R$ 100 mil. As
lanchas também têm grande variação de preços, um modelo simples, com 16 pés
(cerca de 5 metros), pode sair por R$ 50 mil, já as embarcações maiores, com 52
pés (15 metros), alcançam os R$ 5 milhões.
Júnior Ferreira, 33, é vendedor em uma
loja especializada em itens náuticos e afirma que, desde 2013, o mercado
brasiliense vem passando por uma tendência de sofisticação. “De cinco anos para
cá, os clientes têm escolhido barcos maiores e mais caros, hoje, as lanchas
mais baratas estão saindo menos e a preferência é para as com mais de 30 pés,
cujo valor gira em torno de R$ 1 milhão”, avalia. Ele estima que os lucros
obtidos somente com a área de vendas de jet-skis e lanchas alcance R$ 2,5
milhões por mês.
Para confraternizar com os amigos,
Bruno Bermudez, 21, é quem mais usa a lancha da família. “Como somos sócios de
um clube, os custos fixos totais giram em torno de R$ 136 por mês, mais uns R$
300 com um marinheiro para fazer as limpezas e manutenções da lancha.
Entretanto, o que pesa é a gasolina, que pode variar de R$ 800 a R$ 1,2 mil,
dependendo do tamanho e do quão vazio está o tanque”, conclui.
A movimentação náutica no Lago Paranoá
também impulsionou o surgimento de outros comércios na região. Um empreendimento
em Capitólio (MG) serviu de inspiração aos amigos Rodrigo Melchior, 30, e
Godofredo Gonçalves, 33, donos da Porto Marina Lounge Bar. “Nós tínhamos uma
lancha e notamos que não havia opções de entretenimento no lago, então, em uma
viagem a Porto Escarpas, conheci um bar flutuante e decidimos adaptar a
estrutura ao lag,o e encaramos o desafio mesmo com todas as dificuldades de
regulamentação”, menciona Rodrigo.
Ao sabor do vento
Julia Sampaio é competidora de vela na categoria em
dupla
A velocidade e a praticidade dos barcos motorizados ofuscaram a beleza
dos barcos movidos a vento. Mas a prática da vela ainda mantém muitos
apaixonados. Julia Sampaio, 14 anos, é competidora na categoria em dupla. Ela
já viajou pelo Brasil e conquistou uma série de títulos. “Eu comecei aos 11
anos, por incentivo da minha madrinha, que era vice-diretora de um clube
náutico, e dos meus pais, que sempre gostaram. Dois anos depois, eu participei
da minha primeira competição, em Vitória, e não parei mais”, conta.
Há mais de 40 anos navegando nas águas
do Lago Paranoá, José Celso Martins, 76, sente pesar em estar afastado de seu
veleiro, por causa de um problema na coluna. “Infelizmente, há três anos que
não velejo, mas já atuei demais com a vela. Cheguei a disputar as
classificatórias para a Paraolimpíada de Londres. A maioria dos velejadores são
amadores e velejam por amor, a gente é da água. Estar ao sabor do vento,
apreciando a natureza, não há comparação”, confessa.
O empresário salienta que a carreira esportiva
na vela é um caminho tortuoso e difícil, por isso ele é um incentivador da
prática em Brasília. “Os patrocínios são escassos, os materiais são muito caros
e, mesmo assim, temos competidores de alto nível na capital. Há cerca de sete
anos, eu doei 60 velas para os clubes náuticos que promovem ações sociais para
crianças carentes e, ainda hoje, vejo as velas sendo utilizadas nas aulas
solidárias”, conclui.
Para saber mais: Exigências
para tirar o documento de condutor
• O interessado deverá comprovar no
mínimo seis horas de navegação em embarcações de esporte, recreio, ou
similares.
• Alcançar ao menos 50% de acertos em —
prova de Arrais, que é constituída por 40 questões.
• Apresentar cópia autenticada da
Carteira de Identidade (RG), do Cadastro de Pessoa Física (CPF) e comprovante
de pagamento da taxa de pedido.
• Ter idade mínima de oito anos para
veleiros, sob a responsabilidade do pai, tutor ou responsável legal, e de 18
anos para motonauta, arrais-amador, mestre-amador ou capitão-amador.
Fonte: Marinha do Brasil
(*) Erika Manhatys (*Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer) - Fotos: Bento
Viana - Marília Lima/CB/D.A.Press - Ed Alves/CB/D.A.Press -
Correio Braziliense