Crianças e adultos fizeram um abraço simbólico no local e soltaram
balões brancos, em repúdio à violência
Ato pela paz na Octogonal - Comunidade da Quadra 4 fez uma manifestação
para pedir respeito e gentileza, depois que um garoto de 6 anos foi agredido
pelos pais de um colega da mesma idade. Homem segurou a vítima para o filho dar
um soco
*Por » Alexandre de Paula
Com cartazes e camisetas brancas, moradores do condomínio da Octogonal 4
(AOS 4), onde um casal agrediu um menino de 6 anos no dia 9, fizeram ontem uma
manifestação com pedidos de paz e de respeito. O caso gerou medo entre as
crianças e adolescentes que costumavam brincar no espaço e os afastou da área
comum. No ato de ontem, moradores buscaram mostrar que o ambiente, apesar do
incidente, é de tranquilidade e de repúdio à violência. Para a tia do garoto
agredido, Jucinea Nascimento, 43 anos, a manifestação transformou uma atitude
de violência em um momento de amor. Foi a primeira vez que o menino desceu à
quadra depois da agressão. "Eu me sinto aliviada porque foi uma semana
muito difícil para mim e para o meu sobrinho. Queremos deixar esse fato para
trás para que as autoridades façam seu trabalho. O mais importante é ver o meu
sobrinho acolhido. A comunidade da quadra mostrou hoje que o problema não era
ele”.
Incentivadas pelos pais, crianças de várias idades brincavam na quadra
antes do início do protesto. Vestidos de branco, os adultos penduraram
cartolinas e cartazes, alguns deles desenhados pelas próprias crianças, com
dizeres como "aqui os grandes respeitam os pequenos", “paz”, “amor” e
“gentileza” nos alambrados. Os presentes organizaram um abraço coletivo no
centro da quadra em que a agressão ocorreu. Balões brancos foram soltos.
Moradora do condomínio há quatro anos, a enfermeira Renata Marques, 40,
diz que a intenção do ato é mostrar às crianças que o ambiente continua aberto
para elas. "Quando a gente mora em um condomínio assim, busca
tranquilidade e ter uma família com os vizinhos. Então, nosso ato é para
mostrar para as nossas crianças que tudo continua igual. Passar a mensagem de
que o importante é a união".
A moradora Luana Gonçalves, 37 anos, acredita que a manifestação
representa um recomeço para a comunidade. "A ideia é resgatar o que nos
foi tirado: paz, segurança, respeito. Todos nós fomos afetados", acredita.
"Não é daquela maneira que se educa ninguém."
Câmeras
As agressões aconteceram na tarde do último dia 9, quando crianças
jogavam bola na quadra esportiva localizada no meio do condomínio. Imagens das
câmeras de segurança mostram que o filho do casal tropeçou sozinho, caiu e
bateu de boca no chão, enquanto brincava com o menino agredido. O garoto saiu
da quadra e voltou, minutos depois, acompanhado pelo pai.
Nervoso, o homem segura a vítima e manda que o filho bata no rosto do
colega. Logo depois, a mãe, também alterada, chega ao local e empurra o menino
agredido, que cai no chão. As outras crianças que estavam na quadra ficaram
acuadas e foram para perto dos alambrados. É possível ver algumas delas
chorando nas imagens.
O casal de agressores não mora no condomínio. Eles passavam o dia na
casa de parentes e desceram, depois de ver o filho com os ferimentos na boca.
Eles acreditavam que a criança havia sido agredida pelo colega. Por meio de
nota, o advogado do casal afirmou que os clientes estão arrependidos.
O menino que sofreu a agressão não vive no condomínio. Morador de Feira
de Santana (BA), ele passava férias com a irmã de 8 anos na casa da tia Jucinea
das Mercês Nascimento. A menina e o filho mais novo de Jucinea, de 9 anos,
presenciaram o incidente. O garoto e a irmã devem voltar hoje à Bahia.
Uma assembleia será realizada na próxima quarta-feira para decidir quais
medidas legais o condomínio tomará em relação aos agressores. Na semana
passada, em reunião emergencial, foi levantada a ideia de uma ação de danos
morais, por causa do abalo psicológico sofrido pelas crianças da comunidade.
Outro ponto que será analisado é o da suspensão da entrada do casal no
condomínio para a proteção das crianças e dos adolescentes. “Tudo será decidido
na assembleia de quarta, que é soberana”, disse o síndico da quadra, Mauro
Assunção de Camargo.
O homem e a mulher, na esfera criminal, devem ser indiciados por lesão
corporal, ameaça e possível constrangimento contra o próprio filho. A Polícia
Civil deve concluir o inquérito ainda nesta semana.
"Eu me sinto aliviada porque foi uma semana muito difícil para mim e para o meu sobrinho. Queremos deixar esse fato para trás para que as autoridades façam seu trabalho” - (Jucinea Nascimento, tia da criança agredida)
"Eu me sinto aliviada porque foi uma semana muito difícil para mim e para o meu sobrinho. Queremos deixar esse fato para trás para que as autoridades façam seu trabalho” - (Jucinea Nascimento, tia da criança agredida)
(*) Alexandre de Paula - Foto: Arthur Menescal/CB/D.A.Press - Correio Braziliense