Ibaneis abre fogo contra presídio federal: “É totalmente inapropriado”
- O GDF trabalha para assumir a gestão da penitenciária a fim de
retirar os presos federais e usar o complexo para detentos do DF
Em almoço com o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), nesta terça-feira
(19/2), o governador Ibaneis Rocha (MDB) foi questionado por
empresários sobre a questão da segurança no Distrito Federal. O
emedebista aproveitou o momento para dizer que é radicalmente contra o
presídio federal instalado no DF, que recebeu recentemente quatro
líderes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC).
“Brasília não deveria ter presídio federal de modo algum”, cravou o
governador. Segundo Ibaneis, o foco da capital é a segurança dos Poderes e não
cuidar de presos de grandes grupos criminosos.
O governador afirmou ter relatado o descontentamento diretamente ao
ministro da Justiça, Sérgio Moro. “O local é totalmente inapropriado. Na semana
passada, ele me ligou quando ia trazer aqueles criminosos para cá. E eu
falei: ‘Olha ministro, você não conte com meu apoio’. A responsabilidade do
presídio federal é de vocês”, revelou Ibaneis.
O GDF trabalha para assumir a gestão do presídio. O
objetivo é retirar os presos federais a fim de usar o
complexo para transferir os detentos de alta periculosidade do
DF.
Para o presídio federal, construído no Complexo Penitenciário
da Papuda, foram transferidos: Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior,
conhecido como Marcolinha, irmão de Marcola, o chefe máximo do PCC; Antônio
José Müller Júnior, o Granada; e Reinaldo Teixeira dos Santos, apelidado de
Funchal, ou Tio Sam. O trio estava encarcerado em uma cadeia federal na
cidade de Porto Velho, em Rondônia.
O remanejamento ocorreu após a Polícia Civil e o
Ministério Público de São Paulo constatarem, por meio da Operação Echelon, em junho do ano passado, a expansão
do PCC pelo Brasil e América do Sul. Desde novembro, já havia
previsão de transferência do trio para unidades federais, após a
descoberta de um plano de resgate de Marcola e de mais integrantes da facção do
Presídio de Presidente Venceslau.
Celas individuais
O Presídio Federal de Brasília foi inaugurado em outubro de
2018. Os três líderes do PCC foram colocados na única ala que foi
inaugurada. Ela conta com 50 celas individuais erguidas em uma estrutura de
concreto armado e monitorada 24 horas por dia.
Na unidade prisional, que fica no Complexo Penitenciário da Papuda, há
circuito de câmeras com transmissões em tempo real, além de sensores de
movimento e alarmes. Segundo o Departamento Penitenciário Federal (Depen), o
sistema conta com equipamentos capazes de identificar drogas e explosivos nas
roupas dos visitantes, detectores de metais e sensores de presença, entre
outras tecnologias.
Cada preso fica em um espaço de 6 m² e tem direito a duas horas de
banho de sol por dia. Advogados e amigos podem visitar os detentos no
parlatório, enquanto os familiares tem acesso ao pátio. Será proibido o acesso
a televisores, rádios e qualquer outro tipo de comunicação externa.
Os presídios federais cumprem determinações da Lei de Execução Penal
(LEP) e começaram a ser construídos em 2006. As unidades recebem detentos,
condenados ou provisórios, de alta periculosidade. O isolamento individual é
destinado a líderes de organizações criminosas, presos com histórico de crimes
violentos, responsáveis por fugas e rebeliões, réus colaboradores e delatores
premiados.
Pressão
O encarceramento dos membros da cúpula da facção provocou
uma série de ações estratégicas de criminosos na capital da República
e gerou preocupação nos órgãos de Segurança Pública. De acordo com
investigações da Polícia Civil (PCDF), células que alimentam a estrutura da
organização já escolheram pelo menos duas regiões administrativas para se
enraizar no Distrito Federal: Paranoá e São Sebastião. As duas
localidades ficam próximo ao presídio.
Além da proximidade, as cidades são consideradas ideais por
terem vias expressas de entrada e saída rumo aos municípios do
Entorno. Órgãos de inteligência locais e federais intensificaram a troca
de informações para tentar antecipar e neutralizar as ações do PCC. As
apurações apontam que as regiões onde criminosos da
facção cumprem pena costumam receber parentes, comparsas e
advogados ligados ao grupo. Muitos fixam residência nessas áreas.
Os investigadores monitoram constantemente as atividades de
suspeitos que se associaram ao grupo criminoso. Criada há um ano, a Divisão de
Repressão às Facções Criminosas (Difac) da PCDF intensificou o combate
à consolidação das células criminosas na cidade.
Francisco Dutra – Fotos: Valter Campanato – Agência Brasília – Rafaela
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