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Em Brasília, todo mundo...(Nos ensina a Codeplan que, no DF, mais de 57% da população declara ter cor preta ou parda...Saiba mais.)


Em Brasília, todo mundo...

*Por Humberto Rezende 

Um dos melhores professores que tive na faculdade foi Lunde Braghini. Observador atento da realidade e, provavelmente por isso, extremamente crítico, ensinava muito sobre o bom jornalismo descrevendo os absurdos do mau jornalismo. Dava angústia assistir às suas aulas, é verdade. Em alguns momentos, parecia não haver esperanças para quem sonhava em exercer essa profissão com precisão é ética. Mas, passados os anos, até hoje, vira e mexe me pego lembrando de algum (mau-) exemplo dado por Lunde e tento não repeti-lo.

Lembro de Lunde hoje porque ele sempre foi um dos maiores críticos às ideias, incansavelmente repetidas por aí, de que Brasília é muito pequena, ou de que em Brasília todo mundo se conhece ou de que há um certo “padrão brasiliense”. Eu nunca presenciei, mas pessoas próximas me contaram que Lunde nunca deixava passar batida uma afirmação desse tipo. “Ah é? Brasília é pequena e todo mundo se conhece? Quem de Santa Maria você conhece?”, disparava ao interlocutor, geralmente algum morador do Plano Piloto.

Lunde tinha razão, eu pensava, esta semana, enquanto lia os dados da Pdad, ou Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios, espécie de radiografia de Brasília feita a cada dois anos pela Codeplan. Longe de ser pequeno — são cerca de 3 milhões  de pessoas —, esse quadrado que habitamos é muito mais diverso que a monotonia vista no interior de nossas bolhas ilusórias.

Um exemplo é a etnia dos brasilienses. Nos ensina a Codeplan que, no DF, mais de 57% da população declara ter cor preta ou parda. Para um morador da Asa Norte ou do Lago Sul, pode parecer um índice exagerado. Não é. A impressão pode vir do fato de que, nas regiões administrativas de alta renda, 65% são brancos. Mas basta sairmos das áreas mais próximas do Plano e chegar ao Paranoá ou ao Recanto das Emas para termos uma inversão. Nesses locais, 69% das pessoas são negras.

As diferenças continuam, à medida  que lemos a pesquisa. Mais de 63% da população de Brasília, por exemplo, não têm plano de saúde, mas, entre os mais ricos, 79% possuem. Quando consideramos todos os jovens de 4 a 24 anos, temos um índice de 49,1% que frequentam a escola pública e de 27,4% que não estudam. Já nas chamadas áreas nobres, quase 80% estudam, e em escola particular.

Agora, tente me responder o que é mais comum em uma casa brasiliense: um casal sem filhos, uma mãe criando os filhos sozinha ou um casal criando um só filho? Se você está me acompanhando com atenção, sabe que a resposta é: depende. Nas regiões de renda mais alta, a configuração mais frequente é a de um casal sem filhos, situação encontrada em 23% dos lares. Já nas regiões de média-alta renda, como Taguatinga, Cruzeiro ou Águas Claras, e nas mais pobres, será mais fácil encontrar mães solo, que ocupam entre 18% e 22% dos lares. E em Brazlândia, Ceilândia ou Samambaia, o mais comum serão casais com um filho (quase 20%).

O Pdad está lá no site da Codeplan (https://goo.gl/rgxFdo) para ser acessado por todos nós. Recomendo a leitura, tanto para os brasilienses que querem conhecer melhor a capital quanto para aqueles que podem um dia topar com o professor Lunde e, desavisados, iniciar uma frase com “Em Brasília, todo mundo...”.

(*) Humberto Rezende  - Foto: José Cruz/Agência Brasil - (Estádio Nacional Mané Garrincha, Bloco Babydoll de Nylon Carnaval ) lustração: Blog – Google - Correio Braziliense


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