Ibaneis de olho na direção do MDB. Com
a crise no partido e discursos de abrangência nacional, o governador do
Distrito Federal busca protagonismo para comandar a executiva da sigla. Para
isso, porém, será preciso mudar o estatuto. O
chefe do Buriti é um dos organizadores do Fórum de Governadores
Em meio à perda de importância de caciques do MDB nacional, o governador do DF, Ibaneis Rocha, ganha forças para galgar posições mais relevantes na direção da sigla. Com declarações que repercutiram nacionalmente nas últimas semanas e cenário de incertezas na legenda, o chefe do Executivo local é cotado para assumir a Presidência nacional do MDB e comandar a renovação do partido, desgastado com políticos envolvidos em escândalos de corrupção e prisões.
Atualmente, o MDB é comandado pelo ex-senador Romero Jucá, que tem
mandato até setembro de 2019. Derrotado nas eleições do ano passado, o
emedebista pode deixar o cargo antes e ceder espaço para a renovação. Jucá
assumiu a sigla em 2016 no lugar do ex-presidente da República Michel Temer,
preso pela Operação Lava-Jato na última semana.
O desgaste com a prisão de nomes como o ex-deputado Eduardo Cunha e a
rejeição ao governo Temer se refletiram nas urnas em 2018, quando o MDB perdeu
força. O partido tinha sete governadores até então. Hoje, são três. A sigla
ficou, ainda, sem a presidência do Senado, disputada por Renan Calheiros. Com
os caciques fora dos holofotes, nomes novos como o de Ibaneis e dos líderes da
sigla no Congresso — o deputado federal por São Paulo Baleia Rossi e a senadora
por Mato Grosso do Sul Simone Tebet — ganharam protagonismo.
Ibaneis nunca escondeu a possibilidade de assumir a direção nacional da
legenda nem o desejo de participar com destaque da política nacional. “Se
houver um consenso e for esse realmente o rumo, eu vou assumir mais esse papel
para renovar uma sigla a qual me filiei e acredito que pode e deve ser
renovada”, disse, em fevereiro deste ano.
Na semana passada, às vésperas da prisão do ex-presidente Michel Temer,
o governador fez duras críticas à situação da sigla em reunião interna da
legenda e defendeu a necessidade de renovação. “Não me sinto na condição de
estar no mesmo partido em que está Eduardo Cunha”, afirmou Ibaneis. “Ou vocês
querem um partido novo, ou vocês não me querem no partido. Acho que o MDB tem
de enfrentar suas feridas, porque, se não, vamos definhar”, alertou.
Dias depois, o governador fez outra declaração com grande repercussão,
desta vez em relação à transferência de Marcola, líder do PCC, para a
Penitenciária Federal de Brasília. O emedebista criticou o Ministro da Justiça,
Sérgio Moro, pela decisão. “Moro não conhece nada de segurança”, disse. A
afirmação colocou o governador novamente nos holofotes nacionais.
Articulação
A articulação de Ibaneis para conseguir destaque nacional começou antes
mesmo da posse, destaca o cientista político da Universidade Católica de
Brasília (UCB) Creomar de Souza. “Ele e o governador de São Paulo, João Doria
(PSDB), foram os que melhor souberam aproveitar bons quadros do governo Temer,
tanto tecnicamente quanto em influência política. Ibaneis demonstrou desde o
início uma percepção muito apurada desse espaço que estava aberto”, comenta.
Ao lado de Doria e do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC),
Ibaneis organiza, desde a transição, o Fórum de Governadores para discutir
temáticas relativas aos estados. Ontem, em reunião extraordinária do evento,
eles se reuniram com o ministro da Economia, Paulo Guedes, no Palácio do
Buriti.
Para o especialista, o número reduzido de parlamentares e lideranças
políticas do DF é um ponto que pode atrapalhar Ibaneis na caminhada nacional.
Um empecilho para chegar à Presidência do MDB é o próprio estatuto da sigla,
que veda membros do Executivo em cargos de chefia. Isso, no entanto, pode ser
mudado pela convenção partidária e há um movimento dentro da legenda para a
alteração.
Fazer um bom governo à frente do DF é fundamental, explica Creomar, para
que Ibaneis se perpetue na política e busque cargos mais altos. “Se ele tiver
pretensões, por exemplo, para estar em uma chapa majoritária para a Presidência
nas próximas eleições ou mesmo para se reeleger, vai ter de mostrar uma agenda
positiva e políticas públicas que melhorem a vida do cidadão”, avalia. “Essa
ambição nacional é dependente dos avanços no GDF”, completa.
"Ele (Ibaneis) e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB),
foram os que melhor souberam aproveitar bons quadros do governo Temer, tanto
tecnicamente quanto em influência política” .(Creomar de Souza, cientista
político da UCB)
Alexandre de Paula – Foto: Ed
Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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