Estrada Parque Taguatinga: governo inverteu o fluxo das faixas
exclusivas para ônibus, nos horários de pico, para melhorar o fluxo
Trânsito parado nas estradas - EPTG, EPNB e Epia
são três das vias com maior incidência de congestionamentos no DF, onde metade
da população usa carro apara chegar ao trabalho. Elas ligam as cidades ao
Plano, onde 41,2% dos trabalhadores brasilienses exercem alguma atividade
*Por Ana Viriato
Com transporte público ineficiente e uma das maiores frotas de carros do
país, o Distrito Federal convive com congestionamentos diários. Dados da
Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) de 2018, divulgada na
última semana, indicam que 47,4% da população usa o automóvel para chegar ao
trabalho — no estudo anterior, relativo ao biênio 2015-2016, o percentual era
de 41,42%. O número de pessoas que recorrem aos ônibus para realizar o
deslocamento permaneceu estável: 38%. O trajeto por meio do metrô, única opção
sobre trilhos na capital, manteve-se baixo, na faixa dos 3,6%.
Devido ao número de carros nas ruas, em horários de
pico, as principais vias de ligação entre as cidades satélites e o Plano
Piloto, onde 41,2% dos brasilienses trabalham, ficam abarrotadas. As zonas mais
críticas, onde há registro dos maiores engarrafamentos, são: Estrada Parque
Taguatinga (EPTG), Estrutural, Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB),
Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), BR-040 e BR-020, localizada na
subida do Colorado.
O vendedor Nilton Araújo, 22 anos, enfrenta o
tormento diário nas vias da capital. Ele mora próximo à DF-150 e recorre à
BR-020 para chegar ao trabalho, na Asa Norte, de segunda-feira a sábado. “Faço
o revezamento entre carro e ônibus todas as semanas. Não gosto muito do
transporte público, porque não há limite de capacidade máxima, e acabo indo
esmagado. Mas, por conta do preço da gasolina, usar apenas o meu automóvel sai
muito caro”, conta.
Quando opta pelo ônibus, Nilton perde cerca de duas
horas e quarenta minutos nas vias, somadas ida e volta; nos dias em que tira o
carro da garagem, o tempo diminui em até uma hora. “Se vou no meu automóvel,
saio de casa por volta das 6h, bem antes do que precisaria caso não houvesse
trânsito, para evitar o engarrafamento e começar o expediente às 8h. Mas é um
tempo que eu poderia usar para outras coisas”, comenta.
As dificuldades crescem para quem trabalha em
locais com poucas linhas de ônibus, como Levi Moraes, 29. Morador de Sobradinho
I, ele presta serviços no almoxarifado de uma empresa localizada no SAAN. “Além
de os ônibus estarem em péssimas condições e serem superlotados, há poucas
opções. Conheço apenas uma linha que vai da minha cidade para o setor SIA-SAAN
e o tempo de espera é muito grande”, observa.
Por dia, o almoxarife fica na estrada por cerca de
três horas. A condução, diz Levi, pesa no bolso e empobrece a qualidade de
vida. “Saio de casa às 6h30 para chegar às 8h no trabalho. Ou seja, acordo
correndo e acabo ficando estressado desde cedo. Depois de um dia cansativo,
demoro mais uma hora e meia para chegar em casa. Isso, além de me desestimular,
aumenta meus gastos. Quando ficamos parados em engarrafamentos, o consumo de
gasolina aumenta em cerca de 30%”, emendou.
Soluções
Para resolver o trânsito brasiliense, estudiosos
são categóricos: é necessário ampliar a oferta do transporte público e
melhorá-lo. Intervenções na infraestrutura das vias, como a implementação de
faixas reversas e a criação de viadutos, são bem-vindas para amenizar impasses
diários, mas não resolvem o problema de forma definitiva.
A fim de desafogar o trânsito na EPTG, principal
via de ligação entre as duas cidades mais populosas do DF — Ceilândia,
Samambaia e Taguatinga — e o Plano Piloto, o governo inverteu o fluxo das
faixas exclusivas para ônibus na última segunda-feira. A alteração ocorre nos
horários de pico dos dias úteis — das 6h às 9h e das 17h30 às 19h45. Para
ampliar o atendimento do metrô, que recebe 170 mil pessoas por dia, o GDF
antecipou em meia hora a abertura das estações, as quais passam a funcionar, a
partir de hoje, das 5h30 às 23h30 entre segunda e sexta-feira.
Além dessas medidas e da conclusão do Trevo de
Triagem Norte (TTN), prevista para julho, a Secretaria de Mobilidade não tem
planos para melhorar, de pronto, as condições do trânsito nas ruas de Brasília.
A médio e longo prazos, a perspectiva é de tirar do papel os estudos e as
sugestões de gestões anteriores. Na lista de projetos, está a renovação da
frota de ônibus, a construção de um túnel no centro de Taguatinga e a
implementação da Via TransBrasília e da Saída Norte.
Secretário de Mobilidade, Valter Casimiro
acrescentou que o governo deve lançar, ainda neste ano, a carta consulta do BRT
Sudoeste — documento que descreve ações e custos previstos na execução do
projeto e as contrapartidas oferecidas pelo Estado. O Expresso sairia do
Recanto das Emas, passando pelos Riachos Fundos I e II, e se encontraria com o
Eixo Sul. “Estamos finalizando o projeto. As obras, inicialmente orçadas em R$
700 milhões, começariam em 2021. Quando a documentação estiver pronta, vamos
buscar a captação de recursos junto a bancos internacionais”, detalhou.
Para o perímetro entre a BR-020 e a Epia Norte, o
plano é implementar o BRT Norte, que deve custar R$ 1 bilhão. “Além disso, pedi
um estudo sobre o valor da criação de faixas exclusivas na BR. É uma obra
simples, que exige, basicamente, o nivelamento do acostamento”, complementou
Casimiro.
Trilhos
O GDF também planeja aumentar a oferta de
transporte público sobre trilhos. Para isso, conta com um plano de
desenvolvimento inédito, divulgado no último ano. O estudo prevê investimentos
de R$ 13 bilhões em 20 anos. Caso seja executado, Brasília passará a ter 128km
de trilhos, sendo 113 de VLT e 15km de metrô, além de 113 estações. A
concretização do planejamento deve começar pela instauração do VLT nas vias W3
Norte e Sul. “Realizamos o chamamento público e nove empresas demonstraram
interesse. Devemos anunciar quais estão qualificadas até o fim do mês”, pontuou
Casimiro.
Em relação ao metrô, a expansão mais célere deve
ocorrer em Samambaia: o edital de licitação para a construção de duas novas
estações será publicado ainda neste mês. Além disso, a Companhia do
Metropolitano (Metrô-DF) concluiu o projeto básico para a construção de uma
estação nas proximidades da Galeria do Trabalhador e começou a fazer estudos
para levar os trilhos até o fim da Asa Norte. Para mais duas estações em
Ceilândia, o Metrô-DF trabalha no adequamento do projeto básico antes de lançar
a licitação.
O secretário de Mobilidade acrescentou que
requisitou estudos para checar a viabilidade de retomar o projeto da
implementação da terceira linha do metrô. “Serão avaliados demanda e custo. Os
17km de trilhos partiriam de uma estação na altura do Balão do Periquito, na
confluência de Gama, Recanto das Emas e Riacho Fundo”, concluiu. Nos últimos
cinco anos, o GDF investiu R$ 578,1 milhões no transporte público. A Secretaria
de Mobilidade não informou qual é a perspectiva para 2019, tampouco indicou as
obras prioritárias neste ano
Frota de carros do DF 1.773.286 - Número
de usuários diários do metrô 170 mil - Quantidade de pessoas que usam
os ônibus da capital diariamente 600 mil - Valor investido pelo GDF
em transporte público nos últimos cinco anos R$ 578,1 milhões
(*) Ana Viriato - Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press -
Correio Braziliense
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