A servidora pública Rosana Baioco, 52 anos, torce
pela criação de mais estações do serviço -
O
engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, mora na Asa Norte e usa as bikes para ir ao
trabalho, no Setor Comercial Norte: É uma necessidade e um lazer
*Por Jéssica Eufrásio
Mobilidade Urbana » Transporte compartilhado
- Apesar de restritas ao Plano Piloto e a Águas Claras, as
bicicletas de uso coletivo são cada vez mais adotadas pelos brasilienses. Com
uma taxa de R$ 10 por ano em alguns casos, os usuários podem circular pela
cidade. Governo e empresas têm planos de expansão
Mesmo com mais de 460 km de ciclovias, o Distrito Federal tem caminhado a passos lentos na oferta de meios de transporte alternativos. No segmento de bicicletas compartilhadas, duas empresas atuam na capital do país. Uma delas oferece, ainda, patinetes elétricos. No entanto, as áreas abrangidas ainda se restringem a duas das 31 regiões administrativas: Plano Piloto e Águas Claras.
A primeira empresa surgiu em 2014. Trata-se do
serviço +Bike, do grupo Serttel, operado por meio de parceria com o Governo do
Distrito Federal (GDF). A iniciativa existe até hoje e permite aos usuários
retirarem bicicletas de estações espalhadas pelo centro da cidade. Com a compra
de um passe diário, mensal ou anual, é possível pedalar com as “verdinhas”
pelas ruas do Plano Piloto pagando um valor que chega a até R$ 10 por ano. A
tarifa aumenta apenas no caso de o usuário ultrapassar o limite de 1 hora de
uso. Com isso, paga-se R$ 5 a mais para cada 60 minutos extras. A estimativa da
Serttel é de que os 200 mil usuários inscritos realizaram mais de 1,2 milhão de
viagens.
No fim de janeiro, surgiu mais uma alternativa para
os usuários: a Yellow. A empresa brasileira trabalha com soluções de mobilidade
urbana e individual e levou novidades aos usuários: patinetes elétricos e
operação fora do centro de Brasília. Além disso, diferentemente do Bike, os
itens da companhia não ficam dispostos em estações fixas, mas espalhados pelas
ruas. O modelo é conhecido como dockless (“sem cais”, em tradução livre). O
serviço começou com 350 bikes e 50 patinetes. Para reconhecê-las, basta dar uma
olhada por equipamentos de cor amarela, como o próprio nome sugere.
Usuário do serviço do GDF desde o início e, agora,
cadastrado junto à Yellow, o engenheiro Davi Bertucci, 40 anos, aproveita as
opções como forma de ir de casa para o trabalho e vice-versa. Morador da Asa
Norte e funcionário de uma empresa no Setor Comercial Norte (SCN), ele
aproveita o meio de transporte não poluente para evitar o trânsito sempre que
possível. “É uma necessidade que tenho e acaba sendo um lazer. Normalmente,
tiro apenas o paletó e a gravata, principalmente de dia. A única dificuldade
que tenho é que a primeira estação do Bike fica a quase duas quadras de
distância. Isso não é ruim, mas acaba sendo um pouco difícil”, comentou.
Em relação aos pontos de disponibilidade da Yellow,
ele tem a mesma sensação, pois, geralmente, precisa andar um pedaço até
alcançar as bikes. “O que vejo de problema na Yellow é a mancha da área de
atendimento deles. Mas isso é algo muito individual. Minha dificuldade é apenas
nesse primeiro momento. Tive poucos problemas com falta de equipamentos nas
estações, apenas nas mais longes do centro”, disse Davi.
Ele ressaltou alguns outros problemas geralmente
enfrentados pelos ciclistas: as magrelas depredadas. “Vez ou outra, há uma bike
com pneu murcho, corrente solta ou sem retrovisores. Mas nunca peguei uma com
problema.” Mesmo assim, Davi ressaltou a comodidade do serviço. “Meu trabalho
não tem bicicletário. Eu teria de botar em um poste e torcer para não acontecer
nada. O sistema foi disponibilizado para viabilizar a questão da mobilidade e
termos menos carros nas ruas. É muito válido”, elogiou o engenheiro.
Tarifas
Um dos principais alvos de reclamações também são
as ciclovias. No Plano Piloto, os ciclistas contam com 111,29 km disponíveis.
Em Águas Claras, são 7,23 km. Apesar de muitas serem novas, no Plano Piloto,
principalmente, não há interconexão dos trajetos entre quadras e problemas nas
ligações entre as asas Norte e Sul. A relação com os carros também é
complicada. Quando não há ciclovias, quem pedala precisa dividir espaço nas
vias com veículos que, muitas vezes, não respeitam o espaço de 1,5 metro de
distância. Também pode haver dificuldades nos cruzamentos pintados em vermelho
no asfalto para a travessia de ciclistas.
Servidora pública, Rosana Baioco, 52 anos, usufrui
das bicicletas compartilhadas. Ela reconhece o benefício do sistema, mas sente
falta de atendimento a mais áreas. “Na frente do local onde trabalho, há uma
estação do Bike. Elas têm uma usabilidade legal, principalmente para mulheres,
por terem o quadro baixo. Se a pessoa está de saia ou vestido, fica mais fácil
para subir ou descer. Já usei muito na Asa Norte, mas, na minha região,
por exemplo, não tem nenhuma das duas opções”, lamentou a moradora da
Octogonal.
Rosana também observou alguns problemas com
equipamentos. Mesmo assim, ela não considera que isso seja comum. “As
bicicletas têm problemas normais. Pneus murchos e, às vezes, sem retrovisor ou
selim. As da Yellow são novas, mas vi casos de bikes tortas ou que tiveram os
punhos ou selins furtados. Sem isso, ela não serve para nada”, pontuou. Em
relação às do Bike, ela considera que o peso pode atrapalhar para algumas
pessoas. Quanto às da Yellow, Rosana sente falta das marchas. “Isso pode
dificultar para quem estiver em uma subida, por exemplo. E, pelo preço, as
verdinhas (do Bike) são melhores. A depender do caso, as amarelas podem sair
pelo valor de uma passagem de ônibus”, comparou.
Ampliação e melhorias
Focado na
sustentabilidade, na saúde, no meio ambiente e na responsabilidade social, o
serviço da Serttel veio para o Distrito Federal em 2014, viabilizado por meio
de uma parceria com o governo local e patrocinado por um banco particular.
Hoje, a parceria ainda existe, mas os patrocinadores mudaram.
Há 48 pontos de retirada das bikes espalhados por
Brasília, com 480 equipamentos à disposição dos usuários. Em junho de 2018,
duas estações foram implantadas. Cada uma delas oferece 10 bicicletas para
crianças. O processo de cadastramento é o mesmo para as bikes de adultos. As
estações são alimentadas por energia solar e monitoradas em tempo real. A
Serttel não deu números referentes a casos de vandalismo, mas informou que eles
estão dentro da normalidade. Os itens mais danificados, segundo a empresa, são
espelhos retrovisores e selins.
Em relação às ciclovias, o secretário de Transporte
e Mobilidade, Valter Casimiro, afirmou que há projetos prontos do Executivo
para a construção de 100 km de estruturas para ciclistas. “Precisamos preparar
esses editais e daremos prioridade para a integração das existentes.
Posteriormente, aumentaremos a quantidade para levá-las a outros lugares, mas
nossos focos são a ampliação e a interligação”, destacou.
Sobre os projetos de ciclovias com pontos de apoio
aos ciclistas, previstos em projetos anteriores do GDF, Casimiro informou que o
assunto não chegou a ser discutido com a equipe técnica. “Conversamos com
algumas operadoras a respeito da ampliação para outras regiões administrativas
e da instalação de pontos nas estações do metrô e do BRT. A ideia é que
usuários levem as bicicletas para casa e devolvam no dia seguinte, nas estações
do metrô, por exemplo. Também discutimos a inclusão de patinetes e carros
elétricos aqui em Brasília e pedimos à Serttel para que entreguem uma proposta
de projeto. Não há prazos ainda, mas está em discussão”, pontuou o secretário.
A Serttel, por sua vez, informou que ainda não há previsão para ampliação do
serviço +Bike.
Revolução
A Yellow surgiu em São Paulo, inspirada por um
sistema que já existia na China. O gerente de relações públicas da empresa,
Marcel Bely, explicou que, por questões estratégicas e de mercado, não divulga
a quantidade de equipamentos existentes no DF. A previsão é de que, ao longo
das duas próximas semanas, a frota de patinetes seja ampliada. “Estamos muito
satisfeitos com o número de corridas. Até agora, temos tido bem menos casos de
incidentes e vandalismo que em outras cidades”, afirmou.
Ainda segundo o Marcel, uma equipe da companhia
atua em Brasília para garantir a manutenção de itens que apresentem problemas e
a recarga dos patinetes durante a madrugada. “Os Guardiões Yellow circulam
todos os dias mapeando bicicletas, patinetes, fazendo manutenção e monitorando.
Além disso, toda a nossa frota, seja de bicicleta ou de patinete, conta
com GPS para fazer com que nossos equipamentos fiquem em bom estado. Eles foram
desenvolvidos com peças exclusivas e possuem alarme”, disse o gerente. “Nosso
principal objetivo é revolucionar o transporte por meio da disponibilização de
alternativas.”
Números - Bike Brasília » 480 bicicletas
adultas » 48 estações de bicicletas adultas » 200 mil usuários
cadastrados » Mais de 1,2 milhão de viagens realizadas - Bike Kids » 20 bicicletas infantis » 2
estações de bicicletas infantis » Não há número preciso de usuários
cadastrados » Mais de 1,6 mil viagens realizadas
Como funciona - Confira como pedalar pelas ruas
do Distrito Federal por meio dos aplicativos Bike e Yellow: Bike Brasília - Para usar os serviços, basta baixar o
aplicativo Bike no celular ou acessar o site (https://goo.gl/TTiKLw) para efetuar o cadastro e escolher o tipo de passe. Há três opções para adultos
ou crianças: diário (R$ 3), mensal (R$ 6) ou anual (R$ 10); Yellow - Baixe o aplicativo Yellow em seu celular,
cadastre uma conta do e-mail do Google, preencha os dados solicitados e siga as
instruções na tela. Pedale 15 minutos pela cidade por R$ 1,50 por período de
uso ou destrave um patinete por R$ 3,50 R$ 0,50 por minuto de utilização. Tanto
as bicicletas quanto os patinetes elétricos devem ser deixados dentro da área
de cobertura da Yellow.
(*) Jéssica Eufrásio – Foto: Arthur Menescal/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense