Chuva, alagamento e destruição na UnB. Acompanhada de rajadas de vento, chuva forte causou estragos e apagões em vários pontos do DF, principalmente no Plano Piloto. O Minhocão, na Universidade de Brasília, ficou debaixo d'água. Em 21 dias de abril, choveu 119,55% acima do esperado para todo o mês
*Por Ailim Cabral- Gabriela Sales
Pistas e estações do metrô alagadas, carros danificados, tesourinhas submersas, árvores caídas, quadras inteiras sem energia elétrica. A chuva forte, acompanhada de uma ventania, causou transtornos em vários pontos do Distrito Federal no fim da tarde de ontem. Um dos pontos mais atingidos pelo volume de água foi o Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) (leia abaixo).
O dia do aniversário de Brasília, que começou com uma manhã ensolarada, teve o tempo alterado por volta das 15h30, quando nuvens cobriram a capital. O temporal teve início às 16h e só deu uma trégua após as 17h. Moradores receberam, por meio de mensagens de texto nos celulares, um alerta de vendaval da Defesa Civil, que alertou para riscos de raios e ventos fortes, às 17h30, quase duas horas após o início da chuva.
Só na tarde de ontem, choveu 26 milímetros no Distrito Federal. Com a quantidade, abril acumulou 292mm nos 21 primeiros dias, 119,55% acima do esperado para todo o mês, que tem média histórica de 133,4mm. As informações são do meteorologista Manoel Rangel, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os ventos chegaram a 33,4km/h, categoria classificada como “vento de rajada”.
O meteorologista acrescentou que 2019 é considerado “um bom ano em chuvas”. Em março, o volume de precipitações também superou o esperado (211,8mm), chegando a 265,8mm. Estão previstas pancadas de chuva até quarta-feira. Ontem, o Inmet registrou 95% de umidade relativa do ar e temperaturas entre 17,8ºC e 29ºC. Hoje, a temperatura mínima será de 17ºC, e a máxima, de 30ºC. A umidade relativa do ar varia entre 95% e 40%.
Vias bloqueadas
A Asa Norte foi uma das regiões mais afetadas. Uma árvore caída bloqueou o trânsito na tesourinha entre a 208 e a 408 Norte. Outras três caíram na 411/412 Norte. Duas delas, entre os blocos N e O da 411 Norte, e uma às margens da L2 Norte, em frente ao bloco Q. Houve queda de árvore também na via W5, entre as quadras 704/705. Uma delas caiu na pista e outra em cima do muro de uma casa, mas ninguém se feriu. No Bloco A da SQN 110, um janelão de vidro despencou do 6º andar, mas também não houve vítimas.
Ainda na Asa Norte, as quadras 102/103 ficaram com os estacionamentos dos blocos A, B, E, F e H alagados. O volume de água obrigou motoristas a retirarem os veículos dos estacionamentos. O trânsito entre as quadras foi interditado. Houve correria. “A água subiu cerca de 1 metro, a situação foi de pânico total. Uma correria danada para salvar os carros. Toda vez que chove, a enxurrada desce toda para as quadras e fica esse transtorno”, contou a funcionária pública Helena Alves, moradora da 103 Norte.
A dona de casa Carla da Luz Gonçalves não teve a mesma sorte. Ela não conseguiu salvar o veículo. No momento da chuva, ela e a família estavam fora de casa. “Moro na 102 Norte. Não consegui entrar na quadra por causa do trânsito interrompido e o meu carro ficou com o assoalho todo molhado. Meu marido está viajando e nem sei o que fazer”, desabafou.
Agentes da Companhia de Energia de Brasília (CEB) também foram acionados para atendimento em quase metade da Asa Norte. A CEB informou que houve queda de árvores na rede, o que comprometeu o fornecimento de energia elétrica. Ainda de acordo com a companhia, 5.352 imóveis sofreram com o apagão. A expectativa era a de que o serviço fosse restabelecido até o fim da noite.
Enxurrada deixou tesourinha alagada entre a 102 e a 202 Sul: além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da passagem de veículos. Mesmo problema aconteceu na passagem da 209 Norte
Estação fechada
Na Área Central, a enxurrada invadiu a entrada da estação do metrô na Rodoviária do Plano Piloto e tomou o Shopping ID, no início da Asa Norte. A água desceu pelas escadas rolantes do centro comercial formando uma espécie de corredeira. No Setor Bancário Norte, um motorista saiu do carro com água pela metade e sentou no porta-malas para esperar ajuda. A estação metroviária foi reaberta e voltou a funcionar às 19h.
A chuva também atingiu outras regiões de Brasília, como Asa Sul, Lago Sul, Sudoeste, Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Águas Claras e Santa Maria. Todas tiveram picos de energia. Na QI 7 do Lago Sul, a enxurrada invadiu algumas casas. Com pistas alagadas, os motoristas que passavam pela tesourinha da 102/302 Sul não conseguiram seguir caminho. Para conseguir desviar, alguns subiram nos canteiros ou dirigiram pela contramão. Entre a 102 e a 202 Sul, além de inundar o viaduto, a água tomou conta de todo o entorno da tesourinha.
Shows suspensos
Com a Esplanada dos Ministérios no epicentro do temporal, apresentações musicais da festa oficial dos 59 anos de Brasília, marcadas para começar às 16h, tiveram de ser suspensas por duas horas, atrasando a programação.
Livros, móveis e equipamentos eletrônicos ficaram destruídos no Minhocão da Universidade de Brasília (UnB), onde o subsolo ficou submerso
Prejuízos no ICC
O Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB) teve corredores e salas tomadas pelas águas de uma chuva forte. Na tarde de ontem, a enxurrada transformou o térreo do prédio, conhecido como Minhocão, em um rio. O subsolo ficou submerso. As mesmas cenas vistas em 2011.
Ontem, computadores, documentos, cadeiras, sofás, laboratórios e até uma parede da sala dos professores caíram. “O subsolo parecia uma piscina. A água misturada com lama invadiu os laboratórios”, comentou a coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Clarice Menin.
Ela e outros estudantes, assim como professores, foram ao ICC na tentativa de ajudar a salvar alguns dos materiais usados nas aulas de graduação e pós-graduação. A reitora, Márcia Abrahão Moura, e o prefeito do câmpus, Valdeci da Silva Reis, também estiveram no Minhocão.
Márcia não quis dar entrevista, mas Valdeci comentou os danos. “Temos um problema de drenagem que força a água para cá, o que não significa que não estamos tomando as precauções. A gente tem limpado os bueiros e as saídas da água, temos feito o possível”, disse.
O prefeito reforçou que o plano era deixar os espaços em boas condições de uso para que os estudantes pudessem retornar para a instituição hoje: “Fechamos o registro geral para evitar vazamentos e mobilizamos toda a equipe de limpeza para dar uma geral.” A UnB deve fazer um balanço dos estragos neste segunda-feira.
Três árvores caíram na 411 Norte, entre os blocos N e O, às margens da L2
Voos alterados
Durante o temporal, pousos e decolagens foram suspensos no Aeroporto Internacional de Brasília, que operou por instrumentos. Cinco voos sofreram alterações de horário e ficaram atrasados, porém, por volta das 17h, a visibilidade das pistas melhorou e nenhuma operação chegou a ser cancelada.
(*) Ailim Cabral- Gabriela Sales-
Colaboraram Ronayre Nunes e Sarah Peres (especiais para o Correio Braziliense) - Fotos: Hamilton Ferrari; Ronayre Nunes; Isa Stacciarini; Wallace Martins/CB/DA/Press-
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