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INVESTIGAÇÃO » Dois ex-secretários de Saúde são presos


Elias Miziara e Rafael Barbosa: MP apura pagamentos de propinas de R$ 1 milhão para instalações de UPAs

*Por Alexandre de Paula 

Dois ex-secretários de Saúde são presos. Operação investiga propina e irregularidades nos contratos de instalação de UPAs no DF. Esquema desviou R$ 142 milhões, segundo o Ministério Público

Um suposto esquema de irregularidades nos contratos realizados para a instalação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) levou à prisão preventiva de dois ex-secretários de Saúde do Distrito Federal: Elias Miziara e Rafael Barbosa. Eles estiveram à frente da pasta no governo de Agnelo Queiroz (PT). As prisões fizeram parte da Operação Conteiner, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do DF (MPDFT), deflagrada ontem.

O esquema, de acordo com o MPDFT, envolveu aproximadamente 350 agentes públicos e movimentou R$ 142 milhões em contratações suspeitas apenas no DF.  Para firmar os contratos relacionados a UPAs, segundo o MP, houve pagamento de propina de R$ 1 milhão por unidade. Foram cumpridos nove mandados de prisão preventiva e 44 de busca e apreensão.

Além de Miziara e Barbosa, foram presos o ex-secretário-adjunto de gestão da Secretaria de Saúde do DF, Fernando Araújo e o ex-subsecretário de Saúde do DF, José Falcão. De acordo com o MPDFT, há indícios de crimes de organização criminosa, fraude ao caráter competitivo da licitação, corrupção passiva, corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.

As irregularidades teriam sido cometidas nos processos de contratação da Metalúrgica Valença, entre 2009 e 2013, para a entrega de materiais, montagem de UPAs e de estabelecimentos semelhantes. Foram firmados quatro contratos que, segundo o Ministério Público, tinham a intenção apenas de “chancelar negociatas criminosas” entre funcionários públicos e empresários.

Sérgio Cabral
O esquema criminoso era capitaneado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e se estendeu ao DF e a outras unidades da Federação por meio da venda de atas de registro de preços da Secretaria de Saúde do Rio, ainda de acordo com o MPDFT.

A pasta do DF aderiu, por intermédio dos servidores públicos envolvidos no esquema, às atas que, segundo o MP, “estavam viciadas e já eram controladas pelo grupo criminoso de Sérgio Cabral”. Havia sobrepreço nos valores constantes nos documentos.

Segundo a investigação, todo o arranjo feito no Rio de Janeiro foi trazido para o DF para garantir a contratação da Metalúrgica Valença para a montagem de UPAs da capital.  Os ex-agentes de estado presos ontem teriam participado do esquema para viabilizar a contratação da Valença com ares de legalidade. Isso possibilitou, segundo o MP, que por trás dos contratos, fossem cometidas as diversas irregularidades em apuração.

Parte dos desvios foi também apurada no âmbito da Operação Conexão Brasília, em que foram presos Rafael Barbosa e Elias Miziara (leia Memória). “Há ainda vários elementos a serem coletados, evidentemente, para tentar se reconstruir o espectro de atuação grandioso do grupo no âmbito do DF”, diz trecho da decisão que autorizou as prisões preventivas, da juíza Ana Cláudia Loiola de Morais Mendes.

A magistrada justifica o pedido de prisão com os argumentos de que estão “suficientemente demonstrados indícios concretos de autoria e materialidade”. Segundo a juíza, “a liberdade dos investigados põe em efetivo risco a ordem pública”.

“Descabida”
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que “está colaborando com a Operação Conteiner”. A pasta frisa que “a transparência é uma das premissas dessa gestão e todas as informações solicitadas estão sendo repassadas”

O advogado Kleber Lacerda, responsável pela defesa do ex-secretário Rafael Barbosa, alega que a prisão é descabida e critica a atuação do Ministério Público no caso. “Não se entende a razão dessa prisão. É uma ação em que sequer houve violação de direito administrativo, muito menos penal. Causa espanto tudo isso”, afirma.

Representante do ex-secretário Elias Miziara, o advogado Joelson Dias reforça o coro ao criticar os métodos utilizados. “Como se faz uma prisão sem se especificar as razões, as denúncias ao acusado? Não tivemos nenhuma informação prestada nesse sentido ainda”, reclama. “Se for de fato o caso relacionado às UPAs, houve julgamento anterior que considerou a acusação de improbidade improcedente, embora ainda caiba recurso no STJ”, acrescenta.

Dias contesta, ainda, a necessidade de prisão para que o processo corra com normalidade. “Se há alguma suspeita, é natural que a pessoa venha a responder, mas existe necessidade da prisão? Elias Miziara está há anos afastado da vida pública, não há nenhuma acusação de que ele tenha tentado interferir em testemunhas ou em provas. O que justifica?”, questiona. ( A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais acusados.)

Memória - Órteses e próteses
A Operação Conexão Brasília foi deflagrada em 29 de novembro pelo MPDFT. Os ex-secretários de Saúde do DF Rafael Barbosa e Elias Miziara foram presos preventivamente, mas liberados, graças à habeas corpus, dias depois. A investigação mirava os desdobramentos do esquema liderado por Sérgio Cabral — ao lado de outros nomes, como o ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro Sérgio Côrtes. Entre os alvos da operação estava a adesão pela Gerência de Órteses e Próteses e da Coordenação de Ortopedia da Secretaria de Saúde de ata de registro de preços da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro contaminada pelo esquema de corrupção do governo.

(*) Alexandre de Paula – Foto: Adauto Cruz/CB/D.A.Press – Correio Braziliense

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