Por que não aqui em Brasília?
*Por Jane Godoy
Ponte Costa e Silva
Há muitos anos, não só me preocupei com a Ponte das Garças, a feiosinha
de Brasília, como também, com a linda ponte Costa e Silva.
Temos um grande amigo, engenheiro de fundações, que conhece o mundo
inteiro, da França à Nova Zelândia, para se ter uma ideia.
Amante das artes e da arquitetura, em sua forma mais pura e atraente,
muito antes da construção da majestosa Ponte JK, ele sempre dizia: “Conheço
praticamente todas as pontes que existem por esse mundo afora. Saiba que a
Ponte Costa e Silva é uma das mais belas pontes que existem. Sua leveza, a
maneira como toca na água fazendo com que pareça flutuar, devido ao fato de os
pilotis (apenas dois), gigantescos, não serem vistos”.
Passando por ela diariamente, há 40 anos, ou quando estamos no Pier 21 e
podemos observá-la de perfil, sempre me vem à cabeça o comentário do engenheiro
amigo e, mais uma vez, concordo com ele plenamente. É muito linda a nossa Ponte
Costa e Silva! De uma plasticidade incrível e parece mesmo estar apoiada sobre
o espelho d´água.
Obra de Oscar Niemeyer, a ponte tem 400 metros de extensão. Foi
projetada em 1967, tendo sua construção iniciada apenas em 1973. A obra ficou
paralisada e foi retomada somente após três anos.
O projeto era de uma ponte de concreto, mas ganhou estrutura metálica
fabricada em Volta Redonda (RJ). Possui um arco suave que, segundo nota poética
do próprio Niemeyer em seu projeto, “deve apenas pousar na superfície como uma
andorinha tocando a água” sem deixar sua base evidente.
Oscar Niemeyer a chamou Ponte Monumental ao projetá-la. No entanto, ao
ser inaugurada foi rebatizada de Ponte Costa e Silva pelo então presidente
Ernesto Geisel homenageando seu antecessor militar, Arthur da Costa e Silva.
Foi inaugurada em 1976. É uma importante ligação entre o Setor de Clubes
e Embaixadas Sul e o Lago Sul, se apoiando às margens do Pontão.
Chegou a ter o nome alterado para Ponte Honestino Guimarães, na época
sem consulta à comunidade e moradores, resultando em grande polêmica entre a
população local. Uma decisão judicial fez voltar o nome de batismo.
Por todas as qualidades acima apontadas, sempre me veio à cabeça um
detalhe que me levou a registrar aqui, sempre aos domingos: Linda? Sim. Obra
arquitetônica de grande plasticidade e beleza? Sim.
E se fosse iluminada? Dentro de todos os padrões da luminotécnica? Nossa
obra de arte, em forma de ponte, seria então um monumento e uma ode ao seu
criador, Oscar Niemeyer.
Além de uma belíssima atração turística, um colírio para os olhos e uma
demonstração do quanto prezamos e valorizamos os nossos monumentos e demais
obras arquitetônicas que, a exemplo do mundo inteiro, são valorizados pela
iluminação adequada e atraente.
Pensando e — escrevendo — com recados a tantos governos, eis que, agora
em 2019, como que a me assegurar do quanto estou certa quando me refiro à
iluminação das pontes e de outros pontos de Brasília, eis que recebo uma foto
da ponte Zhusheng, que fica em Zhenyuan, numa cidadezinha a sudoeste da China.
Com apenas cinco quilômetros quadrados, às margens do Rio Wuyang, nas
montanhas Miaoling, a cidade é cheia de antigos templos de vários andares, com
casas igualmente antigas e históricas, com cavernas esculpidas nas encostas,
que datam da Dinastia Ming.
A ponte, “ostentando sua iluminação festiva” é muito apreciada e
procurada por turistas chineses e do mundo inteiro.
E nossa jovem e moderníssima Brasília?
Suas pontes, a Torre de TV — que já foi e será ainda alvo de muitas e
muitas demonstrações de zelo e entusiasmo — bem como outros monumentos, será
que não merecem tratamento igual ou até mais elaborado?
Brasília na Plenitude de seus 60 Anos — projeto criado por esta coluna —
precisa estar “vestida de gala” para receber os turistas de todo o mundo, no
ano de seu aniversário, não precisa?
Então. A hora é essa. Vamos entrar no clima?
(*) Jane Godoy – Coluna 360 Graus – Correio Braziliense