Deputada federal Flávia
Arruda (PR/DF), coordenadora da Comissão Externa de Combate à Violência
Doméstica no Congresso
“Não vamos nos
acomodar nos gabinetes, vamos levar o Congresso às vítimas”
O governador
Ibaneis Rocha acatou ontem uma sugestão sua de impedir que policiais indiciados
por violência contra a mulher mantenham suas armas. Acredita que haverá reação
de policiais a essa medida?
De jeito nenhum.
As corporações da segurança pública do DF têm os policiais mais bem preparados,
pessoas que lidam com isso diariamente. Temos belíssimos exemplos e
colaboradores dessa causa de combate à violência contra a mulher. Os policiais
não querem que um personagem manche a imagem de toda a corporação por uma
atitude individual. São exceções e, inclusive, temos de dar apoio a policiais
que passam por problemas psicológicos. Há muitos casos. Liguei para o
governador, oficiei a ele pedido para um decreto que retirasse a arma de todos
os servidores da segurança que estão indiciados pela Lei Maria da Penha, não
basta simplesmente a denúncia de uma vítima. Enquanto estiverem sendo
investigados que seja retirada a arma e o policial seja deslocado para trabalho
na área administrativa. Sabemos que muitas vezes esses crimes acontecem na hora
da forte emoção.
Como a Comissão
Externa de Combate à Violência Doméstica vai atuar?
Vamos trabalhar no
combate à violência contra a mulher que virou uma epidemia no país. No DF, já
tivemos 14 feminicídios apenas em 2019. Na Comissão, a gente tem trabalhado
para aperfeiçoar legislações que já existem, como a Lei Maria da Penha. Também
podemos pensar em novas leis que podem surgir durante o trabalho, mas
principalmente na fiscalização delas. Precisamos ver se as redes de proteção e
os protocolos de atendimento estão sendo cumpridos. Devemos ainda recolher
dados. Como é uma comissão externa, não vamos nos acomodar nos gabinetes, vamos
levar o Congresso às vítimas.
Você tem recebido
relatos e denúncias de violência. Algum lhe impressionou mais?
Em uma das
audiências, nós recebemos um relato muito emblemático da Bárbara Pena, que foi
vítima de violência no Rio Grande do Sul. Ela foi agredida e teve o apartamento
todo queimado pelo agressor. Os filhos dela morreram nessa tentativa de
homicídio e também um vizinho que tentou ajudá-la. Há seis anos, ela vive esse
processo de sofrimento, aguardando que ele seja julgado. Foi um caso que nos
comoveu muito. Ela traz marcas no corpo. Ela tem um lado do corpo todo queimado
e deficiência na locomoção. Depois de divulgarmos esse crime na comissão e
gritado sobre esse caso, finalmente o júri foi marcado para o próximo mês. A
Comissão estará nesse julgamento acompanhando o desfecho dessa história. É
muito gratificante ver que o trabalho já deu frutos.
A onda conservadora
do país provocou o aumento do machismo e a violência contra a mulher?
A gente não pode afirmar
isso. Precisaríamos de dados concretos. Mas a gente tem a sensação de que esses
covardes têm se encorajado, o machismo tem aflorado. A mulher está ocupando
cargos e posições importantes o que têm causado nesses agressores, nesses
covardes essa sensação de que a mulher tem que ser inferior, submissa. Além
disso, o estímulo às armas, ao combate, ao enfrentamento têm, de certa forma,
ajudado muito na violência contra a mulher e incentivado os feminicídios. As
pessoas ainda não estão preparadas para se armarem de forma incondicionada.
Não adianta
desarmar os policiais agressores se a população vai se armar…
Exatamente. Vamos
desarmar o policial porque é uma medida que o governador pode tomar. Mas temos
que desarmar todo mundo que tem qualquer histórico de processo no âmbito de
Maria da Penha.
Ana Maria Campos –
Coluna “Eixo Capital” – Foto: Vinicius Cardoso Vieira/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense
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