A renovação do MDB teve apoio do
governador do DF, Ibaneis Rocha, e resultou na eleição do presidente da Câmara
Legislativa, Rafael Prudente, para a Presidência do partido
Eleitos ganham força no comando de
partidos. Legendas políticas da capital
federal se reorganizam depois do resultado das eleições de 2018. Novos nomes
conquistam destaque e substituem caciques, alguns reprovados nas urnas, na
direção de siglas como MDB, PSD, PR, PP, PTB e PSL
Passada a ressaca das eleições de
2018, os partidos políticos do Distrito Federal começam a se reorganizar.
Candidatos que conseguiram vencer no pleito do ano passado ganharam força
dentro das legendas e, em muitos casos, conquistaram posições de comando e de
destaque dentro das direções regionais. Em contrapartida, medalhões que ficaram
de fora da lista de eleitos, em geral, perderam importância e tiveram de ceder
espaço às lideranças que se consolidaram pelo voto. O movimento ocorreu em
algumas das siglas mais importantes da capital, como MDB, PSD, PR, PP, PTB e
PSL.
O MDB era comandado pelo
ex-vice-governador Tadeu Filippelli. Sem mandato eletivo, Filippelli — que
tentou, sem sucesso, um lugar na Câmara dos Deputados em 2018 — viu-se obrigado
a ceder lugar para um nome em ascensão na política brasiliense: o presidente da
Câmara Legislativa, Rafael Prudente.
A pressão para a mudança no
partido teve apoio do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), que também é uma
liderança que despontou nas últimas eleições. Ele e Prudente chegaram a
protocolar um pedido à executiva nacional para dissolver o diretório local. Por
fim, Ibaneis e Filippelli entraram em acordo para que Prudente assumisse o
comando da legenda. Nora do ex-vice-governador, a secretária da Mulher, Ericka
Filippelli, ficou como vice-presidente.
No PP, a perda do mandato também
teve impacto e implicará na saída do comandante da legenda, o ex-deputado
federal Rôney Nemer. Ele dará lugar a Celina Leão, fortalecida depois da
conquista de uma vaga na Câmara dos Deputados nas últimas eleições. Ela é
também uma das principais aliadas do chefe do Palácio do Buriti. A troca deve
ocorrer apenas em outubro, quando vence o mandato de Nemer. “Estamos fazendo
uma transição pacífica. Já nos reunimos com a direção nacional para acertar as
mudanças. Os nomes, inclusive, serão decididos juntos”, adiantou Celina.
O impacto do pleito de 2018 também
se manifestou no PSD. O partido era presidido pelo ex-governador e ex-deputado
federal Rogério Rosso. Ele se colocou na disputa pelo Buriti no ano passado,
mas acabou em terceiro lugar. Sem mandato, optou por voltar à iniciativa
privada e deixar, ao menos por enquanto, a política de lado.
A deputada federal Flávia Arruda
assumiu o comando do PR
Problemas
Com a saída de Rosso, o partido dá
os primeiros passos para a criação de um grupo político. O ex-senador Paulo
Octávio comandará a sigla. Ele estava no PP e não disputou nenhum cargo nas
eleições passadas, mas apoiou a campanha vitoriosa de Ibaneis Rocha. O
empresário levou para a legenda os filhos Felipe Octávio e André Octávio, além
da mulher, Anna Christina Kubitschek. Ela é neta de JK, que se elegeu
presidente pelo PSD.
Salvador Bispo, do PR, também
cedeu espaço a uma liderança eleita. Na disputa de 2018, ele emplacou a
candidatura do filho, Alexandre Bispo, a vice na chapa do ex-deputado federal
Alberto Fraga (DEM), mas ficaram em sexto lugar. Com isso, a direção regional
da sigla foi para as mãos de Flávia Arruda, a deputada federal mais bem votada
do DF, com 121 mil votos. Alexandre ficou com o cargo de vice-presidente.
Em algumas legendas, as trocas de
comando combinaram o fator renovação com problemas ao longo da campanha de 2018.
É o caso do PSL, partido do presidente da República, Jair Bolsonaro. A sigla
disputou as eleições distritais sem alinhamento com a família Bolsonaro, que
chegou a pedir que apoiadores se filiassem a outra legenda, o PRP — do então
candidato a governador Paulo Chagas.
Com a vitória de Bolsonaro, a
executiva nacional convidou a deputada federal Bia Kicis, eleita pelo PRP, para
fazer parte da agremiação. Com a chegada de Bia, Newton Lins deixou a
Presidência e a entregou para a parlamentar. Ele também disputou o cargo em
2018, mas, com 6,8 mil votos, não se elegeu.
Outra legenda em que dificuldades
na campanha culminaram na troca de comando é o PTB. O partido era comandado
pelo ex-distrital Alírio Neto e teve a candidatura de diversos representantes
barrada pela Justiça Eleitoral por falhas na transmissão de dados da legenda ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após as eleições, porém, a Justiça reviu as
candidaturas e validou votos do PTB. A decisão deu uma cadeira na Câmara
Legislativa a Jaqueline Silva. No processo, a distrital se fortaleceu e se
firmou como liderança da sigla. Pesou também a derrota de Alírio —
candidato a vice de Eliana Pedrosa (Pros) — nas urnas. Com apoio do
presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, Jaqueline assumiu o comando.
O PSB, do ex-governador Rodrigo
Rollemberg, também trocou de direção. No caso da sigla, no entanto, o
ex-presidente Tiago Coelho renunciou ao posto para se dedicar à carreira
acadêmica. Militante do partido de longa data, o vice-presidente Daniel Cunha
ficou com o posto até que sejam realizadas novas eleições — ainda sem
data.
Sem mudanças
Embora tenha permanecido com o
mesmo presidente, o PSDB também foi influenciado pelo resultado do pleito.
Comandante da legenda, Izalci Lucas sofria resistência de parte dos filiados e
teve a direção contestada por diversas vezes no último ano. Porém, com a
conquista de uma vaga no Senado, Izalci firmou-se como comandante do partido.
Para a Vice-presidência, ele recrutou o distrital Daniel Donizet. Novato,
Donizet foi eleito pelo PRP.
No DEM, o ex-deputado federal
Alberto Fraga conseguiu se manter no cargo. Nos bastidores, o deputado eleito
Luis Miranda pleiteou a posição, mas as lideranças chegaram a um consenso, e
Miranda ficou com a Vice-presidência. “Ele é um nome que tende a crescer, mas
vamos ter de esperar um pouquinho mais para vê-lo na Presidência. Quem sabe na
próxima”, arriscou Fraga.
Para o cientista político e
professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar de Souza, a troca
de velhos nomes sem cargos eletivos por aqueles que ocupam mandato dentro das
direções partidárias é um movimento natural na política. “A liderança
partidária tem de estar ancorada dentro do mandato, porque é o mandato que dá
voz ao partido dentro da estrutura da política. Se o comandante não foi eleito,
nada mais normal do que ser substituído por alguém com mais pujança neste
momento”, avaliou.
"A liderança
partidária tem de estar ancorada dentro do mandato, porque é o mandato que
dá voz ao partido dentro da estrutura da política” (Creomar de Souza, cientista
político e professor da UnB)
(*) Alexandre de Paula – Fotos:
Bernardo Jr/Agência Brasília – Arthur Menescal/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense