Brasília, de quem é o patrimônio tombado da
humanidade?
*Adão Cândido, secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa
Brasília é o
maior patrimônio tombado da humanidade. Os 112,25 km² do projeto arquitetônico
e urbanístico de Oscar Niemeyer e Lucio Costa são os únicos da era moderna a
terem tal honraria, concedida em 1987. Jovem, prestes a completar 60 anos, este
bem tão precioso, moderno e singular enfrenta problemas graves, compatíveis com
a senilidade de cidades centenárias.
Este é o resultado
de 59 anos de descaso e falta de compromisso. Brasília nunca teve uma política
pública de manutenção e conservação.
O crescimento não planejado do Distrito Federal massacrou as estruturas da
capital projetada para uma população bem menor que os mais de 3 milhões atuais.
Ano passado vimos o viaduto do Eixo Rodoviário – uma das pistas mais
movimentadas do centro – ruir. Era a cidade pedindo socorro.
Vimos, ao longo dos anos, pedaços da história em
situação de abandono completo. Ao assumir a Secretaria de Cultura e Economia
Criativa (Secec) em janeiro, nos deparamos com um cenário decadente: Museu do
Catetinho, Museu Vivo da Memória Candanga, Casa do Cantador, Espaço Lucio Costa
e Panteão da Pátria em situação de completa deterioração.
Janelas quebradas,
infiltrações nas paredes, estruturas comprometidas. O que dizer dos jardins de
Burle Marx. que nem sequer existem mais? Ou seja, nenhuma ação preventiva
básica havia sido feita nos últimos anos.
O Teatro Nacional Cláudio Santoro (foto em destaque) é mais um exemplo da falta de
uma política de conservação do patrimônio. Ali, no coração da
cidade, a principal casa de artes
permanece fechada há mais de cinco anos. A recomendação expedida pelo
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e pelo Corpo de
Bombeiros solicitava ações pontuais para garantir a segurança do local. A
decisão por encerrar as atividades foi motivada politicamente.
Um grandioso e arrojado projeto, de mais de R$ 200
milhões, foi apresentado como a solução para o complexo. Em todos esses anos,
não houve um esforço para realizar a obra ou parte dela. Nenhuma parceria,
investimento ou aporte de empresas públicas ou privadas que pudessem ao menos
dar início a este projeto tão importante para a capital.
O que pouca gente sabe é que, mesmo fechado, uma
equipe permanece diariamente mantendo o Teatro Nacional Cláudio Santoro em
funcionamento. Por se tratar de um equipamento grande e complexo, é necessário
ligar aparelhos de ar condicionado, luzes e realizar testes frequentes nas
cortinas e refletores, o que faz com que anualmente o Governo do Distrito
Federal gaste R$ 2 milhões com a casa fechada.
No improviso
Ao mesmo tempo, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional se apresenta de maneira improvisada no Cine Brasília. Com acústica feita para o cinema, a sala exige que os músicos façam mais esforço para tocar, o que tem causado constantes lesões. A inadequação do local lá fez com que músicos caíssem do palco, além do desconforto de não haver sequer um camarim. Isso não pode continuar.
Ao mesmo tempo, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional se apresenta de maneira improvisada no Cine Brasília. Com acústica feita para o cinema, a sala exige que os músicos façam mais esforço para tocar, o que tem causado constantes lesões. A inadequação do local lá fez com que músicos caíssem do palco, além do desconforto de não haver sequer um camarim. Isso não pode continuar.
A revitalização da
cidade é uma prioridade. A manutenção dos equipamentos é prioridade. A
valorização do conjunto tombado é prioridade. A política pública em defesa do
patrimônio veio para ficar e está respaldada pela Constituição que em seu
artigo 216 reforça o papel do poder público em sua defesa.
Assumimos o compromisso de viabilizar essas ações.
É uma promessa de campanha do governador Ibaneis Rocha, que entende a
importância do tombamento e deseja fazer com que Brasília, a capital do país,
seja fortalecida como destino turístico, trazendo desenvolvimento, emprego e
renda para a cidade.
O trabalho é árduo. O governo recebeu um caixa
esvaziado, dívidas em diversas esferas, salários atrasados, quadro de
servidores defasado. Este cenário que se junta à incerteza na economia em todo
o país não é propício para atrair investimentos. A ordem aos gestores foi para
garantir a eficiência de suas pastas até a equalização dos gastos.
FAC
Mesmo assim, conseguimos garantir a vinculação dos 0,3% da receita líquida prevista para investimentos na Cultura. E pela primeira vez, o GDF repassou o superávit (de 2017), acrescentando R$ 2,6 milhões ao caixa do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
Mesmo assim, conseguimos garantir a vinculação dos 0,3% da receita líquida prevista para investimentos na Cultura. E pela primeira vez, o GDF repassou o superávit (de 2017), acrescentando R$ 2,6 milhões ao caixa do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
O orçamento da Secretaria de Cultura e Economia
Criativa do DF é um dos maiores do país proporcionalmente, uma vez que além dos
R$ 68 milhões FAC ainda há disponível os valores referentes à Lei de Incentivo
à Cultura (LIC), investimentos diretos e emendas parlamentares, nosso caixa é
de cerca de R$ 100 milhões para investimentos na área.
O desafio é gerir
estrategicamente este montante de modo a atender os pilares da gestão:
patrimônio, difusão cultural e economia criativa. Neste sentido, modificamos o
programa Conexão Cultura, limitando a quantidade de projetos inscritos por
beneficiário, de modo a ampliar o alcance da iniciativa, dando oportunidade a
mais pessoas"
Também aumentamos as contrapartidas. O edital do
FAC lançado em 2019 visa a ocupação dos equipamentos públicos, inclusive com
limitação de ações de projetos da região do Plano Piloto, a fim de valorizar as
atividades das outras Regiões Administrativas.
Ainda era pouco. Mais da metade dos recursos da
Secec estava comprometida com editais lançados durante o período eleitoral e
sem previsão orçamentária, em desacordo com a Lei de Responsabilidade
Fiscal e com a própria Lei Orgânica da Cultura. Cabia a
esta administração avaliar sua conveniência, a fim de referendá-los.
A análise
minuciosa nos levou à difícil decisão de cancelar o FAC Áreas Culturais, uma
vez que o FAC Audiovisual contava com recursos federais do Fundo Setorial do
Audiovisual (FSA), da Ancine e sua renúncia implicaria na perda desses
recursos, de R$ 14,8 milhões.
Valorização
patrimonial
Esta medida permitiu o lançamento de uma linha permanente de valorização patrimonial. Esta ação escancara, mais uma vez, o descaso de anos com o tombamento da cidade, uma vez que o Decreto 38.933, de 2018, que regulamenta do Fundo de Apoio à Cultura determina, em seu artigo 4º,VI, que os instrumentos de fomento podem ser usados para a infraestrutura cultural, patrimônio material e imaterial cultural histórico e artístico, museus, arquivos e demais acervos.
Esta medida permitiu o lançamento de uma linha permanente de valorização patrimonial. Esta ação escancara, mais uma vez, o descaso de anos com o tombamento da cidade, uma vez que o Decreto 38.933, de 2018, que regulamenta do Fundo de Apoio à Cultura determina, em seu artigo 4º,VI, que os instrumentos de fomento podem ser usados para a infraestrutura cultural, patrimônio material e imaterial cultural histórico e artístico, museus, arquivos e demais acervos.
O primeiro edital, que será lançado em junho, prevê
o restauro da Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro, um dos
principais palcos da cidade.
É preciso esclarecer que os recursos permanecem no
FAC e que ele continua totalmente operacional. As ações culturais e o fomento
continuam com foco ampliado em outras ações como restauro e conservação que
também são parte da cadeia produtiva da Cultura.
É importante reforçar que o os instrumentos de
fomento têm como foco a Cultura de maneira abrangente, e não apenas os
produtores culturais. O FAC continua sendo de todos, com uma linha de
audiovisual, uma linha de ocupação, e a linha de conservação. Agora, outras
áreas deste amplo espectro de atividades também receberão atenção e terão
oportunidades em uma escalada de benefícios que atingirá toda a população.
Aumentamos as possibilidades e vamos cumprir
exatamente o que determinam as legislações. Nosso compromisso é com a cidade,
com a Cultura, com o patrimônio e com o contribuinte, que deseja retorno dos
impostos que paga. Seguiremos com o trabalho sério e comprometido e sabemos que
a reabertura do Teatro trará investimentos para a cidade, além de
profissionalização e visibilidade para a capital.
Obra-prima
Ao criar Brasília, Juscelino criou um enorme polo cultural. Um polo que trouxe a música autoral de Brasília, o cinema da capital, cantores, artistas, dançarinos e cineastas. Impulsionou a arquitetura e o urbanismo sobremaneira, e trouxe olhares do mundo inteiro para o centro do Brasil.
Ao criar Brasília, Juscelino criou um enorme polo cultural. Um polo que trouxe a música autoral de Brasília, o cinema da capital, cantores, artistas, dançarinos e cineastas. Impulsionou a arquitetura e o urbanismo sobremaneira, e trouxe olhares do mundo inteiro para o centro do Brasil.
Foi a obra-prima
de Niemeyer e de Athos Bulcão, mas também é a obra constante de Vladimir
Carvalho e Cláudio Santoro, por exemplo.
Um polo cultural precisa ter de pé seus palcos e
picadeiros, não podemos deixá-los ruir. Isso não tem nada de elitista, mas sim
de responsável com aquilo que é de Brasília e para todos os brasilienses, sem
exceção.
(*) Adão Cândido,
secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa - Foto: Daniel Ferreira - Zé Carlos Vieira/CB/D.A.Press/Blog-Google - Metrópoles
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GDF
Creio que houve uma má interpretação da lei orgânica da Cultura, além da lei que criou o FAC. Anos atrás escrevi um projeto que previa o investimento no Ce tronde Dança do DF e fui informado na época que. Verba do FAC não poderia ser gasta com restauro de prédios públicos.
ResponderExcluirUma coisa é a população (entes agentes da cultura cadastrados) proporem a melhoria dos espaços públicos a outra coisa é o governo inferir nessa destinação de verbas públicas com destinação proposta em lei.
O FAC é uma política de Estado e não de Governo.
Fora o calote de mais de 100 milhões que o governo passado deu no Fundo de Apoio a Cultura, retirando esse dinheiro da conta do fundo para gastar em outras áreas. A LOC proibiu isso veementemente. Ressalto que não é uma verba do Governo para gastar onde achar melhor, e sim para pessoas da cidade agirem onde sentem essa necessidade, e os slides são divididos por todas as Regiões Administrativas. Investir esse valor em obras, em uma única região administrativa, à revelia é ilegal.