Cancelamento impactará mais de
250 projetos, que gerariam 12 mil empregos diretos e 30 mil indiretos
Protesto contra
mudança no FAC. Manifestantes ligados à produção cultural se reuniram ao redor
do Teatro Nacional. Secretário de Cultura quer usar parte do fundo para
recuperar o espaço. Mas decisão pode provocar desemprego no setor
Cerca de 250 artistas e trabalhadores da cultura se reuniram, ontem, para protestar contra o corte de R$ 25 milhões de edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). O ato ocorreu nos arredores do Teatro Nacional. Parte dos recursos retirados dos projetos será destinada, segundo o secretário de Cultura, Adão Cândido, para a reforma do local, fechado desde 2014.
Constava na agenda
do governador Ibaneis Rocha (MDB) uma visita técnica ao teatro, na tarde de
ontem, mas o chefe do Executivo local cancelou a inspeção. A passagem do
emedebista ocorreria no mesmo horário escolhido pelos manifestantes para
reclamar dos cortes.
A baixa nos
recursos do FAC se deu porque o governo cancelou edital lançado no ano passado
para financiar projetos, mesmo com as iniciativas vencedoras já escolhidas. A
justificativa para o corte é de que o edital foi aberto na gestão passada
contando com recursos do orçamento de 2019.
Para realocar os
valores, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa lançará um FAC destinado à
recuperação do patrimônio cultural, o que contemplaria parte da obra do Teatro
Nacional (sala Martins Pena) e do Museu de Arte de Brasília (MAB). A promessa é
de que ambos sejam reabertos em 2020. O custo total da obra de revitalização do
teatro era estimado em R$ 260 milhões (divididos em cinco etapas).
Profissionais da
cultura reconhecem que a reforma do Teatro Nacional é necessária, mas reclamam
da utilização dos recursos que foram prometidos para a execução de projetos via
FAC. “O protesto foi chamado para deixar claro para a sociedade que os artistas
estão a favor da manutenção do patrimônio, mas não se pode reformar hospitais
em detrimento da contratação de médicos, assim como não se pode usar
ilegalmente o direito destino ao fomento cultural para fazer essa reforma.
Artista e o teatro fazem parte do mesmo projeto”, contesta a produtora teatral
Clarice Cardeal.
De acordo com a
Frente Unificada de Cultura, o cancelamento do FAC Áreas Culturais terá impacto
em mais de 250 projetos, que gerariam 12 mil empregos diretos e 30 mil
indiretos em todo o DF — os projetos contemplam o Plano Piloto e as regiões
administrativas. O ator Ricardo Pipo, do grupo Melhores do Mundo, destaca que o
corte atingirá projetos das regiões periféricas. “Sabemos da importância e
defendemos a reforma do teatro. Mas não com os artistas pagando essa conta. O
teatro, apesar de importante, não era um espaço usufruído por todo o DF, por ser
centralizado no Plano Piloto”, reclama.
Daí Schimidt,
diretora do Desfile Beleza Negra e produtora de moda, lembra que o FAC era uma
alternativa para projetos que valorizavam as minorias. “Trabalhamos desde 2012
para combater a discriminação racial e para inserir o negro no mercado de
trabalho. Do nosso projeto, 200 pessoas podem ser afetadas”, disse.
No meio da
polêmica, o Conselho de Cultura do Distrito Federal recomendou a substituição
do secretário Adão Cândido. O conselho é composto por quatro membros da
sociedade civil e quatro representantes do governo. Houve empate para validar o
pedido, mas o presidente, segundo as regras do grupo, decidiu pela elaboração
do documento sugerindo a saída do secretário.
Para saber mais
- Cronograma previsto
Ontem, a secretaria
de Cultura e Economia Criativa fez estimativas para a entrega do Museu de Arte
de Brasília (MAB) e do Teatro Nacional. A previsão é de que o MAB esteja pronto
em março de 2020. Já a Sala Martins Pena seria reinaugurada até o aniversário de
Brasília. O secretário afastou boatos de que o Espaço Cultural Renato Russo
seria fechado. “Todo nosso esforço é para reabrir os equipamentos (espaços
culturais), todo esse trabalho que temos feito é exatamente atacar a questão de
equipamentos fechados, como o MAB, que estava com a obra parada, e o grande
exemplo desse descaso é o Teatro Nacional. Então, fechar não tem o menor
fundamento”, declarou.
Alexandre de Paula - Robson G. Rodrigues* ~* Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira
- Foto: Minervino Junior/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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