Cinco mudanças em quatro meses no
GDF - Incompatibilidade, problemas com o Ministério Público e embates
internos fazem com que o governador Ibaneis Rocha (MDB) mude cargos de chefia
sensíveis à estrutura do Palácio do Buriti. A última alteração no governo ocorreu
no comando da Casa Civil
Palácio do Buriti, sede do
Executivo local: em busca de alinhamento em áreas próximas ao governador
Com o pedido de demissão do então
secretário-chefe da Casa Civil Eumar Novacki, o governo de Ibaneis Rocha (MDB)
contabiliza cinco baixas em cargos de chefia em quatro meses e meio de mandato.
Além de Novacki, os comandantes do Detran, da Casa Militar, da Novacap e da
Caesb deixaram a estrutura do GDF (veja Trocas). Entre as razões estão embates,
incompatibilidade e problemas com a Justiça.
No caso de Novacki, pesaram,
sobretudo, a falta de poder da pasta — fundamental em outros governos — e
desavenças com nomes do primeiro escalão do governo. Nos bastidores, relata-se
também que ele e o chefe do Palácio do Buriti não estavam mais alinhados e que
episódios em que Novacki assumiu muito protagonismo incomodaram o chefe do
Executivo local.
A gota d’água para a decisão de
sair do governo foi a retirada da Casa Civil da responsabilidade de publicar o
Diário Oficial do DF. A tarefa era uma das atribuições centrais do órgão, uma
vez que o documento traz todos os atos relevantes do governo. A função passou a
ser da chefia de gabinete do governador, comandado por Kaline Gonzaga. Novacki
também foi sondado para ocupar funções no governo federal, o que, diante da
situação atual, colaborou, segundo membros do GDF, para a decisão final de
deixar a administração local.
Ontem, o governador Ibaneis
minimizou o problema e afirmou que não houve desentendimentos entre ele e o
ex-comandado. “Ele pediu para sair do governo porque tem outras pretensões e
está disposto a seguir outros caminhos”, justificou o emedebista. “Não existe
espécie alguma de desalinho. É um amigo. A nossa relação continua a mesma. Ele
é um conselheiro de muitos anos. Desde o momento em que ele aportou aqui no
Distrito Federal, recebeu todo o meu carinho e vai continuar sendo um amigo”,
completou.
Interinamente, o secretário de
Justiça, Gustavo Rocha, chefiará a Casa Civil. Ele deve ficar no cargo até que
o substituto seja escolhido. Um dos nomes mais cotados para é o de José
Humberto Pires, ex-secretário de Governo de José Roberto Arruda (PR). Pires é um
dos conselheiros mais ouvidos por Ibaneis.
Outra queda motivada por problemas
internos na estrutura do GDF ocorreu na Casa Militar, em abril. Embates
internos e desavenças causaram tumulto na organização do órgão. O primeiro
nomeado para o cargo, coronel Júlio César Lima de Oliveira, era adversário da
comandante-geral da PM, coronel Sheyla Sampaio, e defendia a escolha de um
oficial mais antigo para a chefia da corporação.
O escolhido por Ibaneis para
substituí-lo, tenente-coronel Marcus Paulo Koboldt, é da turma de formação da
coronel Sheyla. “A Casa Militar foi criada para cuidar da segurança do
governador. Existiam ali muitos grupos que estavam com embates diários, que eu
não acho muito conveniente para quem está cuidando da minha vida pessoal e dos
meus familiares”, alegou, à época, o governador.
Complicações
Problemas com o Ministério Público
também motivaram a saída de integrantes do governo Ibaneis nesses primeiros
meses. Na semana passada, o então diretor-geral do Detran Fabrício Moura deixou
o cargo. Ele foi exonerado depois de denúncias envolvendo supostas
irregularidades na contratação de serviços de manutenção de semáforos. As
denúncias se tornaram alvo do Ministério Público do DF e Territórios, que abriu
investigação para apurar os supostos problemas. O MP questionou, entre outras
questões, por que o Detran firmou um contrato emergencial, sem licitação, se o
processo de concorrência pública estava pronto. Para o lugar dele, o escolhido
foi o ex-distrital e delegado aposentado da Polícia Civil Alírio Neto.
Outra baixa motivada por
complicações com o Ministério Público foi a de Fernando Leite, que deixou a
Presidência da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). Ele caiu, no
fim de abril, depois de o Ministério Público pedir a suspensão da posse, o que
foi acatado por decisão da juíza Acácia Regina Soares de Sá, da 5ª Vara de
Fazenda Pública do DF. A condenação por irregularidades cometidas na
Presidência da empresa, em governos anteriores, foi a razão para a solicitação
do MP.
Em 2016, Leite foi condenado pela
prática de ato de improbidade administrativa. Por isso, ficou impedido de
contratar com a administração pública e teve os direitos políticos suspensos
até setembro deste ano. Para o lugar dele, Ibaneis escolheu o advogado Carlos
Augusto Lima Bezerra, que era diretor financeiro e comercial do órgão.
Também deixou o governo, em abril,
Daclimar Azevedo, que era diretor-presidente da Novacap. Segundo Ibaneis, a
empresa precisava de alterações estruturais, e a mudança necessária exigia
renovação no quadro de direção. “Para isso, precisamos de pessoas que não
estejam tão entranhadas numa filosofia que vem do passado”, observou, à época.
“A Novacap, assim como a maior parte das empresas do governo federal, foi sendo
tomada pelos servidores. Então, temos número excessivo de funções
comissionadas, principalmente nas diretorias. São modificações que precisam ser
feitas para que essa empresa se renove”, ponderou.
No lugar de Daclimar, entrou
Cândido Teles de Araújo, ex-deputado estadual de Mato Grosso. Ele ocupava, até
então, a função de diretor administrativo.
Demissões na Saúde
A Secretaria de Saúde passa por
turbulência após Beatriz Viana da Silva, 19 anos, morrer sem conseguir
atendimento no Hospital Regional de Sobradinho. A jovem morreu no sábado após
fortes dores abdominais. Durante o enterro, ontem, a família pediu justiça e
denunciou que Beatriz foi vítima da negligência. “Eles negaram atendimento para
ela, sim. Ela chegou lá nos braços dele (marido) e não foi atendida”, disse a
irmã da jovem, a atendente Bianca Rubiano, 23.
Com a notícia da morte, Ibaneis
Rocha declarou, na segunda-feira, que trocaria toda a diretoria da unidade de
Sobradinho de forma imediata. As demissões não foram publicadas no Diário
Oficial do DF de terça-feira, como esperado, e o governador afirmou ontem: “Se
a Secretaria não confirmar essa exoneração dos servidores, eu confirmo a do
secretário (de Saúde), hoje ainda”.
O presidente do Sindicato dos
Médicos do DF, Gutemberg Fialho, também se manifestou. “O que houve no
atendimento tem de ser investigado, mas o secretário de Saúde não dá as
condições mínimas para os diretores trabalharem.”
(*) Alexandre de Paula »
Alan Rios » Juliana Andrade – Fotos: Breno Fortes – Ana
Rayssa/CB/D.A.Press – Renato Alves/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
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