Esperança de renovação na W3. Com
cerca de 30% dos estabelecimentos fechados, a avenida espera há anos medidas
capazes de colocá-la novamente em destaque no comércio local. GDF começou obra
em duas quadras e promete abranger toda a extensão da via
*Por Bruna Lima
Obras na comercial da 511 e 512
Sul incluem reparo e troca de calçadas, remodelamento dos becos entre os
blocos, substituição de iluminação, melhorias no asfalto e estacionamentos na
W2, além de paisagismo e arborização
Claretiana de Jesus passeia pela
avenida diariamente: Vi isso tudo aqui nascer, borbulhar e depois
esvaziar
"Foram décadas de muito
trabalho, dedicação e amor para conseguir manter nosso negócio aberto"
Danielle Bastardo, dona de padaria
Se dependesse de Claretiana de
Jesus, a W3 ainda seria a área comercial mais movimentada de Brasília. Todos os
dias, a senhora de 94 anos sai de casa, nas quadras 700, e, com a bengala na
mão, passeia pela avenida. “Vi isso tudo aqui nascer, borbulhar e depois
esvaziar. Antes, a gente andava trombando nas pessoas. Agora, tem que tomar
cuidado é com as calçadas desniveladas. Evito sair à noite também. Mas deixar
de fazer minhas coisas aqui, nunca!”, garante.
A rotina de Claretiana foi a mesma
de milhares de brasilienses, que transitavam pelos 12 quilômetros de extensão
da W3 em busca de todo o tipo de produto e serviço. Na época de ouro, a avenida
chegou a ser considerada o maior shopping a céu aberto do Brasil. Mas, com o
surgimento dos grandes centros comerciais, na década de 1970, foi perdendo a
preferência do público e até mesmo de alguns empresários, que acompanharam a
novidade. Atualmente, a avenida tem aproximadamente 30% de estabelecimentos
fechados, calçadas destruídas e iluminação precária.
Com o objetivo de reanimar a
região que já foi símbolo de Brasília, o governo local pretende fazer uma
revitalização completa da W2 e da W3 Sul e Norte. Os primeiros passos foram
dados no último mês, com o início da execução do projeto-piloto nas quadras 511
e 512 Sul. As obras incluem reparo e troca de calçadas, remodelamento dos becos
entre os blocos, substituição de iluminação, melhorias no asfalto e
estacionamentos, além de arborização e paisagismo.
Dona da mais antiga padaria da 512
Sul, Danielle Bastardo, 35 anos, conta que ela e os comerciantes vizinhos,
liderados pela Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF) —
entidade mais antiga do setor — precisaram lutar muito para conseguir tirar o projeto
do papel.
“Foram décadas de muito trabalho,
dedicação e amor para conseguir manter nosso negócio aberto. Essa padaria
nasceu antes de mim e atravessou gerações e, por isso, foi muito difícil
acompanhar o abandono e o descaso ao longo dos anos. O novo processo nos anima
muito e acreditamos que essa avenida pode se tornar uma referência novamente”,
espera Danielle.
Mudança completa
A professora aposentada e moradora
da 312 Sul Maria Cristina Corrêa, 62, sai todos os dias para levar o cachorro
para passear e acompanha, assim, o andamento das obras. Ela acredita que as
melhorias devem incentivar a população local a frequentar mais a área, mas que
somente as obras são insuficientes.
“A iluminação e a acessibilidade
vão ajudar muito, mas é preciso pensar também em um policiamento eficiente e um
estímulo para que os empresários reabram as lojas”, pondera. Em frente à quadra
de Maria, um supermercado foi inaugurado recentemente e, na visão dela, isso já
aumentou o fluxo de pessoas transitando na região. “Quando você tem o serviço
perto de casa e a segurança de andar em um local seguro, movimentado e bonito,
é claro que prefere ir andando fazer as compras, desde que o preço seja justo
também”, observa.
A conclusão das obras da 511 e da
512 está prevista para outubro e o trabalho deve custar R$ 1,8 milhão aos
cofres públicos. De acordo com o presidente da CDL, José Carlos Magalhães, as
duas quadras foram escolhidas como ponto de partida devido ao grande número de
lojas de varejo, a disponibilidade de estacionamentos e a reivindicação dos
comerciantes locais.
“O impacto da obra deve ser maior
nessas quadras, podendo ajudar de forma mais significativa na elaboração dos
demais projetos para a W3. A revitalização da área tombada que já foi ícone da
cidade é uma valorização não só para o comerciante, mas para os moradores, que
terão mais ofertas e segurança”, afirma.
Apesar de enxergar que as
primeiras medidas de revitalização trazem um avanço importante na discussão, o
presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito
Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, pondera ser necessário um planejamento
global para que a W3 volte a ser um grande centro comercial. “Atualmente, temos
sérios problemas com ocupações irregulares, lojas inadequadas e completamente
fora dos padrões”, afirma.
Sem atrativos e organização,
muitos empresários fecharam as portas e não se arriscam a fazer um investimento
no local. “Eles precisam de segurança financeira, jurídica e comercial. Por
isso, o governo precisa desenhar um projeto global e oferecer aos empresários
para, assim, reacender a economia local”, opina Maia.
A intenção do GDF é revitalizar
toda a W3 Sul e Norte, além dos setores de Setor de Rádio e TV Sul, Hospitalar
Sul e Comercial Sul. “Isso demanda o desenvolvimento de projeto mais
abrangente, que deve englobar um conjunto de medidas de requalificação do ponto
de vista estrutural e de todo o planejamento urbano. Trata-se de um processo
integrado que pensa uma série de medidas, inclusive do ponto de vista da
mobilidade e segurança”, explica o secretário de Desenvolvimento Urbano e
Habitação, Mateus de Oliveira.
De acordo com o chefe da pasta, o
governo estuda duas alternativas para desenhar as propostas das demais quadras
da W3: desenvolver um projeto específico em conjunto com as secretarias ou
conseguir incluir a parte referente à revitalização do espaço dentro da
Parceria Público-Privada (PPP) referentes às obras para instalação do Veículo
Leve sobre Trilhos (VLT).
A implementação da nova modalidade
de transporte — que prevê a ligação entre os terminais Asa Sul, Asa Norte
e aeroporto, com extensão de 22km — é outra promessa que o Executivo
local garante que vai tirar do papel. O empreendimento está na fase de
elaboração de estudos e cinco empresas estão responsáveis pelos trabalhos. O
melhor estudo, selecionado a partir de critérios técnicos, vai servir de base
para a licitação do empreendimento por meio da PPP. A expectativa do governo é
de que as obras do VLT na W3 comecem ainda este ano e sejam concluídas em três
anos.
(*) Bruna Lima – Fotos: Marcelo
Ferreira/CB/D.A.Press – Correio Braziliense
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